Às Quintas-Feiras (4)

DO TEXTO:





Por: Carlos Alberto Alves
Quando sempre falo da Censura, sinto fortes arrepios. Recordo que, ao lado de um dos meus primeiros locais de trabalho (não pretendo especificar), funcionava uma secretaria do governo e lá se encontrava um dos censores. Por vezes, via passar o “estafeta” com as provas do jornal para fazer a entrega ao dito cujo e pensava: “lá vai um dos meus artigos”. Alguns escaparam outros não. Estes voltavam com o “X do lápis azul”. Nessa altura, comentava muito baixinho: f. de p... do Salazar. 
Tinha um amigo meu da PIDE (a polícia do Salazar, muito temida), Fernando Costa Pereira, que sempre me dizia: “rapaz, toma cuidado com o que escreves nas entrelinhas. Dá para perceber que não gostas dele (ele, claro, o Salazar)”. E eu, em surdina, respondia: “Fernando, que pena, um homem tão bom como tu és, servires esse f... de p... do Salazar”. Mas sabia que o Fernando não procurava fazer mal a ninguém. Inclusive, quando se apercebia, no café, que alguém, embora baixinho, tecia desagradáveis comentários sobre o ditador, afastava-se para não ouvir. Todos nós, amigos, respeitávamos a posição profissional do Fernando Costa Pereira. 
Ele próprio, no íntimo, reconhecia que era segurança de um (volto à carga) grande f. de p... 

Em 2002, quando fui fazer a cobertura da Maratona de Nova Iorque, passei algumas horas em casa de uma sobrinha do Fernando. Tomei conhecimento que a tia (mulher do Fernando) e o primo (começou a estudar na Casa Pia de Lisboa) rumaram para Boston e que o Fernando ficou na (sua) “velha Lisboa”. Na verdade, Estados Unidos não era para ele. Hoje, por onde andará o Fernando? Ainda faz parte do rol dos vivos? Não tenho, atualmente, a mínima ideia.

No Campo do Tarrafal (Cabo Verde, que não visitei por impossibilidade), esteve um dos fundadores do “meu” jornal “A Bola”. O MESTRE Cândido de Oliveira, figura que ainda hoje é recordada pela sua capacidade e pelo fato de ter sido um dos mais declarados anti-salazarista. Por isso, foi parar ao Tarrafal como preso político. Tarrafal conhecido pelo “Pântano da Morte”. Depois do 25 de Abril, um grupo de jornalistas ilustres, em homenagem aos que lá morreram e aos que por lá passaram (alguns ainda estão vivos), visitaram o Tarrafal. A partir daí, muito se escreveu sobre o Tarrafal. Na altura, as imagens televisivas falaram por si.

Só espero que o fantasma do Salazar não volte a Portugal. Comenta-se, ironicamente, que ele anda pra lá e pra cá. Melhor: na democracia de hoje, também há a tal Polícia Judiciária, que dizem ser semelhante à PIDE do Salazar. Recentemente, falei da Censura interna pós-25 de Abril. Será que existe alguma ligação com estes outros... f... de p...?!

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