"As relações políticas bilaterais são excelentes. Haverá nichos para músicas específicas,
e a música brasileira, e a portuguesa até, certamente conseguirá ocupar um deles.
Mas a indústria musical indiana é dominante. Nem Roberto Carlos é referência na Índia."
Jorge Roza Oliveira
Por: Carlos Alberto Alves
Quando convidei o Embaixador de Portugal na Índia, Dr. Jorge Roza Oliveira, para marcar presença no Portal Splish Splash, comentei, na sequência do nosso bate-papo informal, que tinha passado pelo jornal “A Bola” vinte anos e oito pelo concorrente “Record”. Logo, com aquele espírito de saudável malícia, o Dr. Jorge Roza Oliveira, atalhou: “então foram vinte anos no Benfica (“A Bola”) e oito no Sporting (“Record”). De fato, é o que muito se apregoa em Portugal: A Bola=Benfica e Record=Sporting. Se passasse este pensamento (de muita gente, sublinho) para os dois matutinos da ilha Terceira, por onde passei, teríamos: “Diário Insular”=Benfica e “A União”=Sporting. Para desagrado do administrador do Portal Splish Splash, o Porto não está aqui. Perdão vai estar por isto: colaborei dois anos no jornal “O Jogo”. Por conseguinte, temos: “O Jogo”=Futebol Clube do Porto. Mas, se fossemos seguir os emblemas dos respectivos diretores, tínhamos, por exemplo: “A Bola”=“Os Belenenses”. É que Vítor Serpa jogou andebol no clube de Belém e o pai (Homero Serpa, aposentado de “A Bola”), inclusive, esteve ligado à equipa técnica dos “azuis” na época do Joaquim Meirim. Com a saída deste, Homero Serpa fez dupla com Félix Mourinho, pai do José Mourinho, atual técnico do Real Madrid.
E depois de tanto darmos “à bola”, vamos passar à estampa as declarações do Embaixador de Portugal em Nova Deli:
CAA – Há quanto tempo se encontra na Embaixada de Portugal em Nova Deli?
JRO - Chegámos em finais de fevereiro, apresentei Credenciais a 1 de abril, estamos há 8 meses.
CAA – Há sempre, nestas circunstâncias, a pergunta da praxe: um português natural de onde?
JRO - Sou alfacinha. De Lisboa, freguesia de S.Sebastião da Pedreira, mas de um hospital que já não existe, o Hospital Alemão.
CAA – Goa, Damão e Dio, que estiveram na origem de um conflito que opôs Portugal à União Indiana. Essa situação hoje já não é comentada e, como tal, as relações entre os dois países são estáveis, cremos nós. Está de acordo?
JRO - Completamente. As relações políticas bilaterais são excelentes. Olhamo-nos nos olhos como amigos.
CAA – Inicialmente, sentiu dificuldades para se adaptar ao regime indiano, em face de uma cultura totalmente diferente?
JRO - Eu já conhecia a Índia, não vim à procura do desconhecido. Embora cada dia aqui seja uma descoberta...
CAA – Por exemplo, como são encarados os portugueses e porque não também os brasileiros (que devem ser poucos) que residem em Nova Deli?
JRO - Acho que muito bem. Há uma grande empatia, pelo menos entre portugueses e indianos, é o que sinto sempre.
CAA – A Embaixada de Portugal tem cumprido a preceito com o apoio aos portugueses que enfrentam maiores dificuldades, se na realidade isso acontece...?
JRO - Felizmente não tem havido casos desses, mas estamos atentos a todos os portugueses que por aqui passem. Na semana passada demos guarida a um casal português que está a dar meia-volta ao mundo de bicicleta.
CAA – Como o nosso Portal Splish Splash está ligado à música, na Índia, basicamente em Nova Deli o centro das atenções, ao que sabemos não se divulga a música estrangeira. Isto significa que há rigor para que essa mesma divulgação incida no que existe internamente, ou seja, nos valores do próprio país. Será assim?
JRO - Sinceramente não sei as razões. Haverá nichos para músicas específicas, e a música brasileira, e a portuguesa até, certamente conseguirá ocupar um deles. Mas a indústria musical indiana é dominante.
CAA - Pelos vistos, nem o Rei Roberto Carlos é referência na Índia?
JRO - Nem ele.
CAA – Mas sabe-se, também, que não há fronteiras para a “linguagem musical”. Os indianos ainda não chegaram a esta realidade?
JRO - A música indiana é ouvida no Brasil? Acho que não... Essa sua ideia tem dois sentidos.
CAA – Em Portugal, o senhor Embaixador tinha a noção real daquele que é considerado o maior cantor da América do Sul e um dos melhores à escala mundial?
JRO - Todo o português sabe quem é Roberto Carlos.
CAA – Por aquilo que conhece, acha que um show do Rei em Nova Deli resultaria em termos de presença de público?
JRO - Depende da forma como seria apresentado. Mas o meu 'feeling' é para um grande 'sim' à sua pergunta.
CAA – Juntando aqui Portugal e Brasil, quais os seus gostos musicais?
JRO - Impossível de responder. A música depende do momento em que a estamos a ouvir.
CAA – Em Nova Deli há boas relações entre as Embaixadas de Portugal e do Brasil?
JRO - Mais do que boas. Veja a página da Embaixada e verá os participantes num almoço hoje que juntou as duas embaixadas. O Embaixador brasileiro está de partida para o Cairo.
CAA – Passando para uma música mais complexa: gostaríamos que opinasse sobre a atual crise mundial e, sobretudo, a situação de Portugal neste contexto?
JRO - Musicalmente vai do "The End" dos Doors, para os mais pessimistas, até ao "Crisis? What Crisis?" dos Supertramp, que parece ser a postura dos decisores.
CAA – A Índia sentiu fortemente o peso dessa mesma crise, ou por aí apenas uma “nuvem passageira”?
JRO - A crise de 2008 foi nuvem passageira, graças ao enorme mercado interno indiano. Nesta, e caso isto se agrave, as consequências serão mais nefastas. A bolsa em Mumbai já dá sinais disso, algum desinvestimento também.
Por: Carlos Alberto Alves
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