Rapidinho, rapidinho, rapidinho

DO TEXTO:





Por: Carlos Alberto Alves


Podemos medir o tempo de muitas formas, normalmente em segundos ou frações de segundo, minutos, horas ou dias, para não referir os meses e anos de calendário. Mas há uma unidade de medida, que não tem duração certa, mas que marca a história das nossas vidas, o instante. Num instante, se fratura um membro ou se rompe um vaso sanguíneo e o corpo deixa de responder de forma equilibrada. Num instante, há uma viatura que atropela com gravidade um ciclista, que seguia tranqüilo no seu exercício de fim-de-semana. Nesse instante, uma vida é destruída e uma família destroçada. A vida está marcada por instantes, que podem durar segundos ou minutos, mas




que funcionam como cortes, barreiras, que se atravessam no fluir da vida, travam os movimentos do corpo e interrompem a atividade normal de um dia. Afinal, somos tão frágeis é tão relativa essa normalidade do quotidiano. É tão inseguro o equilíbrio que julgamos ter conquistado, porque respeitamos determinadas regras, cumprimos com receituários do médico ou evitamos, de forma quase religiosa, tudo aquilo que é tido por prejudicial. A vida, em cada momento, é uma síntese, uma fusão de fatores, que se ajustam e se mantêm estáveis, mas nada está garantido por vezes sabemos como acordamos, mas desconhecemos como nos iremos deitar. Estamos cada vez mais sujeitos às alterações do ambiente, à poluição, que também ajudamos a criar, devolvida no ar que respiramos. Nos afeta o stress das organizações que criamos e somos vítimas dos alimentos pré-cozinhados ou enlatados que consumimos, supostamente produzidos para simplificar o quotidiano. Aos poucos, esquecemo-nos de viver próximo da natureza e o nosso corpo reage, saturado desse envenenamento diário. Afinal, somos tão frágeis. Num instante, aquilo que tínhamos por garantido se altera, e vemo-nos confrontados com a limitação que sempre nos condicionou, mas que aprendemos a superar, na esperança de dominá-la. Resta-nos uma única dimensão, que não se reduz à fragilidade humana, mas que a transcende, supera e resiste. O espírito, a força do ser que é capaz de enfrentar tempestades, sobreviver a catástrofes e recomeçar, quando aparentemente tudo se perdeu. Num instante, podemos perder o que tínhamos por garantido e enfrentar uma mudança de vida. Mas, qual náufrago que se debate nas águas revoltosas do mar, é sempre possível agarrar no que acreditamos e não deixar morrer o espírito de força que nos ajudou a vencer outras batalhas. Afinal o que é a vida se não uma sucessão de vitórias e derrotas, de sucessos e perdas. Enquanto brilhar essa força, nada poderá derrubar ou interromper o projeto ou a missão que cada um de nós tem neste mundo. Sem negar a fragilidade humana, todos os dias temos de reconstruir, reinventar uma nova forma de estar no mundo. E, quando um instante nos rouba esse modo de estar, até podemos ficar sem nada até podemos pensar que é impossível retomar o curso normal da vida. Mas, aos poucos, como chama que o vento não apaga, renasce da força do espírito a pessoa, que esse instante não roubou.




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4 Comentários

Comentários

  1. Já tenho dito aqui que por uma questão de princípio não costumo comentar matérias da autoria dos meus amigos colaboradores, em especial quando nelas colaboro com a inclusão vídeos e de fotomontagens alusivas ao tema, porquanto essa minha entrega está ela própria baseada na percepção que colhi do texto e como tal já é por si só um comentário (ainda que mudo) da minha parte, pese embora muitas vezes receie que essas minhas participações na matéria possam sobressair demasiado em relação à matéria propriamente dita, coisa que eu não desejo para mim mas sim para o autor na sua totalidade.
    Não é, obviamente o caso presente, porquanto este ensaio do Carlos Alberto Alves é por demais sublime que nada que se lhe acrescente em termos visuais ou audiovisuais o irá ofuscar.
    Confesso que sou um admirador dos escritos do Carlos Alberto e por certo muitos o serão por via das suas crónicas e reportagens que assiduamente publica no Splish Splash e não só. Porém, os seus escritos vão muito para além daquelas vertentes conforme já aqui tivemos a oportunidade de constatar através das várias rubricas por ele assinadas, como por exemplo “Porque Hoje é Domingo” onde podemos encontrar várias dissertações que dão que pensar como a presente intitulada “Rapidinho, rapidinho, rapidinho”, em que Carlos Alberto Alves muito nos diz num parágrafo apenas.
    É obra!

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  2. Olá Carlos Alberto!

    Meu amigo depois do comentário do meu maninho,o que vou dizer, ele disse tudo!

    Mas você brilhou mesmo neste texto.
    Porque é verdade que vivemos de instantes.
    Instantes que nos roubam a quem muito amamos, instantes que nos tiram o que conseguimos com muito suor, instantes enfim, que transtorna a nossa vida, nos deixa sofridos.

    Mas a força que o instante não conseguiu levar,nos ajuda a levantar e seguir a vida, num instante.

    Um abraço,
    Carmen Augusta

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  3. Ena, pá!
    E eu a julgar que já conhecia a minha maninha...
    Ela sempre a surpreender-me e este seu comentário é prova disso. Encheu-me as medidas.
    Gostei, maninha!
    Beijinhos e abraços do teu maninho portuga!

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  4. A vida é sempre um aprendizado, envolvida por chuva, sol, lua ou grandes tempestades.Nossa força interior faz que possamos superar todas nossas fragilidades seguindo novo caminho de fé.A vida é para ser simplismente vivida pelo fato de ser repleta de instantes. Abraços e parabens pela materia. L.f

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