“...Relembro a casa com varanda, muitas flores na janela. Minha mãe lá dentro dela...Me dizia num sorriso, mas na lágrima um aviso pra que eu tivesse cuidado. Na partida pro futuro. Eu ainda era puro, mas num beijo disse adeus ...”
Homenagear Roberto Carlos Braga com uma página especial neste jornal Folha do Espírito Santo, sem cair nas mesmices das tantas coisas escritas pelo Rei, é difícil. Mas a Redação vai tentar colocar os fatos reais, as lendas criadas em torno do artista e as curiosidades, que são muitas, de uma forma diferente. Tentar, que fique bem claro.
O dia 19 de abril de 1941 marcou o fim da rotina do pacato casal Robertino Braga e Laura Moreira Braga. Ele, relojoeiro; ela costureira. Nessa data, nascia o caçula da família: Roberto Carlos Braga, o iluminado que conquistaria o Brasil e o mundo com seu jeito romântico, mantido até hoje, é sua obstinação pelo correto.
O quarto e último filho do casal Braga nasceu numa casa modesta, no bairro Recanto, onde já moravam seus três irmãos: Lauro Roberto Braga, Carlos Alberto Braga e Norma Moreira Braga. Os primeiros acordes foram aprendidos em casa onde a mãe lhe ensinou os tons musicais além de incentivar o filho a se apresentar na Rádio Cachoeiro de Itapemirim ZYL-9, a única do sul do estado do Espírito Santo.
No Conservatório Musical de Cachoeiro, pelas mãos da professora Elaine Manhães, falecida recentemente, aprendeu um pouco mais de piano e violão. Aos onze anos, o menino tinha como ídolo na época Bob Nelson, um artista brasileiro que se vestia de cowboy e cantava música "country" em português.
Incentivado pela mãe, cantou pela primeira vez em um programa infantil na Rádio Cachoeiro de Itapemirim, aos nove anos. Apresentou-se cantando o bolero "Amor y más amor" e como prêmio pelo primeiro lugar, recebeu balas. Em algumas entrevistas, o próprio Roberto recordou “Eu estava muito nervoso, mas muito contente de cantar no rádio. Ganhei um punhado de balas, que era como o programa premiava as crianças que lá se apresentavam. Foi um dia lindo."
“.. Prá voltar e não voltei..”
Como na música de Raul Sampaio, Roberto foi para Niterói, estado do Rio de Janeiro, na segunda metade dos anos cinqüenta, e morou com uma tia.
Em 1957, Arlênio Lívio, um colega de escola, levou Roberto Carlos para conhecer um grupo de amigos que se reunia na Rua do Matoso, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Lá conheceu Sebastião (Tim) Maia, Edson Trindade, José Roberto "China" e Wellington. Formou com Arlênio, Trindade e Wellington o primeiro conjunto musical, os "Sputniks".
Certa vez, ele precisava da letra de "Hound Dog" - e o grande fã de Elvis Presley daquela turma de amigos era Erasmo (Carlos) Esteves. Desta forma, Roberto Carlos conheceu aquele que se tornaria o maior parceiro musical.
Roberto foi convidado por Carlos Imperial a se apresentar no programa musical "Clube do Rock", da TV Tupi. Carlos Imperial costumava apresentar Roberto Carlos como o "Elvis brasileiro" e Tim Maia como o "Little Richard brasileiro". No final daquela década, Roberto gravou alguns compactos e iniciava sua carreira oficialmente.
A Jovem Guarda
Em 1963, o cantor novamente esteve nas paradas de sucesso com o LP É Proibido Fumar, em que, além da faixa-título, destacou-se a canção "O Calhambeque". Assim nascia a Jovem Guarda.
Conhecido nacionalmente, Roberto Carlos começou a apresentar o programa Jovem Guarda em 1965, da TV Record, ao lado de Erasmo Carlos e Wanderléa. O programa popularizou ainda mais o movimento e consagrou o cantor, que se tornou um dos primeiros ídolos jovens da cultura brasileira.
Em 1966, Roberto Carlos apresentou os programas "Roberto Carlos à Noite", "Opus 7", "Jovem Guarda em Alta Tensão" e "Todos os Jovens do Mundo", todos de vida efêmera e da TV Record.
Internacional
Em 1968, Roberto Carlos se tornaria o primeiro e único brasileiro a vencer o Festival de San Remo (da Itália), com a canção "Canzone Per Te", de Sergio Endrigo e Sergio Bardotti, e se casaria, em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), com Cleonice Rossi, mãe dos filhos Roberto Carlos Segundo, mais conhecido como Dudu Braga, nascido em 1969, e Luciana, nascida em 1971.
A mudança de estilo do cantor viria definitivamente em 1969. O álbum "Roberto Carlos" foi marcado por um maior romantismo em lugar dos tradicionais temas juvenis típicos da Jovem Guarda.
A partir da década de 1970, marcaria o fim da Jovem Guarda e consolidaria o prestígio de Roberto Carlos como intérprete romântico no Brasil e no exterior (Estados Unidos, Europa e América Latina). O cantor seria o artista brasileiro que mais venderia discos no país. Várias das suas canções foram gravadas por artistas como Julio Iglesias, Caravelli e Ray Conniff.
Em 24 de dezembro de 1974, a Rede Globo exibiu um especial do cantor, que obteve um enorme índice de audiência. A partir daquele ano, o programa seria veiculado anualmente, sempre no final do ano.
Ganhou em 1988 o Grammy de Melhor Cantor Latino-americano e, no ano seguinte, atingiu o topo da parada latina da Billboard.
Em 1994, Roberto Carlos conseguiu bater os Beatles em vendagens na América Latina, vendendo mais de 70 milhões de discos. Roberto ganhou o Grammy Latino pelo melhor álbum de música romântica (Álbum “Roberto Carlos”, 2005)
Marcas do destino
O seu jeito tímido, de poucas palavras, frases repetidas, talvez se explique pelas cobranças que a vida lhe fez ao longo das décadas. Começando pelo acidente ferroviário sofrido na infância descrito na música “O Divã” – “...Relembro bem a festa, o apito E na multidão um grito O sangue no linho branco..”
O filho que nasceu cego, ou praticamente isso, os amores que, na maioria das vezes, terminaram de forma dolorosa. Os pais que se foram, a filha de coração Ana Paula. As coincidências das mortes de mãe e filha em datas próximas ao dia de seu aniversário.
Mas o Rei segue firme e aos setenta anos tem uma agenda corrida e concorrida para apresentações no Brasil e no exterior. O Zunga de 1941 continua o mesmo no Rei de 2011.
Filmografia
+ Roberto Carlos a 300km/h
+ Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa
+ Roberto Carlos em
Ritmo de Aventura
Curiosidades
+ É o artista latino-americano que teve mais discos vendidos e o cantor brasileiro que mais vendeu discos no mundo
+ Juntando todos os discos de ouro e discos de platina que já ganhou, é possível dar uma volta completa em torno do Maracanã
+ Roberto Carlos é o único estrangeiro a ganhar o Festival de San Remo na Itália.
+ Carlos Imperial apresentou Roberto Carlos a uma turma da bossa-nova que se reunia num apartamento na Avenida Atlântica. Disse, na ocasião, que Roberto seria o futuro príncipe da bossa-nova. Acompanhado do guitarrista Gato, ao violão, Roberto cantou Brotinho Sem Juízo.
+ A primeira apresentação pública de Roberto Carlos lhe rendeu 500 cruzeiros de cachê. Foi no programa Chianca de Garcia, na TV Rio. Depois, se apresentou no Clube do Rock, de Imperial, e arranjou um contrato de 8 meses para ganhar 9 mil cruzeiros mensais na Boate Plaza.
+ Roberto e Erasmo Carlos se conheceram no ano de 1958, numa lotação que saía da Tijuca, mas a parceria dos dois só se concretizaria em 1962, com a música "Parei na contramão”.
+ Durante o namoro com Magda Fonseca, no início da carreira, Roberto Carlos escreveu "Não quero ver você triste", "A volta" e "Quero que vá tudo pro inferno" - esta última na ocasião em que a amada passava uma temporada nos Estados Unidos.
+ Em 1994, Roberto Carlos conseguiu bater os Beatles em vendagens na América Latina, vendendo mais de 70 milhões de discos.
+ Roberto Carlos é chamado de rei desde a jovem guarda, recebeu este apelido de um fã da plateia no programa
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