Uma família interessante que passou pelos Açores

DO TEXTO:




Por: Carlos Alberto Alves
jornalistaalves@hotmail.com
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Com prefácio de Maria Filomena Mônica e seleção de textos e notas de Paulo Silveira e Sousa, foi apresentado nas três cidades «históricas” dos Açores o livro «Os Dabney – uma Família Americana nos Açores». Uma iniciativa da FLAD, visando a divulgação dos «Anais da Família Dabney no Faial» que, nos três volumes – 1797 páginas… – da versão portuguesa lançada pelo IAC entre


2004 e 2006, assustavam muita gente.... Agora um conjunto de textos escolhidos (ainda assim, de 513 páginas) da história açoriana desta família de Boston brahmins, proeminente durante três gerações na sociedade da Horta, em funções consulares, no comércio exportador e na actividade de ship-chandler. O Faial e a Horta, cenário quase permanente dos «Anais», aparecem-nos ali como centro de um mundo – o amplo mundo do Dabney que, sem telégrafo e com navegação à vela, ia dos Estados Unidos da América a Valparaíso, no Chile, ao norte da Europa e às Canárias. Nessa medida, perpassam ali as lutas liberais portuguesas, a guerra da secessão norte-americana, muito da história mundial dos três primeiros quartéis do século XIX, numa visão doméstica, mas nunca provinciana, a demonstrar que a centralidade destas ilhas, mais do que a sua localização geográfica, decorre, sobretudo da cultura, do empreendedorismo e da capacidade de relacionamento externo de quem nelas vive. De acordo com os seus valores, os Dabney cultivavam a disciplina, a compostura, o interesse pela literatura e as aquisições da ciência, a par de uma viva atenção aos negócios de que confortavelmente viveram e, nesta perspectiva, ao meio que os rodeava. Um meio simpático e pobre (para eles, de bens materiais e de espírito) que naturalmente os determinaria a mandar para Harvard os filhos na idade da educação superior – e a abandonar o Faial quando a sua atividade económica passou a menos lucrativa, mormente por concorrência que lhe foi feita. Muita coisa nos «Anais» dos Dabney não é propriamente exaltante para os nossos brios nacionais. Porém não faz mal sabê-lo, que mais não seja senão para entender como o progresso tem de partir de um impulso endógeno articulado com o relacionamento externo: o que de algum modo viria a acontecer nos Açores – só que muito tempo depois… E isso, que está longe de ser tudo, só redobra o interesse em conhecer esta obra, para lá do que ela nos testemunha em termos de relacionamento humano e faz reviver em panorâmica local e do mundo atlântico de então.

NOTA 1 - Dados de um texto do historiador Álvaro Monjardino.

NOTA FINAL - Tenho pela ilha do Faial um carinho muito grande. Visitei a ilha diversas vezes em reportagem. Depois, em 1987, quiçá por ironia do destino, fui o primeiro treinador de futebol profissional a passar pela ilha, tendo sido campeão da AF da Horta pelo Sporting, o clube que acreditou nas minhas potencialidades. Mais tarde, em 2003, registei mais uma passagem pelo Faial, ou seja, um ano antes de vir para o Brasil. Aliás, foi na cidade da Horta que comecei a cogitar na hipótese de vir ao Brasil de férias. Lá na ilha, muitos brasileiros que trabalhavam (ainda trabalham, por certo, alguns) na reconstrução me passaram algumas importantes dicas sobre este seu país. Do Faial conheço muita estória, para além dos Dabney, foi no Café Internacional, na cidade da Horta (capital da ilha), que o Dr. Vicente de Melo (então professor na cidade), aproveitando a presença da deslocação do Casa Pia Atlético Clube, que foi acompanhado por esse extraordinário homem chamado Cândido de Oliveira, preparou uma reunião para o lançamento do Jornal “A Bola”, jornal esse que eu, muito tempo depois, com toda a felicidade, servi durante vinte anos. Acresce que “A Bola”, o jornal de maior tiragem e expansão em Portugal, tem como seus fundadores Cândido de Oliveira, Dr. Vicente de Melo e Tenente-Coronel Ribeiro dos Reis, todos falecidos. No jornal, hoje, estão as filhas de Vicente de Melo e de Ribeiro dos Reis, respectivamente, a Drª. Maria Hermínia Agra Lima e Maria Margarida Ribeiro dos Reis, pessoas por quem eu nutro enorme consideração.

Hoje acompanho regularmente o que se passa no quotidiano faialense e fiquei altamente preocupado ao saber que, mais uma vez, e muito embora sem causar vítimas, a ilha foi sacudida por mais um abalo telúrico, na escala cinco Mercalli. Há uns anos atrás, em nove Julho de 199 , apanhei com o terramoto que fez muitos estragos na ilha (casas, igrejas, enfim, edifícios pouco resistentes a estes fenômenos da natureza) e também algumas vítimas, gente idosa que não teve tempo de sair de casa. Já havia passado por idêntica situação em um de Janeiro de 1980 na ilha Terceira, mas este terramoto foi mais devastador, fazendo 72 mortes e cerca de 400 feridos.

É por isso que digo aos brasileiros que eles não sabem o que é a terra a tremer, se bem que sofrem com o problema das enxurradas que, nos últimos tempos, têm ceifado centenas de vidas.
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