Amália Rodrigues e Roberto Carlos “dois monstros sagrados”

DO TEXTO: O que eu mais gostaria de ter assistido era, de facto, a um espectáculo conjunto entre Amália Rodrigues e o nosso King Roberto Carlos.
O que eu mais gostaria de ter assistido era, de facto, a um espectáculo conjunto entre Amália Rodrigues e o nosso King Roberto Carlos. Melhor dizendo: a nossa Diva do Fado e o mais consagrado cantor brasileiro de todos os tempos.




Carlos Alberto Alves

O que eu mais gostaria de ter assistido era, de facto, a um espectáculo conjunto entre Amália Rodrigues e o nosso King Roberto Carlos. Melhor dizendo: a nossa Diva do Fado e o mais consagrado cantor brasileiro de todos os tempos. Teríamos, assim, fado e canção de mãos-dadas. De Roberto Carlos, aqui no Splish Splash, já muito tenho escrito. E muito mais vou escrever neste espaço de tempo que ainda me falta para encerrar definitivamente a carreira. Será que vou conseguir? Esta é, também, a grande dúvida da maioria das pessoas que me acompanham neste trajecto que, no próximo dia 10 de Março, atinge os 47 anos. Mas até lá ainda vou fazer correr muita tinta. Quanto ao resto, depois se verá.

Para recordar, e trazendo à estampa os pontos que considero os mais importantes na data presente, eis uma entrevista que me foi concedida por Amália Rodrigues, numa altura em que eu engatinhava no jornalismo. Levava apenas quatro anos de carreira. Depois, fui crescendo, crescendo, até chegar ao almejado patamar.

Foi em 1968 que entrevistamos, na sua casa da Rua de São Bento, no seu salão de visitas, a Grande Amália Rodrigues, a embaixatriz nacional da canção. Amália, que nasceu em Lisboa, confidenciou-nos: - Nunca pensei vir a cantar, foram os vizinhos que, ouvindo-me tantas vezes, me entusiasmaram com insistência, a ponto de ter sido apresentada ao empresário do “Retiro da Severa”, onde iniciei a minha carreira em 1940. Como vê, foi apenas uma circunstância da vida e não idealismo que me fez cantar. Acerca da diferença entre o fado castiço e o fado canção, (tema ainda actual) disse-me: - Existe uma grande confusão acerca do castiço e da canção a ponto de eu própria não saber qual o verdadeiro. Quando iniciei a minha carreira, já há muito se cantava o fado-canção, havia até acompanhamento e melodia mais limitado, assim como o número de compositores. Há o modelo, o meio antigo e outro actualizado. 

Como todas as coisas no mundo, e assim como as pessoas, a própria natureza nos ensina. Resumindo a minha opinião, o que realmente existe é a definição de fadistas.

Amália, que até àquela data (1968) não sabia quantos discos já gravara, disse-me se acaso não tivesse sido cantora, falando no mundo da fantasia, teria sido bailarina. Dos seus êxitos recordou a sua estadia no “Olímpia”, onde nunca pensou lá poder chegar, onde obteve estrondoso êxito, como no “Eldierg”, Espanha, em New York, onde actuou acompanhada pela orquestra filarmónica daquela cidade. Surpreendera a Diva o facto de ter visto o seu nome e fotografia na enciclopédia “Laurouse”, que insere os acontecimentos mais importantes do mundo. Amália Rodrigues participou nos filmes “Fado Corrido”, “Ilhas Encantadas”, “Antigo Fado“, ”Vendaval Maravilhoso”, “ Sol e Toiros”, soma muitos outros grandes êxitos, que ainda hoje são recordados como “Fado Ciúme”, e “Vou dar de beber à dor”. Eis a reacção dos autores estrangeiros, quando ouviram cantar a Diva. “Mas você é tão pequenina e no palco parece tão grande. Uma breve “Nota” sobre a inesquecível Amália, que continua através da sua incomparável voz. NOTA – Quando telefonei para marcar a entrevista e perguntei pela Senhora D. Amália, ela ripostou: - Não sou D. Amália. Trate-me por Amália.

NOTA FINAL - Era eu jovem, sem pensar ainda em ser jornalista - naquela altura, queria ser marinheiro. Coisas do tempo... -, quando vi Amália Rodrigues ser recebida, em Angra do Heroísmo, como se fosse, por exemplo, e constituindo um paralelo, uma princesa. Uma grande multidão recebeu Amália que viajou no Carvalho Araújo, foi recebida no Cais da Cidade e, depois, a pé percorreu as principais artérias citadinas, nomeadamente as ruas Direita e da Sé. Janelas com colchas regionais e flores, recebendo entusiasticamente a Diva do Fado. Recepção igual, só me lembro, em 1961, quando o Benfica, que nesse ano se sagraria Campeão Europeu, foi a Angra do Heroísmo disputar um encontro com a sua delegação, o Sport Clube Angrense. E o Benfica entrou na Rua Direita às duas horas da madrugada. Ninguém arredou pé, como, aliás, sucedeu em relação a Amália Rodrigues.
Mais: não me lembro de um funeral com tanta gente, de todos os quadrantes, como foi o de Amália Rodrigues. Vi Eusébio, o “pantera negra”, chorar copiosamente pela sua morte. Ele que sempre tratou Amália por “Dona Amália”.

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NOTA SPLISH SPLASH: 
Rei e Rainha cantam as mesma músicas – clique aqui.

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2 Comentários

Comentários

  1. Meus prezados e ilustres Armindo e Carlos Alberto,

    Certo que deixaram-me por demais emocionado, ouvindo Dona, digo, a Rainha Amália Rodrigues e o nosso querido Rei Roberto Carlos.

    Enriqueci-me ouvindo ambos cantar as mesmas músicas, tendo em vista que pude observar com mais propriedade o que realmente é o dom de cada um.

    O que pude tirar de conclusões é que ambos são inigualáveis em suas interpretações.

    Interessante é que se me perguntarem o que li acima, no seu referido texto, falo com certeza: Não sei! Mas, sei que o clique aqui, deixou-me em lágrimas quando ouvi de ambos, Canzone Per Te e Nem às paredes confesso.

    Obrigado a vcs dois por este belo trabalho!

    Ambos são dois gajos fixes!

    Abraços Fadocarlísticos!

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  2. Nao tive o prazer de os ouvir cantar juntos ao vivo. Procurarei ouvi-los em alguma gravação de hoje. Adoro-os.

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