Projeto Roberto Carlos - O Mensageiro da Paz

DO TEXTO:

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Por Rosemeire Barbosa

Na qualidade de professora da Escola Municipal Prof.ª Olívia Capranico, no Bairro Dedini em Piracicaba, sempre tive para mim que a obra de Roberto Carlos poderia ser de grande valia para os meus alunos em termos pedagógicos. Daí ter incluído em meu planejamento anual o que designei por “Projeto Roberto Carlos – O Mensageiro da Paz” que se tem revelado bastante frutífero na medida em que, aproveitando as comemorações dos 50 anos de carreira do Rei, todas as 22 crianças entre os 6 e os 7 anos de idade do 1.º Ano do Ensino Fundamental 2009/2010, receberam com grande satisfação a proposta de em equipe trabalharem no sentido de apresentarem um projeto de homenagem, projeto a que se dedicaram com grande entusiasmo e que, entre outras iniciativas, resultou em cinco vídeos que constaram na exposição “Roberto Carlos – 50 anos de carreira” levada a ser apresentada na Oca, Parque Ibirapuera, São Paulo, e que podem ser visualizados no Splish Splash Blog, através do link
ttp://splishsplashblog.blogspot.com/2010/03/tributo-roberto-carlos-alunos-de.html


SITUAÇÃO GERADORA

Esse projeto surgiu do desafio de desenvolvimento de ações que facilitassem a inserção dos alunos numa dinâmica capaz de resgatar os valores que muitas vezes são colocados de lado, mas fazem a diferença no ambiente em que vivemos, e trazem bem estar, satisfação, prazer, produtividade, criatividade e saúde mental e corporal. Essas ações estão voltadas para transformar velhos hábitos e costumes, em energia canalizadora e imobilizadora dos bons costumes, de forma a gerar boas ações que baseiam em alguns princípios básicos como: liberdade de expressão, autonomia, responsabilidade, honestidade, solidariedade, justiça, alegria, entusiasmo, amizade, valorização ao próximo, criatividade, compromisso com a transformação social, tendo como intercâmbio sempre o diálogo.

Envolver os alunos e até a comunidade local em atividades práticas e reflexivas, demonstra espírito participativo, construtivo e solidário, respeitando as diferenças e a capacidade uns dos outros. Professores como educadores para a paz, revela-se como uma sólida contribuição à defesa dos direitos fundamentais do ser humano e à melhoria das relações interpessoais. Criar um projeto onde a educação para a paz dentro da escola possa mudar comportamentos de rebeldia através de situações didáticas significativas possibilitando a interação onde tenham um produto final compartilhado, é promover valores e atitudes visando o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo. A violência nas escolas se caracteriza por atos de indisciplina, brigas, agressões, depredações, etc. A compreensão de novos paradigmas privilegia a via educativa entendendo a educação, como um dos mapas sociais que possibilitam orientações novas, reorientações e mudanças de posicionamentos.

JUSTIFICATIVA

Diz um provérbio chinês: “A música é a harmonia entre o Céu e a Terra”. Desde os primórdios da humanidade, a música é utilizada como forma de expressar e refletir sentimentos e costumes comuns a uma determinada coletividade. Isso significa ampliar horizontes e exerce uma forte atração sobre as pessoas. Oportunizar esse contato é estender as relações desse fenômeno com o seu contexto cultural, histórico e social. Ao criar um projeto, é importante nortear os objetivos e competências a serem desenvolvidos. Sendo assim, levar para a sala de aula material pedagógico que permita trabalhar de forma lúdica e prazerosa, como textos tirados de jornais, revistas, músicas, vídeos (clipes musicais e filmes), ajuda a desenvolver a curiosidade e o interesse no tema abordado. Outro aspecto importante nesse processo é o papel ativo dos alunos e professor, que interpretam e conferem sentido aos conteúdos, a partir de seus valores previamente construídos e de seus sentimentos e emoções, propiciando condições para que desenvolvam sua capacidade dialógica e reconheçam o outro com direitos iguais, o que significa que desenvolvam atitudes coerentes em relação ao que deve ser ensinado ou reforçado na escola.

OBJETIVOS

- Conhecer a biografia e o repertório musical do cantor Roberto Carlos.
- Estimular a capacidade de reflexão sobre as mensagens contidas nas músicas do cantor, ajudando nas relações interpessoais.
- Trabalhar os valores e atitudes (socialização, respeito, união, cooperação e não violência) dentro das atividades propostas.
- Promover o acesso à cultura mediante as experiências vivenciadas pelo grupo.
- Homenagear o cantor Roberto Carlos pelos 50 anos de carreira.
- Compreender a música como forma de expressar sentimentos;
- Reconhecer a leitura como fonte de informação e produção.
- Produzir textos simples como mensagens e recados.
- Trabalhar o movimento e expressão corporal através da música.

METODOLOGIA

A metodologia adotada abordou as temáticas de maneira lúdica e prazerosa, privilegiando recursos dinâmicos como músicas, pesquisas na internet (com a família e professora), confecção de cartazes com paineis de fotos antigas e recentes trabalhando a linha do tempo nesses 50 anos de carreira. Na roda da conversa, momento de socializar as informações, onde era discutido as mensagens das músicas trabalhadas, assim como, as notícias, recortes, biografia e comentários dos familiares sobre o desenvolvimento do trabalho.

ÁREAS DO CONHECIMENTO TRABALHADAS NESSE PROJETO:

LINGUAGEM ORAL - Socialização das pesquisas solicitadas sobre a biografia do cantor e repertório musical (mensagens das músicas), utilizando os recursos necessários ao diálogo como ouvir atentamente, respeitar a fala dos colegas e professora e expor idéias e opiniões sobre o tema.

LINGUAGEM ESCRITA - Mensagens/recados produzidos pelos alunos, com a intervenção da professora na escrita correta das palavras.

ARITMÉTICA - Linha do tempo – fotos, notícias, recortes de jornais e revistas sobre os 50 anos de carreira. Construção, leitura e quantificação dos numerais até 50.

CONHECIMENTO DE MUNDO - Estudo da biografia do cantor desde a infância até os dias atuais e sua importância na cultura brasileira.

MÚSICA - repertório musical

MOVIMENTO - Coreografia

ARTES - Expressão corporal

AVALIAÇÃO - Observação do desempenho da turma ao longo das atividades propostas (pesquisas, interação, socialização, mudança de posicionamentos, contribuição no mural).

PRODUTO FINAL - Produção de um vídeo documentando todo o processo do trabalho desenvolvido sobre o cantor Roberto Carlos, para exposição e apresentação através de data show, na Feira Cultural promovida pela escola cujo público alvo é a comunidade local.

O REI EM ARTEMIS NOS ANOS 70

Buscando novas notícias para levar aos meus alunos, soube que no passado Roberto Carlos teria vivido num rancho em Artemis. No momento, nem liguei os fatos, relacionando Artemis a qualquer outro ponto do mapa do nosso imenso Brasil. Porém, conversando com meu irmão, descobri que a Artemis que eu tinha lido era, na verdade, o bairro Artemis, em Piracicaba-SP.

Fiquei surpresa e emocionada, porque já não era uma realidade tão distante, a nível nacional e internacional. Roberto Carlos esteve aqui e conviveu com muitos piracicabanos. Empolgada, comecei a buscar informações que me ajudassem a chegar ao referido rancho.

Nunca fui até Artemis e não conhecia ninguém de lá. O mais interessante é que, de dez pessoas que interpelei se tinham conhecimento que em outros tempos Roberto Carlos tinha vivido num rancho em Artemis, nove desconheciam. Isso aguçava mais ainda a minha curiosidade a ponto de querer ir até lá e começar a perguntar aos moradores tal acontecimento. Então ocorreu o inesperado. Veio a informação de uma senhora que conhecia o dono do rancho e morava próximo a Artemis, em uma chácara. Ela me passou o nome e telefone do senhor Salvador Cortese, dono do rancho. No mesmo dia liguei e expliquei sobre o projeto que desenvolvia e quanto seria importante para a cidade resgatar essa história desconhecida por muitos piracicabanos. O senhor Cortese mostrou-se resistente em divulgar sobre a estadia de Roberto Carlos no seu rancho, pois em quarenta anos sempre se manteve no anonimato, ou seja, não usou a amizade dos dois para se promover, pelo contrário, prestigiava o artista, mas nutria grande amizade e respeito à privacidade do amigo. Somente os moradores mais antigos de Artemis têm conhecimento de sua amizade a Roberto Carlos e sobre as vindas dele para cá nos anos 70. Argumentando sobre a importância histórica e em se tratar de uma homenagem aos 50 anos de carreira, ele concordou em mostrar as dependências do rancho e algumas fotos tiradas na época. Agendando a minha visita, mal cabia em mim de ansiedade para a chegada do referido dia. Fiz a filmagem do trajeto e ao chegar e contemplar o portão, cantarolei a minha música preferida do Rei: “O Portão”. Ao adentrar, fui muito bem recebida e talvez vendo tamanha empolgação que apresentei, consegui que o Senhor Cortese se mostrasse diante das câmaras e fizesse esse relato tão emocionante sobre aquela época. O que observei em todos depoimentos foi o brilho nos olhos ao falarem do Roberto Carlos. A amizade, amor, respeito e principalmente, a saudade do tempo em que conviveram juntos. Isso vai muito além da admiração. Eles são verdadeiros apaixonados pelo ser humano que o Roberto Carlos demonstrou ser com sua simplicidade e generosidade.

Nos anos 70, o dono do rancho era João Cortese, pai do senhor Salvador, por quem Roberto tinha grande apreço, tanto que iam também para a casa de Roberto no Morumbi, em São Paulo, na ocasião. O filho do Seu João, também acompanhava a família nessas visitas. Hoje, depois de quarenta anos, ele continua a ter contato com Roberto Carlos. De acordo com ele, Roberto morou durante seis anos no rancho com sua família. Ele cumpria sua agenda de shows e se hospedava no Grande Hotel de São Pedro, cidade próxima ao bairro Artemis. Enquanto isso, sua esposa Nice aguardava seu retorno no rancho com os filhos, Ana Paula, Segundinho e Luciana. Um pouco antes de se separarem, Nice comprou o rancho ao lado, mas nem chegaram a morar ali por conta da separação. Nessa época Artemis possuía somente duas ruas. Era um local mais afastado da cidade e com poucos moradores. Hoje, devido a seu desenvolvimento, tornou-se um Distrito.

Da reportagem em vídeo, na segunda parte, o depoimento de Salvador Cortese, filho de João Cortese e dono do rancho desde que o seu pai falaceu.

Na terceira parte, o depoimento de Dona Catarina Nardo e senhor Paulo Nardo, que estavam à serviço do senhor João Cortese como caseiros do rancho e que, não raras vezes conviviam com Roberto. A pesca era um dos passatempos favoritos de Roberto e o senhor Paulo Nardo acompanhava-o com frequência nas pescarias. Essa convivência com os caseiros foi algo significativo tendo em conta que Segundinho, primeiro filho de Roberto, nasceu com uma doença na visão e o filho dos caseiros tinha também um problema semelhante e por isso juntos, buscaram diversos tipos de cura, inclusive a espiritual com Chico Xavier, também frequentador do rancho, segundo confidenciou Dona Catarina Nardo.

Na quarta e última parte, o depoimento de Cecília Surian, viúva de Beto Surian. Beto Surian foi apadrinhado por Roberto Carlos, conseguindo gravar seu primeiro compacto em 1974: Estrada Branca e Doação, com a ajuda do Rei. Beto Surian participou de vinte e dois festivais da MPB e compunha suas canções especialmente para Roberto, até que em 1994 conseguiu seu intento com a música Silêncio. Beto Surian promoveu a “Noite de Vigília,” evento filantrópico, durante cinco anos consecutivos e foi o coordenador da campanha idealizada por Roberto e Nice, denominada “Campanha do Agasalho - Eu quero que você me aqueça neste inverno”, as duas em Piracicaba, nos anos 70, conseguindo arrecadar várias toneladas de alimentos, remédios e agasalhos, doadas para as entidades sociais.

VÍDEO 1 – Chegando ao rancho em Artemis.



VÍDEO 2 – Salvador Cortese, dono do rancho.



VÍDEO 3 – Paulo e Catarina Nardo – caseiros do rancho.



VÍDEO 4 - Beto Surian - compositor de “Silêncio”.

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