Fiel à sua fórmula, Roberto Carlos comemora meio século de "emoções" com turnê internacional em 2010

DO TEXTO:
24/12-16:29 Bia Amorim, IG Rio de Janeiro “Emoções”, “Detalhes”, “Jesus Cristo, “Como é Grande Meu Amor por Você”. Ir a um show de Roberto Carlos e não ouvir seus grandes clássicos seria uma decepção para muitos. E frustração é tudo o que o cantor não quer proporcionar a seu público. Por isso, ele não muda nada: roupas, cores, maestro, orquestra e, principalmente, claro, o repertório. É a tal “fórmula do sucesso”. Simples assim? Claro que não. Reduzir apenas a essa estratégia todo o êxito inegável de Roberto Carlos acabaria resultando em uma patética tentativa de minimização do mito. Mas como explicar que milhares de fãs, ano após ano, lotem os shows do rei com uma vontade quase inexplicável de ouvir as mesmas canções que se perpetuam de geração em geração? Em 2010, o cantor prepara uma das maiores turnês internacionais de sua carreira. Um novo e grande desafio. O repertório das apresentações vai mudar? A resposta é não. O show a ser apresentado no exterior é a cópia da bem-sucedida série que marcou a comemoração dos seus 50 anos de carreira. Como é possível cantar quase invariavelmente as mesmas canções e se manter no topo? O produtor musical Nelson Motta tenta explicar: “Por que mudar? Imagina que ridículo seria se colocassem uns efeitos de rock’n’roll ou se chamassem bailarinas para fazer coreografias no palco? Seria patético! Roberto não é antigo, nem moderno. É eterno. Ele é único e se tornou parte integrante da vida brasileira”. Não dá para tirar a razão de Nelson Motta. Roberto é único mesmo! A verdade, porém, é que as convicções artísticas imutáveis do cantor não são tudo. Por trás da carreira vitoriosa de Roberto Carlos há muitos outros fatores e um dos maiores é sua estrutura de produção extremamente profissional. Turnê internacional e eventos especiais O ano em que Roberto Carlos completa oficialmente o cinquentenário de vida profissional tem sido de muitas comemorações especiais. Dezesseis cidades brasileiras receberam o espetáculo “50 Anos de Música”, o maior deles no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, com a presença de incríveis 68 mil fãs. Para manter a qualidade de suas apresentações, números expressivos, como tudo o que envolve a carreira do cantor. Três carretas percorreram cerca de 42 mil quilômetros, transportando 70 toneladas de equipamentos de som, luz, palco e camarim. “Roberto gosta de autonomia e sempre fez essa aposta em ter o seu próprio material”, revela Léa Penteado, da DC Set Promoções. O cantor computou 50 horas de vôo, cantou em torno de 35 horas e distribuiu um total de 3.456 botões de rosas vermelhas (12 dúzias a cada show) e 864 de rosas brancas (três dúzias por noite). Os números de 2010 prometem ser ainda maiores. A turnê internacional vai passar por pelo menos seis países da América: México, Estados Unidos, Colômbia, Peru, Panamá e Canadá. As datas e cidades ainda não foram totalmente definidas, mas um dos shows já pode ser considerado o ponto alto da temporada: a apresentação no maior teatro coberto do mundo – tinha que ser no maior, claro! --, o Radio City Music Hall, em Nova York. A tradicional casa de espetáculos, inaugurada em 1932, tem pouco menos de seis mil cadeiras e já abrigou grandes intérpretes como Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Sammy Davis Jr., Jose Carreras, Ray Charles e BB King. A data do show é emblemática: 19 de abril, justamente o dia em que o cantor completa 69 anos. Além da turnê internacional, três eventos especiais estão programados para 2010, todos apresentados pela Nestlé e com patrocínio do banco Itaú: a “Expo RC 50 Anos”, uma mostra completa sobre a trajetória do artista, com curadoria de Marcello Dantas, na Oca do Ibirapuera, em São Paulo; “RC Symphony”, com o homenageado ao lado de astros do rock nacional; e o show “Emoções Sertanejas”, com os principais intérpretes do gênero. “Não existe brasileiro que não tenha uma música do Roberto para marcar algum momento de vida”, exalta a apresentadora Adriane Galisteu. “Gosto muito de ‘Jesus Cristo’, uma letra que arrepia e que sempre encerra os seus shows. Ele será ídolo mesmo quando não estiver mais aqui, exatamente como aconteceu com Ayrton Senna”, compara a ex-namorada do piloto. A atriz Susana Vieira também tem opinião inflamada sobre a trajetória da carreira do Rei: “Tenho todos os discos, desde o primeiro. Posso dizer que chegou um momento em que ele simplesmente se tornou eterno. Chama-se a isso talento, carisma ou luz própria. São questões imponderáveis”. Autor da biografia não-autorizada “Roberto Carlos em Detalhes”, o jornalista Paulo César Araújo enxerga na abrangência do público do cantor uma particularidade que mostra a força de sua obra. “Ele superou a luta de classes na música brasileira. Sua música atinge a sensibilidade de um zé-ninguém e a de um Abílio Diniz. E no Brasil ninguém conseguiu isto de forma tão intensa e durante tanto tempo. Atingir a sensibilidade do povo mais simples muitos artistas conseguem. O difícil é atingir o povão e ao mesmo tempo a elite. Artistas como Chico Buarque e Milton Nascimento, por exemplo, são ouvidos por um segmento de público mais elitizado. Outros artistas como Odair José e Amado Batista atingem basicamente o público mais popular. Já Roberto Carlos é ouvido tanto por um segmento quanto por outro. Por isso ele é o rei”. "Emoções em alto mar" maior em 2010 A paixão dos fãs -- famosos ou não -- é uma marca inegável e fator importante para determinar seu sucesso, mas outro plano de Roberto ilustra bem a força do profissionalismo que o envolve. Há cinco anos o cantor topou encabeçar um projeto que revolucionou a linha de shows. Seu empresário, Dody Sirena, percebeu que o mercado de turismo náutico despontava e fez a proposta de reunir em um transatlântico, amigos e admiradores do rei para um show em alto mar, tendo como paisagem de fundo a costa brasileira. Surgia assim, em 2005, “Emoções Pra Sempre”, no navio Costa Vitória. O que pouca gente sabe, no entanto, é que a execução da ideia não fica a cargo das operadoras, como é de praxe, mas sim da própria equipe de Roberto Carlos. A DC Set Promoções criou uma agência com sistema de atendimento ao cliente especialmente para atender as demandas do projeto. Em 2008, essa nova linha de shows já estava tão consolidada, que houve uma lista de espera com mais de 500 pessoas aguardando desistências para subir a bordo. Em 2009, cinco meses antes de zarpar, todas as cabines já tinham seus donos e, num gesto ousado, as acomodações para a temporada de 2010 começaram a ser vendidas para o público em dezembro de 2008. Os preços atuais vão de US$ 1.350 a US$ 7.500 por pessoa, em pacotes de quatro a oito noites. A quinta edição do projeto “Emoções em Alto Mar”, como foi rebatizado mais tarde, será em um navio maior e mais sofisticado, o Costa Concórdia, oferecendo a opção de três períodos: de 30 de janeiro a 3 de fevereiro; de 3 a 7 de fevereiro ou ainda 30 de janeiro a 7 de fevereiro. As atrações extras que farão parte da programação do cruzeiro com o rei só serão reveladas no dia do embarque. O repertório de todos estes shows? O de sempre, claro! Unamidade total. Ou quase... Achar quem exalte o desempenho de Roberto nos palcos não é nada complicado. Difícil mesmo é encontrar quem tenha o discurso diferente, crítico, menos adocicado. Uma tarefa para o roqueiro Lobão. “Roberto Carlos virou uma caricatura de si próprio. Gostava dele quando mandava tudo para o inferno. Depois que virou ‘Jesus Cristo’, nunca mais foi genial. Não consigo entender como uma pessoa faz o mesmo show sempre. Acho tão medíocre quanto quem paga para ver o mesmo! Mas dizer o que de um país que dá 82% de aprovação para o Lula? Que está tudo bem? Roberto Carlos é o Lula da canção, não se pode falar mal”, avalia o cantor e compositor. Mas se Lobão não tem medo de expor sua opinião com veemência, a turma do outro lado também é boa em impropérios: “A modernidade virou uma grande porcaria para a música”, esbraveja a cantora Nana Caymmi, defendendo a postura do Rei. “Eu sou de uma época em que não era preciso mudar o tempo todo para se manter atual”, diz a carioca, uma das 20 divas selecionadas para participar do show “Elas Cantam Roberto”, transformado em CD e DVD em 2009. As manifestações exaltadas de amor ao ídolo não são uma novidade. E podem alcançar dimensões ainda maiores quando se trata de fãs anônimos. Ivone Kassu é assessora de imprensa do cantor há mais de trinta anos e foi testemunha de demonstrações ardentes. “Já presenciei cenas hilárias e inacreditáveis no camarim. Mulheres desmaiando, com ataques histéricos, briga de marido e mulher por conta de ciúmes. Já teve até ambulância levando fãs para o hospital. Na hora assusta, mas depois a gente ri. Além do artista incrível, com um carisma inquestionável, que só Deus sabe de onde vem, ele é uma pessoa generosa, querida e amiga”. Para a maioria dos brasileiros, gente que ouve Roberto Carlos desde sempre, não é muito difícil explicar esse fascínio que o cantor exerce sobre os fãs. E, para ele, tudo parece ainda mais simples. Basta não mudar. Suas convicções podem até ser questionadas, mas como não as respeitar? Celebrar 50 anos de carreira e ter a platéia dos shows sempre lotada é uma dádiva para poucos. E, para que haja justiça, nem se pode acusar o cantor de imobilismo. Para 2010, ele aceitou mexer no time que sempre ganha e resolveu encarar difícil turnê internacional. A essa altura da vida, às vésperas de completar 69 anos de idade, será um grande desafio em sua carreira. Ele, no entanto, parece convicto do resultado final: sucesso, claro! E alguém é louco de duvidar do rei?
(Com reportagem de Valmir Moratelli, IG Rio de Janeiro)
26-12-2009

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2 Comentários

Comentários

  1. Gostei muito dessa reportagem. E também de ter seu comentário lá no meu blog, como sempre muito atencioso comigo!

    Blog Música do Brasil
    www.everaldofarias.blogspot.com

    Um forte abraço!

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  2. Olá irmãozinho!

    Roberto é único e eterno, concordo plenamente com Nelson Motta.
    Tenho dito!!!!


    Beijos,
    Carmen Augusta

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