"... São coisas muito grandes pra esquecer..."

DO TEXTO:

Foi da aposta nas canções do final dos anos 60 que surgiu um dos discos mais propícios à reaproximação de Roberto Carlos com as novas gerações. Lançado em 2001, sua versão do Acústico MTV uniu hits jovens que há muito tempo não recebiam novas gravações pelo Rei, como as faixas "Parei na Contramão", "Todos Estão Surdos" e "As Curvas das Estradas de Santos". Para Cris Lobo, diretora de programação e produção da MTV, o objetivo era esse mesmo: mostrar a verve jovial e roqueira do cantor. "O Roberto é um grande comunicador para todas as idades, as músicas dele são atemporais e universais. Na época do acústico, já havia um burburinho de interesse entre os jovens por suas músicas das décadas de 60 e 70. Daí, como ele nunca mais tinha regravado esse repertório, pensamos: ’nada melhor do que apresentar o Roberto para a galera mais jovem dessa forma’. Acho que ele é tipo Beatles, bom e simples em suas letras e melodias", opina. Já na visão do historiador Paulo César de Araújo, autor da polêmica biografia "Roberto Carlos em Detalhes", proibida pela Justiça a pedido do próprio cantor, o marco inicial para o resgate de Roberto Carlos entre as novas gerações ocorre em 1993, quando Maria Bethânia grava "As Canções que Você Fez para Mim". "Nesse disco, ela reuniu só canções do Roberto Carlos, dando um arranjo mais moderno às suas músicas românticas. No período, haviam vários setores que associavam o Rei ao brega, por causa de canções como ’Mulher Pequena’. Esse disco da Bethânia convocou um público que tinha restrições ao cantor. A partir daí, se inicia a fase de grandes regravações de Roberto por novos artistas, como Marisa Monte, Adriana Calcanhoto e Barão Vermelho", analisa. Segundo Araújo, a chave para a continuidade do sucesso de Roberto Carlos, que no próximo ano irá completar meio século de carreira, não está em suas qualidades como cantor, nem em seu carisma, mas sim, nas belas canções que compôs. Perspectiva condizente com o fato de inúmeros artistas jovens terem emplacado hits através das letras do cantor capixaba. "Embora os críticos de maneira geral destaquem que o repertório do Rei não está à altura de suas qualidades como cantor, digo quase o contrário. Não é pela sua voz que ele permanece em alta, mas pelas suas canções. A dupla Roberto e Erasmo conseguiu criar músicas que atingem a sensibilidade de todas as classes, todas as gerações. A obra do Chico Buarque, por exemplo, atinge segmentos específicos da sociedade, mais elitizados. Amado Batista e Odair José são ouvidos prioritariamente entre os setores mais populares. Já as canções de Roberto atingem a sensibilidade do porteiro, do estudante, da dona de casa, por isso ele é o Rei. Não foram duas ou três canções suas que viraram grandes sucessos, mas inúmeras. E isso é determinante", afirma. (JG) "FOI UMA LOUCURA!" Roberto Carlos parece simpatizar-se com as releituras de suas canções por músicos da nova geração. A prova disso é que, em 2005, convidou a banda mineira Jota Quest para participar do CD e DVD “Duetos”, na gravação da faixa “Além do Horizonte”, que havia sido relançada pela banda alguns meses antes. Na entrevista abaixo, o compositor e vocalista do Jota Quest, Rogério Flausino, 36, conta como foi gravar com o Rei. Como iniciou a história da banda com o Rei? Eu sou um fã do Roberto Carlos de DNA. Meu pai e minha mãe ouviam Roberto e Tim Maia direto na rádio. Daí, em 2005, quando estávamos criando o disco “Até Onde Vai”, sugeri ao pessoal da banda para gravar Roberto Carlos. “Além do Horizonte” sempre foi uma das minhas canções preferidas dele porque é uma música que traz imagem, cheiro, cor, com ela eu conseguia ver o paraíso! E essa música é Jota Quest pra c... Por que? Porque é positivo, alto astral, colorido, tem um la-la-lá fantástico que combina com a gente. E o nome desse nosso disco, “Até Onde Vai” tem a ver com essa parada de emoção, de coisas que tocam o coração da gente. A moral da história é que essa foi a primeira música do disco que bombou pra valer. Como o Jota Quest reagiu ao convite para participar do “Especial de Fim de Ano” do Rei e gravar “Além do Horizonte” com ele? Eu tive a nítida impressão de que iria derreter de alegria! Imagina: você cresce a vida inteira assistindo ao especial do Roberto Carlos com a família e se emocionando. Aí, um dia, é você que está cantando com o cara! Meu pai, quando viu, ficou doente de emoção, três dias de cama com enxaqueca. E como foi cantar ao lado de Roberto Carlos? Foi uma loucura! Nós tínhamos ensaiado com ele um dia antes e, à noite, eu nem conseguia dormir de tanta adrenalina. Então peguei uma caneta e decidi escrever um letra para ele, que batizei de “Amanhã Vou Ver o Rei”. Ele ficou superemocionado com a homenagem e a gravação de “Duetos” foi muito boa. In Pampulha - O Semanário de belo Horizonte 14/11/2008

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