Enxaqueca no Avião: Por que as Viagens Aéreas Causam Crises?

Pesquisa analisa como mudanças de pressão e fatores ambientais em viagens de avião disparam crises de enxaqueca, com dicas de especialista para preven

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Fatores como pressão da cabine e desidratação explicam a maior incidência de crises de enxaqueca durante voos

Não é estresse, é ciência: seu cérebro sente a mudança de pres

São Paulo – dezembro 2025 - O fim de ano é marcado por férias, viagens e aeroportos cheios. Mas, para quem convive com enxaqueca, no entanto, o perrengue não é a superlotação e nem o estresse típico desses espaços, mas as crises, especialmente durante ou após viagens de avião. “Essa relação não é coincidência e tem explicação fisiológica e científica bem estabelecida. A enxaqueca é uma doença neurológica crônica, caracterizada por um cérebro mais sensível a mudanças do ambiente. Entre os principais gatilhos envolvidos nas viagens aéreas está a mudança brusca da pressão atmosférica, à qual o organismo é submetido durante a decolagem, o voo e o pouso”, explica o Dr. Tiago de Paula*, neurologista especialista em Cefaleia pela Escola Paulista de Medicina (EPM/UNIFESP), membro da International Headache Society (IHS) e da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC). 

Durante um voo, mesmo com a cabine pressurizada, ocorre uma variação significativa da pressão atmosférica em relação ao nível do solo. “Para pessoas com enxaqueca, essa alteração funciona como um estímulo capaz de aumentar a excitabilidade do sistema nervoso. Essa associação foi reforçada por uma revisão sistemática e meta-análise  publicada em 2025, que avaliou 31 estudos sobre condições climáticas e enxaqueca. Os resultados mostraram que mudanças climáticas relatadas pelos pacientes tiveram associação significativa com crises de enxaqueca”, diz o médico. “Entre os fatores analisados, a pressão atmosférica apresentou associação estatisticamente significativa com crises, assim como a temperatura. Esses dados reforçam que alterações ambientais, mesmo discretas, podem ser suficientes para precipitar crises em cérebros mais sensíveis”, esclarece o Dr. Tiago de Paula.

O estudo mostrou que a mudança de pressão gera um estresse fisiológico no organismo. “Em pacientes com enxaqueca, esse estresse contribui para alterações no funcionamento dos vasos sanguíneos, no equilíbrio autonômico e na liberação de neurotransmissores envolvidos na dor. Além disso, fatores comuns às viagens de avião potencializam esse efeito, como: desidratação, favorecida pelo ar seco da cabine, privação ou alteração do sono, e jejum prolongado ou alimentação inadequada. Além disso, o próprio estresse físico e emocional associado ao deslocamento funciona como um gatilho. Esse conjunto de fatores aumenta a hiperexcitabilidade cerebral, característica central da enxaqueca, facilitando o surgimento das crises”, diz o médico.

No período de férias, o risco tende a ser ainda maior. “Mudanças de rotina, consumo de álcool, noites mal dormidas e calor intenso ao chegar ao destino funcionam como gatilhos adicionais. Em pessoas que não estão com a enxaqueca bem controlada, essa soma de estímulos pode explicar por que as crises aparecem com mais frequência durante viagens”, comenta o Dr. Tiago.

O médico reforça que, embora os gatilhos existam, eles não são a causa da doença. “O problema central é a enxaqueca não tratada. Quanto melhor está o controle da doença, menor é a influência de fatores como pressão atmosférica, clima ou viagem de avião. O objetivo do tratamento é permitir que o paciente viaje, voe e viva normalmente, sem precisar ter medo constante de uma crise”, explica o médico. “Pacientes adequadamente tratados tendem a tolerar melhor as mudanças ambientais, inclusive durante voos”, comenta o médico.

Medidas como manter boa hidratação, evitar jejum prolongado, dormir adequadamente antes da viagem e reduzir o consumo de álcool podem ajudar a diminuir o risco de crises, segundo o médico. “No entanto, elas não substituem o tratamento individualizado e contínuo da enxaqueca, que deve ser conduzido por um especialista”, diz. “Hoje o tratamento pode combinar uso da toxina botulínica com medicamentos desenhados para tratar a enxaqueca. Medicamentos orais como anticonvulsivantes e betabloqueadores como propranolol, além dos monoclonais Anti-CGRP, primeiros medicamentos desenvolvidos, do início ao fim, para enxaqueca, podem ser usados. Eles bloqueiam o efeito do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP), que contribui para a inflamação e transmissão de dor e está presente em maiores níveis em pacientes com enxaqueca”, detalha o neurologista, que acrescenta que, em pacientes com enxaqueca crônica, a combinação da toxina botulínica com os anti-CGRPs tem se mostrado mais eficaz do que o uso isolado dessas terapias em pacientes mais graves. “A toxina botulínica é aplicada em pontos nervosos específicos para reduzir a hiperexcitabilidade modulando receptores cerebrais da periferia do sistema nervoso central para região do encéfalo, ajudando, assim, no controle da enxaqueca”, diz o especialista. “Com acompanhamento adequado, é possível reduzir crises, melhorar a qualidade de vida e aproveitar as viagens de fim de ano com mais segurança e tranquilidade”, finaliza.

*DR. TIAGO DE PAULA: Médico neurologista especialista em Cefaleia pela Escola Paulista de Medicina (EPM/UNIFESP), membro da International Headache Society (IHS) e da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC).  Autor principal de estudo premiado como Melhor Pôster pelos participantes do Congresso Internacional de Cefaleia 2025, o médico tem especialização em Neurocefaleia pela EPM/UNIFESP, onde também realizou a graduação em Medicina e a residência médica em Neurologia.  Atuou como preceptor dos ambulatórios de enxaqueca infantil, enxaqueca do adulto e migrânea vestibular da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e atualmente integra o corpo clínico do Headache Center Brasil, em São Paulo (SP). Pesquisador sobre dores de cabeça, o médico também é palestrante em congressos nacionais e internacionais e autor de artigos, capítulos, livros e publicações científicas. CRMSP 168999 | RQE 18111 | Instagram: @drtiagodepaula

 

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