Do modelo expositivo obsoleto para um espaço de debate que produz entendimentos
O que está ultrapassado não é a aula, mas o conceito que a define
Por: Sergio Felipe Moraes*
Muitos dos comentários sobre educação no meio digital,
feitos por diversos especialistas, abordam direta ou indiretamente a
“aula”. Ela está no centro do debate educacional, mesmo que não seja
citada ou problematizada.
Em virtude das recentes
transformações do mundo, talvez não faria sentido “dar aula” ou defender
esse conceito. Tecnicamente, videoaulas já podem reproduzir o modelo de
“aula palestra”, podendo ser assistidas infinitas vezes pelos alunos.
Nesse sentido, programas que utilizam a inteligência artificial
generativa na educação tentam reproduzir o modelo da “aula
expositivo-dialogada”, baseado em perguntas problematizadoras e nas
“perguntas de compreensão” mobilizadas pela docência em aulas
presenciais. O modelo da “aprendizagem ativa”, em muitos casos,
transforma a aula em um jogo de perguntas e respostas – um quiz.
O que parece estar obsoleto não é a
aula, mas o conceito de aula e os modelos que tentam reproduzi-la na
atualidade, seja na versão convencional ou na oriunda do mundo digital.
Primeiramente, a linguagem não é um espelho que reflete automaticamente
o sentido das coisas existentes neste mundo. Algo pode ser dito e não
necessariamente compreendido, ou pode ser entendido de outro modo.
Outro problema é que a pergunta e o
questionamento do estudante funcionam como intromissão nas formas de
conduzir as aulas, restringindo o espaço para expansão do pensamento e
das formas de ser. E o aspecto fundamental é o desafio de saber lidar
com interesses e desinteresses dos alunos pela educação escolar,
especialmente quando se leciona para a juventude.
O conceito de “aula como conversa”
surge em resposta a esses desafios, sendo compreendido como “espaço para
debates” que “produz entendimentos por meio da comunicação”. Ela é
aberta a perguntas e a conjecturas do outro, a afetar e ser afetado. O
entendimento funciona como resposta ao espaço de abertura ao
contraditório, à busca por “algo a mais” que dependa do outro para
existir.
Metodologicamente, a ideia é
planejar como sensibilizar e despertar a curiosidade do outro para
aprender algo que inicialmente não desejava, mas que pela reelaboração
do conhecimento feita, passa a interessá-lo e afetá-lo. Incentivar os
educandos a perguntarem o que sabem e o que não sabem para ler, escrever
e desenvolver o pensamento crítico de forma integrada. E defender a
necessidade de avaliar a aprendizagem conforme as professoras
alfabetizadoras, que utilizam a “prática guiada” como parte do processo
avaliativo.
Nota do Editor - Portal Splish Splash:
Este texto vai ao cerne de um dos maiores desafios atuais na educação: engajar uma geração hiperconectada em um modelo que muitas vezes não dialoga com sua realidade. A proposta da "aula como conversa" não é um modismo, mas uma reflexão necessária para repensar
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Do modelo expositivo obsoleto para um espaço de debate que produz entendimentos
Muitos dos comentários sobre educação no meio digital, feitos por diversos especialistas, abordam direta ou indiretamente a “aula”. Ela está no centro do debate educacional, mesmo que não seja citada ou problematizada.
Em virtude das recentes transformações do mundo, talvez não faria sentido “dar aula” ou defender esse conceito. Tecnicamente, videoaulas já podem reproduzir o modelo de “aula palestra”, podendo ser assistidas infinitas vezes pelos alunos. Nesse sentido, programas que utilizam a inteligência artificial generativa na educação tentam reproduzir o modelo da “aula expositivo-dialogada”, baseado em perguntas problematizadoras e nas “perguntas de compreensão” mobilizadas pela docência em aulas presenciais. O modelo da “aprendizagem ativa”, em muitos casos, transforma a aula em um jogo de perguntas e respostas – um quiz.
O que parece estar obsoleto não é a aula, mas o conceito de aula e os modelos que tentam reproduzi-la na atualidade, seja na versão convencional ou na oriunda do mundo digital. Primeiramente, a linguagem não é um espelho que reflete automaticamente o sentido das coisas existentes neste mundo. Algo pode ser dito e não necessariamente compreendido, ou pode ser entendido de outro modo.
Outro problema é que a pergunta e o questionamento do estudante funcionam como intromissão nas formas de conduzir as aulas, restringindo o espaço para expansão do pensamento e das formas de ser. E o aspecto fundamental é o desafio de saber lidar com interesses e desinteresses dos alunos pela educação escolar, especialmente quando se leciona para a juventude.
O conceito de “aula como conversa” surge em resposta a esses desafios, sendo compreendido como “espaço para debates” que “produz entendimentos por meio da comunicação”. Ela é aberta a perguntas e a conjecturas do outro, a afetar e ser afetado. O entendimento funciona como resposta ao espaço de abertura ao contraditório, à busca por “algo a mais” que dependa do outro para existir.
Metodologicamente, a ideia é planejar como sensibilizar e despertar a curiosidade do outro para aprender algo que inicialmente não desejava, mas que pela reelaboração do conhecimento feita, passa a interessá-lo e afetá-lo. Incentivar os educandos a perguntarem o que sabem e o que não sabem para ler, escrever e desenvolver o pensamento crítico de forma integrada. E defender a necessidade de avaliar a aprendizagem conforme as professoras alfabetizadoras, que utilizam a “prática guiada” como parte do processo avaliativo.
Redatora Permanente do luso-brasileiro Portal Splish Splash. Uma sonhadora que acredita no verdadeiro amor, no romantismo e na felicidade, que carrega a fé em cada detalhe da vida. VER PERFIL
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