O robô filtra os tremores da mão do cirurgião, eliminando-os
Na cirurgia robótica, médico controla dispositivo que garante maior precisão na substituição da articulação do joelho por prótese. Estudo mostrou diminuição do risco de complicações como infecções, perda excessiva de sangue e fraturas, luxações ou complicações mecânicas das próteses
São Paulo – novembro 2024 - Pacientes com artrose podem necessitar, para melhora da qualidade de vida, de uma cirurgia para substituição da articulação do joelho por prótese. Mas hoje já é possível que esse procedimento seja feito com auxílio de um robô cirúrgico, o que, segundo uma pesquisa publicada no Archives of Orthopaedic and Trauma Surgery, traz melhores resultados do que cirurgias semelhantes realizadas manualmente. “Um robô cirurgião que age por conta própria ainda é ficção cientifica. Na verdade, hoje, quando falamos de cirurgia robótica nos referimos principalmente a um equipamento com um braço robótico equipado com pinças e câmeras. Esse braço é totalmente controlado pelo cirurgião. Então, o sucesso do procedimento ainda se deve totalmente à experiência e ao conhecimento do médico”, diz o ortopedista Dr. Marcos Cortelazo*, especialista em joelho e traumatologia esportiva e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT). O ortopedista explica que a cirurgia robótica já é feita no Brasil e se destaca como um avanço importante na artroplastia de joelho por trazer diversos benefícios ao médico e paciente.
Segundo o Dr. Marcos, os casos de artrose seguem em alta basicamente por quatro fatores: 1) as pessoas estão vivendo mais, ou seja, a população tem se tornando mais idosa; 2) a obesidade tem aumentado muito sua incidência e ela é um fator predisponente importante para a artrose; 3) aumento da prática de atividades físicas de impacto; e 4) aumento do sedentarismo.
O estudo destaca que, na artroplastia do joelho, as partes de sustentação do peso do joelho são completamente substituídas por componentes protéticos. O procedimento tornou-se cada vez mais comum nas últimas décadas para tratar a degeneração do joelho e aliviar a dor e a incapacidade. Segundo o trabalho, a maioria das artroplastias são convencionais, o que significa que os cirurgiões as realizam manualmente, julgando quanto osso remover com base em seu treinamento e experiência. Um número crescente dessas cirurgias é realizado usando robôs cirúrgicos que dependem de imagens pré-operatórias ou da descoberta de marcos anatômicos durante a cirurgia para determinar onde cortar. De acordo com o especialista, a principal vantagem da cirurgia robótica está no fato de garantir uma maior precisão durante o procedimento. “O robô filtra os tremores da mão do cirurgião, eliminando-os, o que evita movimentos involuntários e, consequentemente, aumenta a assertividade e a segurança”, afirma o médico. Essa precisão é submilimétrica, o que também garante que o procedimento seja menos invasivo. “Com o auxílio do robô, as incisões são mais exatas e o trauma é menor, o que se traduz em cirurgia mais rápida, menor sangramento e tempo de internação, recuperação mais rápida, pós-operatório mais tranquilo e incisões menores” acrescenta o Dr. Marcos.
O Dr. Marcos explica que as câmeras presentes no braço robótico do equipamento também geram, em tempo real, imagens de alta definição que podem ser aumentadas, assim auxiliando no posicionamento dos instrumentos cirúrgicos e na tomada de decisões pelo cirurgião. “Em preparação e durante a cirurgia também são geradas imagens em 3D que permitem que o cirurgião planeje melhor os cortes ósseos e o posicionamento da prótese para garantir um encaixe e alinhamento mais preciso, o que tende a ser mais difícil com a técnica tradicional”, destaca o ortopedista, que afirma que esse encaixe mais preciso da prótese no osso melhora o prognóstico da cirurgia e o paciente tem menos chance de sofrer com problemas como dor, rigidez e inchaço da região após o procedimento. “Apesar de ter bons resultados, na técnica tradicional, o encaixe depende unicamente da experiência do cirurgião, o que, em alguns casos, pode resultar em um posicionamento não tão exato, causando alterações no alinhamento da articulação que fazem diferença a longo prazo, especialmente em relação à durabilidade da prótese”, afirma o médico.
Para comparar com precisão as duas abordagens, os pesquisadores coletaram dados do National Inpatient Sample, um banco de dados disponível publicamente que contém informações de cerca de 7 milhões de internações hospitalares a cada ano nos Estados Unidos. Usando códigos de diagnóstico, os pesquisadores identificaram 541.122 pacientes que receberam cirurgias convencionais e 17.249 que receberam cirurgias robóticas entre 2016 e 2019. Eles também coletaram informações relacionadas a esses procedimentos, como a duração das internações hospitalares, complicações, custos e informações demográficas dos pacientes.
Comparando os dados, os pesquisadores descobriram que os pacientes que passaram pela cirurgia robótica tiveram internações hospitalares que foram quase meio dia mais curtas. Eles também eram significativamente menos propensos a ter uma série de complicações, como infecções, perda excessiva de sangue e fraturas, luxações ou complicações mecânicas de suas próteses. No entanto, um entrave apontado pelo estudo é o preço, que é mais alto. Os pesquisadores observaram que o custo mais alto da cirurgia robótica vem do aumento das despesas com equipamentos descartáveis necessários para realizar o procedimento e da aquisição de equipamentos robóticos, que normalmente custam milhões de dólares. “Os custos da artroplastia robótica de joelho tendem a ser maiores em comparação à técnica tradicional, mas a tendência é que se torne cada vez mais utilizada e acessível”, destaca o Dr. Marcos Cortelazo, que reforça que, apesar do risco de complicações ser menor na cirurgia robótica, tudo depende da experiência e conhecimento do médico, afinal, o robô não faz nada sozinho. “Por isso, é fundamental que você busque um médico especializado, principalmente porque a cirurgia robótica possui uma maior curva de aprendizado. Apenas ele poderá dizer se essa é realmente a melhor opção para o seu caso e prosseguir com o procedimento da maneira adequada”, finaliza.
*DR. MARCOS CORTELAZO: Ortopedista especialista em joelho e traumatologia esportiva. Graduado em medicina e pós-graduado em ortopedia e traumatologia pela Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), o Dr. Marcos Cortelazo é membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), da Sociedade Latino-americana de Artroscopia, Joelho e Esporte (SLARD) e da Sociedade Internacional de Artroscopia, Cirurgia do Joelho e Medicina do Esporte (ISAKOS). Sócio efetivo da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho e da Sociedade Brasileira de Artroscopia, o especialista integra o corpo clínico dos hospitais Albert Einstein, São Luiz e Oswaldo Cruz. CRM 76316 Instagram: @dr.marcos_cortelazo
O robô filtra os tremores da mão do cirurgião, eliminando-os
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