O Manifesto dos Rios é uma ação da sociedade civil, assinado por 21 rios de todo o Brasil, que receberam pinturas de cobras-guardiãs para chamar a atenção sobre a urgência de preservá-los
Na última semana, os artistas e cientistas sociais Victor Kinjo e Vivian Blaso mobilizaram a pintura de uma cobra de 25 metros no muro do rio Iquiririm, que nasce dentro do campus da USP Butantã, e outra numa embarcação atracada no Cebolão, entre os rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo. Os pesquisadores integram o Centro de Síntese USP Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados, sob supervisão do Professor Titular Pedro R. Jacobi.
Desde os últimos 4 anos, Kinjo, que é também cantor, artista visual e produtor cultural, desenvolveu sua pesquisa de pós-doutorado sobre a centralidade das artes na regeneração de rios urbanos, mapeando iniciativas em São Paulo e experiências internacionais, com apoio da FAPESP, incluindo um período como pesquisador visitante da Universidade de Nova York Tisch School of the Arts, no Departamento de Estudos da Performance. Nessa pesquisa, mostrou como a cultura, a educação ambiental e a mobilização comunitária enquanto modos de performance foram fundamentais em processos de regeneração de rios em vários casos, como os do rio Hudson, em Nova York, o Cheonggyecheon, em Seul, o Sumida, em Tóquio, e o Funan, em Chengdu.
De acordo com Vivian Blaso, que é também professora, artista visual e coidealizadora do Cidades Afetivas, "a ativação dos espaços da cidade por meio da arte é fundamental para o engajamento e mobilização popular, o advocacy e as políticas públicas para cidades mais sustentáveis e afetivas". Em sua pesquisa mais recente, Blaso busca levantar um conjunto de indicadores ligados à afetividade no Campus USP Butantã com intuito de sistematizar diagnósticos e posteriormente produzir evidências para incidências em políticas públicas.
Em 2021, Kinjo realizou uma expedição por toda a extensão do rio Tietê, desde a nascente, em Salesópolis, até a foz, no rio Paraná, etnografando os espaços na beira do rio e realizando performances registradas em seu videoclipe, "Vem pro rio". Depois, ele reuniu um conjunto de artistas, pesquisadores, ativistas e gestores no Almirante do Lago, uma embarcação para 200 pessoas que, no passado, serviu de palco para navegações de educação ambiental pelo rio Tietê, peças de teatro, como o aclamado BR3, do Teatro da Vertigem, e outras intervenções artísticas. Atualmente, a embarcação está necessitando de investimentos para reforma. A pintura da cobra-guardiã em seu convés tem o intuito de "replantar os sonhos da navegação nos rios urbanos de São Paulo”, afirma o artista e pesquisador. Como resultado de seu pós-doutorado, prepara-se para a publicação de um conjunto de propostas para uma cultura de regeneração do rio Tietê.
Já o rio Iquiririm, que integra a sub-Bacia do rio Pinheiros, nasce dentro do campus da Zona Oeste da USP e flui pelo Butantã até desaguar no rio Pirajussara. As nascentes do Iquiririm passaram por um processo de regeneração a partir de um movimento energizado pelo arquiteto e urbanista social José Bueno e pelo geógrafo Luiz de Campos, ambos ex-alunos da USP e fundadores do Rios e Ruas, que tem se somado a diversos movimentos em defesa das nascentes e rios urbanos e por uma nova cultura das águas.
A ação de pintura da cobra guardiã no rio Tietê, teve o apoio da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Navega São Paulo. No Iquiririm, o do Rios e Ruas e do Fundo Fica, um projeto inovador de moradia sem fins lucrativos que acaba de abrir um programa de moradia estudantil na rua da nascente.
O Manifesto dos Rios é uma ação da sociedade civil que engloba 17 cidades nas cinco regiões do Brasil, nas quais 21 nascentes e rios urbanos recebem atividades artísticas para chamar a atenção sobre a urgência de preservá-los. As ações acontecem ao longo da semana que antecede o Dia Mundial dos Rios, comemorado no último domingo do mês de setembro.
O Manifesto dos Rios é uma ação da sociedade civil, assinado por 21 rios de todo o Brasil, que receberam pinturas de cobras-guardiãs para chamar a atenção sobre a urgência de preservá-los
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