Quintal (de Noite): clipe antecipa lançamento do segundo álbum da banda Colibri

DO TEXTO: O clipe narra uma procissão em luto, em que se juntam vários grupos - moradores da cidade, povos originários, bruxos, sacerdotes, seres encantados - e
Banda Colibri.
 


“Um sonho lúcido misturado com pesadelo e um monte de outros símbolos numa noite de lua cheia”



Colibri lança o videoclipe da faixa 'Quintal (de Noite)', canção do próximo disco da banda, “3R”, previsto para o mês de agosto. O clipe é uma procissão mítica, onírica e misteriosa na cidade de Alagoinhas, no interior da Bahia.

Assista aqui a 'Quintal (de Noite)'


Alagoinhas é um conhecido município do agreste baiano, por ter sido paragem do meteorito Bendegó - maior siderito já encontrado em solo brasileiro - e cenário da Campanha de Canudos - conflito armado entre o Exército Brasileiro e sertanejos da comunidade liderada por Antônio Conselheiro -, além da qualidade das águas de seus aquíferos, da estação ferroviária de São Francisco e da produção de petróleo, algodão, gado… “Como tantas outras cidades do Brasil, Alagoinhas, onde fui criado, teve parte de sua história atravessada por muita dor, violência e escravidão, posteriormente apagada (a escravidão ou parte da história) em favor da manutenção de privilégios e narrativas, sem deixar vestígio da origem e costumes daqueles que foram aniquilados em suas próprias terras”, comenta Zé Neto, vocalista da banda.

O clipe narra uma procissão em luto, em que se juntam vários grupos - moradores da cidade, povos originários, bruxos, sacerdotes, seres encantados - em direção à terra do “Não Um”, cujo mito de Sumé, lenda tupinambá, diz ser “onde não existe o sentido singular e, sim, a percepção de tudo”. As figuras levam consigo objetos que representam toda a história da cidade: cabaça, candeeiro, véu, castiçal, defumador, fumo de corda, artefatos, e peças artísticas de Littus Silva, artista plástico e antropólogo local. Com vasta pesquisa sobre a formação do povo a quem denomina de "Alagoíndio", ele enriquece a história misteriosa do clipe como uma das principais figuras de pesquisa, trazendo para o universo reflexivo do filme novas camadas. O resultado se parece com um “sonho lúcido misturado com pesadelo e um monte de outros símbolos numa noite de lua cheia”. Alan dos Anjos assina a direção do clipe, Bernardo Bastos a direção de fotografia e Isabel Abreu a direção de arte.

'Quintal (de Noite)' é uma canção composta por Zé Neto, gravada em execução ao vivo pela banda - formada por Levi Vieira (guitarra), Tiago Simões (baixo e bateria) e Rodrigo Santos (synth). A faixa tem toques surrealistas expressivos, misturando drum machine e guitarras envelhecidas com overdubs modernos. “Compus Quintal às 3 da manhã, numa segunda-feira em plena pandemia. Ela nasceu quando eu visitava acordes de uma música antiga e observava a varanda pela janela enquanto chovia. Aqui, falo de tudo que me rodeava, da fragilidade aparente das coisas belas e da sensação que há algo sempre maior que comanda as coisas”.

SOBRE A BANDA
Contemplar os mistérios dos sentimentos e experiências humanas com sensibilidade e clareza para entender seus impactos é um traço vivo da música e poesia da Colibri (@cantodecolibri), grupo formado, em 2017, por José Neto (voz, guitarra-rítmica e synths), Levi Vieira (guitarra-solo), Rodrigo Santos (synths, guitarra e teclados) e Tiago Simões (baixo e samples) do Cremenow Studio. Gerou frutos em forma de singles, como Fria Demais, Sossego e Otherside, além de um disco intitulado Canto de Colibri, parcerias com outros artistas (Tangolomangos, Hiran, Vandal, Galf AC) e uma série de apresentações em festivais, casas de show, teatros e performances online. Uma de suas características mais marcantes são os eventos experimentais, incluindo especiais de lançamentos para clipes e apresentações multi-linguagem com performances e instalações.
O reconhecimento enquanto artistas independentes vem desde o primeiro lançamento, tendo figurado inclusive entre a lista dos 100 melhores discos de 2019 pelo site Melhores da Música Brasileira. Sua assinatura sonora é marcada por uma produção rica em detalhes que brotam das melodias cheias de nuance que se enlaçam num arranjo experimental e progressivo que ousa em seu sentimentalismo sem derivações, com letras que denotam desde reflexões mais profundas até uma narrativa corriqueira e sensível que toma proporções às vezes ácidas. As canções mais novas tendem a infusionar guitarras de um jeito peculiar com as texturas sonoras quentes de violões, sintetizadores, gravações - caseiras ou in loco - e o minimalismo rítmico da bateria (ora eletrônica, ora instrumental). Traz agora escolas marcantes dos anos 80 como o pós-punk, dream-pop e shoegaze na mesma filosofia de incorporação antropofágica de seu primeiro álbum, embora não como adaptação ou releitura - mas, sim, em reafirmação dessas influências como ferramentas de expressão livre, pontos de amarração semiótica com a bagagem emocional do ouvinte e o consciente coletivo.

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