Ocean Viking resgata 407 pessoas em 72 horas no Mediterrâneo

DO TEXTO: Navio Ocean Viking resgata 407 sobreviventes em 72 horas no Mediterrâneo
Crianças resgatadas em alto mar recebem atendimento médico para hipotermia a bordo do Ocean Viking-MSF/Hannah Wallace Bowman
Foram cinco operações noturnas, as duas últimas na noite de domingo (26), quando equipes retiraram do mar 184 pessoas

As últimas 72 horas foram complicadas para o Ocean Viking, navio de busca e salvamento operado por Médicos Sem Fronteiras (MSF) e SOS Méditerranée. A embarcação realizou cinco resgates noturnos no Mediterrâneo central de sexta-feira (24) a domingo (26), os dois últimos ontem à noite, quando as equipes resgataram 184 homens, mulheres e crianças que corriam risco de morte.

O primeiro resgate de domingo (102 pessoas) foi realizado a 80 milhas ao norte da costa da Líbia e o segundo (82 pessoas) ocorreu na área de busca e resgate de Malta. Nos dois casos, os sobreviventes viajavam em botes de borracha precários e superlotados.

Com os dois últimos salvamentos, o Ocean Viking transporta 407 sobreviventes no total. Quase 40% são crianças e menores de 18 anos, 132 deles acompanhados. A maioria das pessoas é de Bangladesh, Somália e Eritreia.

“Foram dias complicados”, explica Aloys Vimard, coordenador de MSF no Ocean Viking. “Recebemos informações de pelo menos oito embarcações em perigo. Apesar do inverno, do mau tempo e dos poucos barcos dedicados ao resgate, as pessoas continuam saindo e tentando esta jornada mortal”, afirmou.

“As pessoas que resgatamos nos dizem que a situação de segurança se deteriora dia após dia. Na Líbia, há um conflito ativo. Todos os países europeus e a ONU sabem que não é um país seguro, mas 49 pessoas foram interceptadas e forçadas a voltar para lá. Quando solicitamos um local seguro para o desembarque das 92 pessoas resgatadas na primeira operação às autoridades marítimas da Líbia, eles nos designaram o porto de Trípoli, o que é inaceitável. Solicitamos uma alternativa às autoridades marítimas competentes, mas não sabemos quando ou onde poderemos desembarcar com segurança. As pessoas perguntam, têm medo de serem devolvidas à Líbia”, explicou Vimard.

Todos os resgates realizados pelo Ocean Viking nos últimos três dias ocorreram à noite. O primeiro foi às 5h de sexta-feira, quando, em uma operação complicada, as equipes resgataram 92 pessoas de um barco de borracha lotado a 30 milhas ao norte da Líbia. Muitos sofriam de hipotermia, tontura e fraqueza, além de estarem encharcados de combustível, causa comum de queimaduras químicas no mar, pela exposição ao sol e sal.

O segundo resgate aconteceu na madrugada do sábado (25) e também foi feito antes do amanhecer. O Ocean Viking resgatou 59 pessoas que cruzavam o Mediterrâneo por uma balsa precária a 26 milhas ao norte da costa da Líbia. O terceiro ocorreu poucas horas depois, na tarde do mesmo dia, quando as equipes prestaram ajuda médica a 72 pessoas que estavam amontoadas em um barco de madeira muito instável. A operação ocorreu na área de busca e salvamento em Malta.

Líbia não é um lugar seguro

Na sexta-feira, após o primeiro resgate, as autoridades marítimas da Líbia designaram Trípoli para o desembarque dos primeiros 92 sobreviventes. O Ocean Viking rejeitou a opção pelo país passar por conflitos e não oferecer segurança. Médicos Sem Fronteiras e SOSMediterranée solicitaram novo local seguro para o desembarque do contingente nos centros de coordenação de resgate marítimo na Itália e Malta, mas até a tarde desta segunda-feira (27) não havia recebido uma resposta.

Além das operações realizadas, a embarcação Ocean Viking recebeu durante o fim de semana informações de pelo menos oito pedidos de socorro em região próxima à costa da Líbia. Todos os navios resgatados deixaramo país, em estado conflagrado, que a maioria das pessoas resgatadas concorda em qualificar como um inferno absoluto.

Em 2019, o total de mortos e desaparecidos no Mediterrâneo Central chegou a 753 pessoas, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Essa travessia constitui a rota migratória mais mortal do mundo.

Sobre Médicos Sem Fronteiras
Médicos Sem Fronteiras é uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias, desnutrição ou sem nenhum acesso à assistência médica. Oferece ajuda exclusivamente com base na necessidade das populações atendidas, sem discriminação de raça, religião ou convicção política e de forma independente de poderes políticos e econômicos. Também é missão da MSF chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelas pessoas atendidas em seus projetos.

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