Para reciclar não basta apenas colocar a embalagem no cesto da coleta seletiva

DO TEXTO:


Alguns materiais não são reciclados, mesmo quando descartados no local correto


São Paulo, 08 de agosto de 2019 - Apenas 17% da população brasileira tem acesso a programas municipais de coleta seletiva(1). E, além disso, estudo realizado em 3.556 cidades brasileiras identificou que, dos materiais que são coletados e que poderiam ser reciclados, apenas 5,4% são efetivamente recuperados (este número não considera números de entidades privadas que trabalham com reciclagem ou compostagem)(2). Mas onde está o problema? Por que colocar o que pode ser reciclado dentro do cesto de coleta seletiva nem sempre é suficiente?


É claro que tudo o que é material reciclável primeiro precisa ser descartado no local correto, para que chegue até as cooperativas de reciclagem e empresas de coleta, e posteriormente até as empresas de reciclagem e transformação de materiais.


Mas há mais do que isso dentro do processo... Estes materiais, que incluem principalmente vidro, metal, papel e plástico, ao chegarem nas cooperativas de reciclagem, primeiro passam por uma esteira, onde os catadores fazem a seleção do que irá para a indústria recicladora ou não.  "O trabalho de triagem dos materiais na esteira é intenso e demanda muito tempo e mão de obra. E, como a renda das cooperativas depende geralmente apenas da venda destes materiais, somente os mais rentáveis acabam sendo separados. O que não tem valor comercial acaba no aterro sanitário" relata Roger Koeppl, presidente da Cooperativa YouGreen.


Ou seja, mesmo sendo feita de um material reciclável e tendo sido descartada no local correto, pode ser que a embalagem não seja reciclada. Por que isso acontece? Alguns tipos de materiais, como copos plásticos descartáveis, embalagens de salgadinho e isopor, são muito leves e, para atingir o lote mínimo que a indústria da reciclagem aceita, é necessário reunir uma quantidade muito grande deles - o que é difícil e pode demorar.


"Ainda há outros pontos que podem prejudicar a cadeia de reciclagem. Cidades menores e muito distantes dos grandes centros urbanos nem sempre têm coleta seletiva e os tipos de materiais aceitos para reciclagem nestes locais podem ser mais restritos, pois não há indústria recicladora na região, e o custo de frete acaba inviabilizando o processo" completa Roger.   


Mas há alguns materiais que, além de serem recicláveis, também são mais valorizados na cadeia de reciclagem - o que pode impulsionar seu potencial de serem reciclados. Dentre eles, está a lata de alumínio. Este tipo de material tem um dos maiores valores por quilo dentre os materiais recicláveis mais comumente utilizados. Cada quilo de alumínio limpo vale, no mercado de reciclagem, R$4,00 em média. As garrafas PET também são valorizadas no mercado, devido ao seu peso e material, e o quilo do PET prensado custa aproximadamente R$2,50. Segundo Roger "também é importante lembrar dos quatro fatores que podem atrapalhar ou ajudar a reciclagem, que são os 4C's - Cor - quanto mais colorido, menor o valor na reciclagem, Cola - quanto mais adesivos e cola, menor o valor na reciclagem, Combinação - Muitos materiais misturados na embalagem (vidros de perfume por exemplo), atrapalham a reciclagem e Comportamento - embalagens sujas e contaminadas".


Então, vale a pena priorizar esses tipos de materiais, como o alumínio e o PET, na hora de escolher o que vai comprar, de maneira a incentivar mais a cadeia de reciclagem e, desta maneira, contribuir para a economia circular. E, para que esse ciclo funcione, não basta apenas rever quais tipos de materiais são usados nas embalagens que se compra, mas lembrar de garantir o descarte adequado delas.


1. Compromisso Empresarial para Reciclagem. Pesquisa Ciclosoft 2018. Disponível em: <http://cempre.org.br/ciclosoft/id/9>. Acesso em: 14 de maio de 2019.
2. Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento: Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos - 2017. Brasília: MDR.SNS, 2019.

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