Angola – Primeiro meu padrinho e depois a minha pessoa

DO TEXTO:

Há coisas que só passadas e depois contadas tintim-por-tintim, são acreditadas. Só assim mesmo. Tinha eu quatro anos, quando meu padrinho do batismo, irmão de minha mãe e já falecido, veio de Angola onde foi incorporado na primeira companhia de açorianos que partiu para aquela (então) Província Ultramarina, mais concretamente para a cidade de Nova Lisboa, capital do Distrito do Huambo. Na companhia de minha avó materna, também já falecida, acompanhei o desfile da chegada dessa dita companhia e, escusado será dizer, estava radiante com o regresso daquele meu ente-querido. Mais: até imitei os taroleiros (entenda-se pelos homens que tocavam bateria, para se ficar com uma ideia em relação ao termo que se utiliza aqui no Brasil) com os gestos das minhas mãos e me recordo, ainda hoje, que as pessoas achavam muita graça à minha esfuziante alegria. Depois, por uns dias, meu padrinho, para além de exibir muitas fotos tiradas em Angola, falou-me da sua permanência, como foi e, também, das muitas pessoas que lá conheceu, quer através dos jogos de futebol quer através das touradas (numa praça improvisada) que os militares lá realizaram. O tempo passou, fui crescendo, em 1964 incorporado no serviço militar (exército) e fui, posteriormente, mobilizado para Angola, tendo embarcado em março de 1965 no Navio Pátria. Ora, mas antes disso, quando me despedi do meu padrinho (nessa altura ainda estava vivo e de muito boa saúde e ainda trabalhando. Era cabo do mar), retornei à conversa antiga, isto é, para que ele me contasse mais pormenores da sua passagem por Angola e, inclusive, me falasse de pessoas. Dito e feito. Como sou uma pessoa de muito boa memória (tudo o que escrevo, na maioria dos casos, é o que ainda está retido na memória, graças a Deus incólume), gravei nomes e episódios. Ironia do destino? Sim, sem dúvida. Na minha primeira fase de Angola, fui parar para a zona do Planalto, exatamente onde meu padrinho esteve. Depois, com o tempo, fui encontrando algumas pessoas (civis que por lá ficaram) que me falaram dessa companhia expedicionária e que, muito naturalmente, conheceram meu padrinho, como futebolista e toureiro. Mais tarde, no Lobito, encontrei um fotógrafo que foi grande amigo do "painho" (era assim que o chamava quando era pequeno, 3-4 anos) e com o qual mantive uma boa amizade. Afinal, esta ironia do destino acabou por ser gratificante para a minha pessoa. Não acham?


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