Angela Maria, rainha do rádio, morre aos 89 anos

DO TEXTO:
Angela Maria — Foto: Divulgação / Murilo Alvesso

Internada havia mais de um mês em SP, a cantora não resistiu a uma infecção generalizada. Ela tinha 89 anos.

Por G1

A cantora Angela Maria, uma das rainhas do rádio, morreu aos 89 anos no fim da noite deste sábado (29), no Hospital Sancta Maggiore, em São Paulo. Após 34 dias de internação, ela não resistiu a uma infecção generalizada.

A cantora será velada e sepultada neste domingo (30) no Cemitério Congonhas, na zona sul da capital paulista.

O marido dela, o empresário Daniel D’Angelo, divulgou um vídeo emocionado no Facebook falando sobre a morte da cantora, que fez um estrondoso sucesso entre as décadas de 1950 e 1960.

"É com meu coração partido que eu comunico a vocês que a minha Abelim Maria da Cunha, e a nossa Angela Maria, partiu, foi morar com Jesus", disse emocionado, ao lado de Alexandre, um dos filhos adotivos do casal e de um outro rapaz.

. Veja FOTOS da carreira da cantora
. Veja VÍDEOS da carreira da cantora

Cantora Angela Maria, em foto de 19 de maio de 1994 — Foto: Gilda Mattar/Estadão Conteúdo

Nome artístico

Abelim Maria da Cunha nasceu em Macaé, no Rio de Janeiro. Ela passou a infância em Niterói, São Gonçalo e São João de Meriti. Filha de pastor protestante, desde menina cantava em corais de igrejas.

Ela foi operária tecelã e inspetora de lâmpadas em uma fábrica da General Eletric, mas queria ser cantora de rádio apesar da oposição da família.

Por volta de 1947, começou a frequentar programas de calouros e passou a usar o nome Angela Maria, para não ser descoberta pelos parentes.

Apresentou-se no “Pescando Estrelas”, de Arnaldo Amaral, na Rádio Clube do Brasil (hoje Mundial); na “Hora do Pato”, de Jorge Curi, na Rádio Nacional; no programa de calouros de Ari Barroso, na Rádio Tupi; e do “Trem da Alegria” - programa dirigido por Lamartine Babo, Iara Sales e Heber de Bôscoli, na Rádio Nacional.

Quando decidiu tentar a carreira de cantora, Angela Maria abandonou os estudos, o trabalho na indústria e foi morar com uma irmã no subúrbio de Bonsucesso.

Angela Maria — Foto: Jair de Assis/Divulgação

Era do rádio

Em 1948, começou a cantar na casa de shows Dancing Avenida, onde foi descoberta pelos compositores Erasmo Silva e Jaime Moreira Filho. Eles a apresentaram a Gilberto Martins, diretor da Rádio Mayrink Veiga. Após um teste, ela começou carreira na emissora.


Em 1951, gravou pela RCA Victor os sambas “Sou feliz” e “Quando alguém vai embora”. No ano seguinte, sua gravação do samba “Não tenho você” bateu recordes de venda, marcando o primeiro grande sucesso de sua carreira.

Cantora Angela Maria, em imagem de 19 de janeiro de 1977 — Foto: Arquivo/Estadão Conteúdo

Princesa e rainha do rádio


Durante a década de 1950, atuou intensamente nas rádios Nacional e Mayrink Veiga, como a estrela de “A Princesa Canta”, nome derivado de seu título de “Princesa do Rádio”, um dos muitos que recebeu em sua carreira.

Em 1954, em concurso popular, tornou-se a “rainha do rádio”, e no mesmo ano estreou no cinema, participando do filme “Rua sem Sol”.

A cantora Angela Maria — Foto: Reprodução / Facebook

'Sapoti'

Encantado pela voz de Angela Maria, Getúlio Vargas lhe deu o apelido de “Sapoti”. "Menina, você tem a voz doce e a cor do sapoti", teria dito o presidente.

Ainda durante a década de 1950, vários de seus sambas-canções viraram sucessos, como “Fósforo queimado”, “Vida de bailarina”, “Orgulho”, “Ave Maria no morro” e “Lábios de mel”.

Na segunda metade da década de 1960, foi a vez de “Gente humilde” ser destaque nas paradas de sucesso.

Em 1982, foi lançado o LP Odeon com Angela Maria e Cauby Peixoto, primeiro encontro em disco dos dois intérpretes. Em 1992, a dupla lançou o disco "Angela e Cauby ao vivo", após o show Canta Brasil.

Em 1996, foi contratada pela gravadora Sony Music e lançou o CD “Amigos”, com a participação de vários artistas como Roberto Carlos, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Chico Buarque, entre outros. O trabalho foi um sucesso, celebrado em um espetáculo no Metropolitan (Claro Hall), no Rio de Janeiro, e um especial na Rede Globo. O disco vendeu mais de 500 mil cópias.

A cantora Ângela Maria, amiga de Cauby Peixoto, se emocionou no tributo ao cantor 
na Virada Cultural — Foto: Flavio Moraes/G1

-------------------------------------------------

Cantor Roberto Carlos é fã assumido de Angela Maria



– Conheci o Roberto nos corredores das rádios, no tempo em que a gente tinha que trabalhar as músicas na mídia. Lembro que na época ele estava divulgando As Curvas da Estrada de Santos, no final dos anos 1960. Foi o empresário Manoel Poladian quem deu a ideia de eu gravar um disco só com músicas do Roberto e do Erasmo. Fui então a um show dele e depois o procurei no camarim para pedir autorização, porque Roberto não deixa qualquer um gravar. Ele liberou todas as músicas e ainda disse: "Qual compositor que não gostaria de ter uma música gravada por você?" – contou Angela em entrevista a Zero Hora por telefone, falando de sua casa em São Paulo, acrescentando orgulhosa que recebeu carta branca para registrar até os proibidões do Rei: – Detalhes é uma música que ele não gosta que ninguém mais cante. Mas ele disse que eu poderia gravá-la.

Angela, no entanto, preferiu não cantar Detalhes, elegendo ao lado de seu produtor uma dezena de canções de amor compostas pela dupla Roberto e Erasmo nas décadas de 1960 e 1970.

– Preferi as canções que o Roberto não canta há muito tempo – explicou a cantora.

Seu último disco foi dedicado às canções de Roberto e Erasmo Carlos.
 
Angela Maria - "Você em Minha Vida" (Clipe Oficial)


POSTS RELACIONADOS:
2 Comentários

Comentários

  1. Na década de 50, época em que ter uma grafanola=gira-discos (para os brasileiros som) só estava ao alcance dos ricos (hoje, felizmente, uma realidade bem diferente), ouvia-se muito, às quartas-feiras e aos sábados, no velho Rádio Clube de Angra o programa de discos pedidos QUE QUER OUVIR e em que muitos cantores brasileiros eram solicitados, nomeadamente Ângela Maria, Cauby Peixoto, Agostinho dos Santos, Timóteo e outros desse tempo áureo, Como dizia a minha avó com uma pitada de humor, era o que se podia arranjar na altura.
    Ora, lembro-me perfeitamente, com os meus 8-9 anos de idade, que a primeira carta que escrevi (e que foi entregue de mão-própria na secretaria do RCA) levava como solicitação a canção MEU PRIMEIRO AMOR da Ângela Maria, da qual passei a ser fã, óbvio antes do rei Roberto Carlos.
    Ãngela Maria deixa uma obra no panorama musical brasileiro e não só.
    Que esta voz inesquecível descanse em paz.

    ResponderEliminar
  2. Carlos, olá, como vai? Caso tenha recordação da cantora Nice de Andrade, Princesa dos Músicos da Rádio Nacional de São Paulo, na segunda metade da década de 50, por favor, queira, por gentileza, me enviar informações no email sgkuhlmann@hotmail.com

    ResponderEliminar