Inédita no Brasil, portuguesa Ana Teresa Pereira vence Prêmio Oceanos de Literatura

DO TEXTO:
A escritora Ana Teresa Pereira, vencedora do Prêmio Oceanos 2017 - Foto: Editora Relógio D’Água

A escritora portuguesa é a primeira mulher a ganhar o primeiro lugar da premiação em 15 anos de história; Silviano Santiago ficou em segundo lugar com o romance 'Machado', que já venceu, este ano, o Prêmio Jabuti
         
Maria Fernanda Rodrigues

Ana Teresa Pereira nasceu em Funchal, em 1958, estreou na literatura em 1989, lançou mais de quatro dezenas de livros, ganhou prêmios e era, até hoje, uma desconhecida no Brasil. O anúncio de seu nome como ganhadora do Prêmio Oceanos, feito na manhã desta quarta-feira, 29, começa a mudar isso. E a informação, divulgada um pouco depois, de que a Todavia publicará Karen, o romance premiado, pode ajudar ainda mais na tarefa de apresentar essa escritora – que, aliás, acaba de entrar para a história como a primeira mulher a ficar em primeiro lugar no Oceanos. Ela vai ganhar R$ 100 mil.

“Uma mulher misteriosa, como misterioso é esse romance, que leva o leitor por uma aventura que não sabe qual será o resultado”, disse a poeta Ana Mafalda Leite, do júri, sobre Ana Teresa ao anunciar o prêmio.

Reclusa, discreta, a autora aceitou responder algumas perguntas – e o fez por troca de mensagens com a curadora Ana Sousa Dias no Facebook, acompanhada no telão pela plateia que leu, ainda, sua reação quando informada, antes, de que fora premiada. Ela disse que Karen é um romance especial para ela. Por quê? “Em todos os meus livros, tenho tentado ‘aproximar-me’, no sentido metafísico da palavra. É esse o meu trabalho. E, em Karen, senti que estava muito próxima”, respondeu.

Leitora de Manoel de Barros e Manuel Bandeira, ela falou sobre as influências em seu romance premiado. “Em primeiro lugar, Henry James: temos só um ponto de vista, o da narradora, nunca sabemos mais do que ela. Rebecca de Daphne du Maurier: o título, a opção de nunca dizer o nome da narradora. E os policiais clássicos: o livro tem a estrutura de um policial, pensei nele muitas vezes como um ‘policial abstrato’. Fernando Pessoa: a fragmentação, os duplos, a indecisão entre a realidade e a irrealidade.”

Este foi o primeiro ano em que o prêmio, uma parceira entre Selma Caetano e Itaú Cultural com apoio do Itaú Unibanco, CPFL Cultura e República de Portugal, aceitou a inscrição de obras em língua portuguesa não necessariamente publicadas no Brasil.

O júri foi formado por dois portugueses (a poeta Ana Mafalda Leite e o crítico literário António Guerreiro) e oito brasileiros (as ensaístas Beatriz Resende, Eliane Robert Moraes e Mirna Queiroz, a escritora Maria Esther Maciel, a tradutora e editora Heloisa Jahn e os poetas Eucanaã Ferraz, Ricardo Aleixo e Sérgio Alcides).

Chegaram à seminifinal este ano 51 obras de autores lusófonos e Pepetela, o único africano da lista, não foi selecionado para a etapa seguinte. “Ganhar a África de maneira definitiva”, aliás, é, para Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, o desafio para a próxima edição do prêmio.

Desses 51 semifinalistas, 31 eram livros de autores brasileiros, 19 de portugueses e o do Pepetela. E entre eles, 49 não foram publicados em outro país de língua portuguesa. Mais de 50 editoras estrangeiras inscreveram seus prêmios.

+ Veja a lista dos 10 finalistas do Prêmio Oceanos 2017

Os dados foram destacados pela curadora Selma Caetano, que comentou ainda sobre o fato de que os livros dos portugueses finalistas não estão publicados no Brasil. E mais: “Onze deles nunca tiveram uma obra publicada aqui, sendo que muitos deles foram lançados em quatro, cinco línguas. É o caso de Ana Teresa Pereira, que tem obra traduzida para o francês, inglês, alemão, eslovaco. E também de Silviano Santiago, escritor premiado e traduzido para outras línguas, mas nunca publicado em Portugal”, diz.

Capas de obras da escritora portuguesa Ana Teresa Pereira - Reprodução

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