Amor com animais e outros bichos

DO TEXTO:


Ultimamente ando convicto no propósito de ajudar os outros. Estou mais doce e há uma justificação médica para o comportamento – tenho o ácido úrico em alta.

Ainda pensei criar uma associação antiácido úrico, mas todo o mal tem as suas coisas boas.

O “açúcar no sangue” fez-me afastar das louras frescas e condicionou-me o andamento. Porém, nada de olhar para o lado negativo da questão.

A muleta confere-me um ar à Dr. House e, por via disso, as gajas boas (que normalmente fogem de mim como o diabo da cruz) têm sido mais afetuosas tendo em conta as minhas notórias dificuldades físicas.

Como sou uma pessoa reconhecida e de bons princípios, acho de bom-tom abrir o coração e partilhar este estado de espírito por todos aqueles que me rodeiam.

Vá daí, decidi fundar a associação, sem fins lucrativos, Amor com animais e outros bichos.

O raciocínio é simples: todos (sem exceções) deveriam ter direito a tudo, um pouco como dizia o camarada francês Daniel “O Vermelho” sobre o “proibido proibir”.

Temos de abrir horizontes. Os animais e outros bichos têm o legítimo direito de ocupar qualquer cargo à semelhança dos ditos racionais.

Por que raio um javali não daria um ótimo Presidente da República? Um leão, por exemplo, tinha tudo para fazer melhor do que o professor Jorge Jesus à frente do meu sporting.

É imperativa a atribuição de uma quota mínima para garantir nas bancadas parlamentares a presença dos animais e outros bichos.

Nós, enquanto cidadãos e seres vivos, deveríamos aprofundar o máximo possível o nosso relacionamento com os ditos cujos.

Posso dar exemplos concretos: enrole-se com uma rola, beije a tromba de um elefante, leve um bicho-da-seda ao cinema, dance o tango com um tubarão, um slow com uma serpente e não tenha medo de arriscar - experimente uma rapidinha com a lenta tartaruga.

Se alinhar na defesa desta bicharada, enquanto presidente da Associação Amor com animais e outros bichos, manifesto a minha total abertura com vista a receber os vossos donativos financeiros (não há necessidade em declarar os seus rendimentos).

Roberto Carlos - O progresso

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