“O brasileiro tem de se livrar da telenovela”, diz o roteirista Doc Comparato
Romero Rafael
O dramaturgo e roteirista Doc Comparato conversou com o Social1 em temporada no Recife.
Nascido Luís Filipe Loureiro Comparato, começou a escrever quando morou na Inglaterra, para amenizar os dias de solidão.
À época, estudava pós-graduação em medicina, área em que se formou e na qual trabalhou até os 30 anos. De volta ao Brasil, enveredou para o roteiro. O apelido, Doc – abreviação do inglês doctor, o rebatizou. Seus trabalhos mais populares são séries produzidas pela Globo: Plantão de Polícia (1979), Lampião e Maria Bonita (1982), primeira série latina a conquistar a Medalha de Ouro do Festival de Cinema e Televisão de Nova Iorque; Bandidos da Falange (1983), Padre Cícero (1984), O Tempo e o Vento (1985), A, E, I, O… Urca (1990), A Justiceira (1997) e Mulher (1998).
Em 1989, escreveu a minissérie Me alquilo para soñar, junto com Gabriel García Márquez, para uma TV espanhola. “Foi um divisor de águas. Depois de trabalhar com ele caí no mercado internacional”, diz. Por 20 anos morou fora do Brasil: Portugal, Espanha, Itália, França, Alemanha, Sérvia, Rússia, México e Argentina foram algumas das residências.
Ainda hoje viaja pelo mundo, sobretudo corrigindo roteiros e escrevendo filmes. Mas antes que o renome lhe infle demais o peito, considera: “A minha visão é diferente da de um novelista que ficou aqui, mas não tem importância a mais, são apenas diferentes; elas existem igualmente, e igualmente tem seus valores, individuais e coletivos”. Acompanhe:
O que dizer sobre a relação do brasileiro com a telenovela?
O brasileiro tem de se livrar da telenovela porque há muita repetição. Na TV francesa, europeia, e na própria TV americana passam filmes, seriados, minisséries… A telenovela alcançou um nível, que é reconhecido internacionalmente, mas as novas plataformas baixaram muito a audiência. Então, fazer telenovela é mais barato, mas em compensação já não tem a mesma audiência.
No seu currículo, inclusive, há poucas novelas.
Eu, realmente, não tenho essa capacidade de ficar com uma obra em aberto esperando aquilo girar e repetir… É redundante e me falta esse talento de todo dia ter aquela responsabilidade de escrever tantas folhas.
Há alguma novela da história recente da teledramaturgia que tenha trazido algo novo ao formato já tão batido?
Acho que Avenida Brasil, pelo enredo, pelos personagens, pelas situações. Foi muito bem escrita. Eu, particularmente, gosto muito das novelas de Gilberto Braga, acho interessantes as de Glória Perez e as de Sílvio de Abreu, que tem um lado de comédia.
E dos novos autores? Todos foram meus alunos, mas eu não reconheço, porque nesse horário eu estou trabalhando e vendo outras coisas. Você não vai, às seis horas da tarde, parar e ver novela, a menos que seja uma dona de casa.
Então, você não assiste a novelas. E a séries? Posso dizer que fui um dos criadores da série brasileira. Lá atrás eu já fazia e se fazia muito bem. Naquele tempo, inclusive, não tinha uma telenovela após às dez, era série e minissérie. Mas agora tem novela às dez, às onze… voltou a uma coisa antiga, regrediu. Acho que a televisão brasileira já esteve num melhor momento de criatividade.
Há alguma série da moda de que você gosta? É difícil na minha profissão estar a par de tudo. Estou tão envolvido em trabalhos no exterior, que seria até uma desfaçatez falar de uma sem estar a par de todas. Eu acho interessante, mesmo, os telejornais e acho ruim a venda de horários televisivos para as igrejas. Têm de ser preenchidos por informação, entretenimento, entrevistas e documentários, que é uma coisa que não existe na TV brasileira. Aliás, é curioso como as TVs estatais europeias, como a BBC (Ingaterra), e americana funcionam muito melhor do que as privadas.
Tânia Alves e Nelson Xavier na série “Lampião e Maria Bonita”, de 1982
Em qual dos seus trabalhos há a essência de Doc?
Em primeiro lugar, o melhor momento é quando eu escrevo, e não quando eu vejo as coisas, porque o roteiro se torna outra coisa quando é filmado; sempre há uma perda, apesar de que existe roteiros meus que foram fantásticos no ar. E também minha vida não é feita só de êxitos, tenho meus fracassos, com os quais aprendi. Mas um roteiro “muito Doc” é o de Lampião e Maria Bonita, mesmo eu tendo escrito com Aguinaldo Silva. Foi a primeira vez em que o Brasil ganhou prêmio no exterior.
Por falar nisso, como é escrever em dupla? É um casamento, se você se entender com a pessoa. Eu acho legal, mas agora é difícil eu dividir autoria, tenho colaboradores.
Qual é a diferença? Coautores fazem a estrutura da história juntos. Já aos colaboradores eu explico o que eu quero e a pessoa escreve e eu revejo. Trabalham mais nos diálogos dos personagens.
O que é essencial a um roteirista?
Essa pergunta é difícil porque requer um conjunto de coisas. O que é essencial pra se tornar um pintor? E pra ser arte? O que é essencial pra ter esse pendor? Em primeiro lugar, tem de acreditar em si mesmo e fazer porque gosta; em segundo lugar, se instruir e estudar: ver filmes, ler livros, ver o que as pessoas estão fazendo. É um processo bastante criativo, então tem de estar muito bem alimentado, porque a imaginação nasce a partir de tudo o que está dentro da cabeça.
Romero Rafael
O dramaturgo e roteirista Doc Comparato conversou com o Social1 em temporada no Recife.
Nascido Luís Filipe Loureiro Comparato, começou a escrever quando morou na Inglaterra, para amenizar os dias de solidão.
À época, estudava pós-graduação em medicina, área em que se formou e na qual trabalhou até os 30 anos. De volta ao Brasil, enveredou para o roteiro. O apelido, Doc – abreviação do inglês doctor, o rebatizou. Seus trabalhos mais populares são séries produzidas pela Globo: Plantão de Polícia (1979), Lampião e Maria Bonita (1982), primeira série latina a conquistar a Medalha de Ouro do Festival de Cinema e Televisão de Nova Iorque; Bandidos da Falange (1983), Padre Cícero (1984), O Tempo e o Vento (1985), A, E, I, O… Urca (1990), A Justiceira (1997) e Mulher (1998).
O que dizer sobre a relação do brasileiro com a telenovela?
O brasileiro tem de se livrar da telenovela porque há muita repetição. Na TV francesa, europeia, e na própria TV americana passam filmes, seriados, minisséries… A telenovela alcançou um nível, que é reconhecido internacionalmente, mas as novas plataformas baixaram muito a audiência. Então, fazer telenovela é mais barato, mas em compensação já não tem a mesma audiência.
No seu currículo, inclusive, há poucas novelas.
Eu, realmente, não tenho essa capacidade de ficar com uma obra em aberto esperando aquilo girar e repetir… É redundante e me falta esse talento de todo dia ter aquela responsabilidade de escrever tantas folhas.
Há alguma novela da história recente da teledramaturgia que tenha trazido algo novo ao formato já tão batido?
Acho que Avenida Brasil, pelo enredo, pelos personagens, pelas situações. Foi muito bem escrita. Eu, particularmente, gosto muito das novelas de Gilberto Braga, acho interessantes as de Glória Perez e as de Sílvio de Abreu, que tem um lado de comédia.
E dos novos autores?
Todos foram meus alunos, mas eu não reconheço, porque nesse horário eu estou trabalhando e vendo outras coisas. Você não vai, às seis horas da tarde, parar e ver novela, a menos que seja uma dona de casa.
Então, você não assiste a novelas. E a séries?
Posso dizer que fui um dos criadores da série brasileira. Lá atrás eu já fazia e se fazia muito bem. Naquele tempo, inclusive, não tinha uma telenovela após às dez, era série e minissérie. Mas agora tem novela às dez, às onze… voltou a uma coisa antiga, regrediu. Acho que a televisão brasileira já esteve num melhor momento de criatividade.
Há alguma série da moda de que você gosta?
É difícil na minha profissão estar a par de tudo. Estou tão envolvido em trabalhos no exterior, que seria até uma desfaçatez falar de uma sem estar a par de todas. Eu acho interessante, mesmo, os telejornais e acho ruim a venda de horários televisivos para as igrejas. Têm de ser preenchidos por informação, entretenimento, entrevistas e documentários, que é uma coisa que não existe na TV brasileira. Aliás, é curioso como as TVs estatais europeias, como a BBC (Ingaterra), e americana funcionam muito melhor do que as privadas.
Em qual dos seus trabalhos há a essência de Doc?
Por falar nisso, como é escrever em dupla?
É um casamento, se você se entender com a pessoa. Eu acho legal, mas agora é difícil eu dividir autoria, tenho colaboradores.
Qual é a diferença?
Coautores fazem a estrutura da história juntos. Já aos colaboradores eu explico o que eu quero e a pessoa escreve e eu revejo. Trabalham mais nos diálogos dos personagens.
O que é essencial a um roteirista?
Essa pergunta é difícil porque requer um conjunto de coisas. O que é essencial pra se tornar um pintor? E pra ser arte? O que é essencial pra ter esse pendor? Em primeiro lugar, tem de acreditar em si mesmo e fazer porque gosta; em segundo lugar, se instruir e estudar: ver filmes, ler livros, ver o que as pessoas estão fazendo. É um processo bastante criativo, então tem de estar muito bem alimentado, porque a imaginação nasce a partir de tudo o que está dentro da cabeça.
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