Esse
cara tá diferente. Roberto Carlos repetiu o sagrado ritual de todos os anos no
show de sábado, no Mineirinho: o ginásio lotado cantou os clássicos trintões e
quarentões do Rei, mas a ovação veio em uma “nova” canção: 'Esse cara sou eu' –
o hit responsável por providencial upgrade na recém-finada novela de Gloria
Perez. A outra novata, 'Furdúncio', com sua batida moderninha, também trouxe
algum frescor ao repertório formado por antigos sucessos.
Outro
momento chamou a atenção, fazendo muitas cabeças prateadas balançarem ao ritmo
da eletrônica: a “rave” do Rei. 'Fera ferida', ícone da redenção dos mal-amados, perdeu
aquele jeitão dor de cotovelo para ganhar clima de “fui!” graças ao celebrado DJ
Memê. Roberto fez o comercial: vem aí o disco de remixes de seus clássicos,
assinados por craques das picapes. O cantor contou ao público que jamais
imaginou participar de algo dessa natureza, rasgou seda para Memê e transformou
seu palco em pista multicolorida. Funcionou. Profissional, ele sabe que a fila
anda. Já passou da hora de pelo menos tentar compartilhar com os netos de seus
súditos.
Big
band afiada sob comando de Eduardo Lages e ao lado de seus fiéis
instrumentistas, Roberto transita como poucos entre o sagrado e o profano. Fez
muita gente erguer as mãos, como na missa, ao cantar 'Nossa Senhora'. 'Lady
Laura' é sempre aquele momento emocionado de comunhão do filho devoto com o
público, e 'Jesus Cristo' o tradicional grand finale da “celebração”. Mas a
carne se fez presente – sem culpa. Homenageando os textos 'calientes' de Ronaldo
Bôscoli, autor de roteiros de shows que fizeram dele ícone do show
business nacional, RC exibiu alegremente sua verve “sem-vergonha”,
devidamente acompanhado pelos súditos. Foi assim em 'Proposta' e no que ele
batizou de pot-pourri sensual. Velhinhas de cabeça branca e jovens cantaram a
plenos pulmões versos de 'Seu corpo' e de 'Falando sério'. No refrão de 'Esse
cara sou eu', um tiozinho não se segurou: levantou-se da cadeira e bateu no
peito, feliz da vida.
Profissional do ramo, RC toureou com a tradicional competência a sofrível
acústica do Mineirinho, mas algo quebrou o clima: no intervalo entre as canções,
as luzes se apagavam, via-se o Rei cochichando com o maestro Lages no escuro,
para os spots se acenderem longos segundos depois. Os súditos não pareciam ligar
para a sucessão de “miniblackouts”, mas eles não combinaram com o caprichado
jogo de iluminação. E tome estrelas azuis, quando a canção assim o pedia,
enquanto tons quentes e vermelhos lembravam o “clima motel” nas mais
animadinhas.
Súditos Aos
72 anos, Roberto parece de bem com a vida. Ficaram para trás os tempos de luto e
de canções tristonhas para Maria Rita. Vem aí o disco de remixes. 'Esse cara sou
eu' comprova: o Rei não perdeu suafamosa“pegada”. Agora ele fica devendo o tão
esperado discão de inéditas.
Roberto,
como sempre, fez a sua parte. Observar a multidão de súditos é outro show. A
gente vê jovens, fãs em cadeiras de rodas, velhinhos e velhinhas amparados por
familiares e o cover Fredson de Souza, todo simpático e sorridente, posando para
fotos com dezenas de pessoas.
Entretanto, não dá para entender: do
lado de lá da avenida está o novo Gigante da Pampulha, astro da propaganda
oficial, à espera da Copa do Mundo, cartão-postal da BH de Primeiro Mundo e
pronto para receber turistas do exterior. Do lado de cá da avenida, o calvário
do contribuinte: na calçada de acesso ao Mineirinho, buracos e mais buracos
dificultam os passos daqueles senhores e senhoras que foram ver o Rei. Um casal
de cabeça branca quase se estatela no chão. Enquanto se ouvem os últimos acordes
lá dentro e RC distribui suas rosas, Jesus Cristo — definitivamente — não está
aqui. (AF)
Roberto Carlos se apresenta para público emocionado no Mineirinho
Entretanto, não dá para entender: do lado de lá da avenida está o novo Gigante da Pampulha, astro da propaganda oficial, à espera da Copa do Mundo, cartão-postal da BH de Primeiro Mundo e pronto para receber turistas do exterior. Do lado de cá da avenida, o calvário do contribuinte: na calçada de acesso ao Mineirinho, buracos e mais buracos dificultam os passos daqueles senhores e senhoras que foram ver o Rei. Um casal de cabeça branca quase se estatela no chão. Enquanto se ouvem os últimos acordes lá dentro e RC distribui suas rosas, Jesus Cristo — definitivamente — não está aqui. (AF)
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