Os álbuns do ícone Roberto Carlos que você deve ouvir com ou
sem elas ao seu lado
Rafael Nardini Alguém
que não nasceu na nobreza e é chamado de rei merece atenção. Roberto Carlos
deixou a modestíssima Cachoeiro de Itapemirim (ES) para trás e atravessou cinco
majestosas décadas entre shows, filmes, especiais para a televisão e fez valer o
tal poderoso apelido. Às portas de completar 72 anos – ele nasceu no dia 19 de
abril – e com impressionantes 41 álbuns de estúdio, Roberto, como retrata a
matéria de capa do mês de ALFA, parece ter voltado a sorrir. Passa por uma fase
mais tranquila, contente com seu reinado e se dá o legítimo direito de ocupar o
trono da nossa música popular. Ninguém foi capaz de sintetizar os sentimentos
mais comuns a todos – súditos ou não, domésticas ou megaempresários – que ele:
saudade, tristeza, alegria, ciúme, amor e traição. Da tentativa frustrada do
início de carreira em seguir os passos de João Gilberto e se tornar cantor de
bossa nova ao patamar de grande croonernacional, o nosso Tony Bennett. Os melhores
momentos da carreira discográfica do maior cantor de nossa história você confere
nas próximas linhas.
Roberto
Carlos (1966) - O primeiro
disco após o estouro da Jovem Guarda é para muitos o mais completo do artista.
Com referência aos Beatles na capa – repare na semelhança com “With
The Beatles”, o segundo dos Fab
Four – e no som, a parceria
Roberto-Erasmo chega ao ápice do rock chiclete despretensioso e direto. Tudo
emoldurado pelo hammond esperto de Lafayette, músico trazido novamente ao
showbizz nos últimos anos por Gabriel Thomaz, líder da simpática banda carioca
Autoramas.“Querem
Acabar Comigo”, “Eu
Te Darei o Céu”,“Nossa
Canção”, “Negro
Gato”, “Esqueça”,“Namoradinha
de Um Amigo Meu” e “É
Papo Firme”. Quer mais?
Em
Ritmo de Aventura (1967) - Com
(muito) dinheiro no bolso, sucesso avançando os limites geográficos brasileiros
e ainda cheio de ideias na cabeça, Roberto segue firme os passos dos astros pop
do exterior. Se era moda músicos irem parar no cinema, o que faria o rei não
entrar nessa também?“Como
É Grande O Meu Amor Por Você”,“Eu
Sou Terrível”, “De
Que Vale Tudo Isso”, “Por
Isso Corro Demais”, “Você
Não Serve Pra Mim” e “Quando” entram em qualquer lista séria do melhor do
rock nacional. Essa última, aliás, ganhou clipe filmado no telhado do edifício
Copan, em São Paulo. Lembra alguma coisa?
O
Inimitável (1968) – O último
grande disco que ganhou nome – o título é referência aos seguidores, digamos,
com menor qualidade musical que se proliferavam na época – abre também seu
espectro artístico. Os primeiros traços da melancolia que tomaria conta dos
clássicos da década de 1970 começam a dar mostras por aqui – vide “Eu
Não Vou Mais Deixar Você Tão Só” e “As
Canções Que Você Fez Pra Mim”. Mas o outro lado da moeda também aparece. A
admiração pelo soul americano dá suas caras em “Se
Você Pensa”, “Eu
Te Amo, Te Amo, Te Amo” e “Ciúme
de Você”, os hits inevitáveis da vez. Corais no estilo Motown e arranjos de
sopros também têm sua première.
Roberto
Carlos (1969) – A Jovem Guarda
é coisa do passado, bicho. Lá estava o cantor mais popular do país cabisbaixo,
quase desolado, numa praia deserta. “As
Flores do Jardim de Nossa Casa”, “Sua
Estupidez” e“Diamante
Cor-De-Rosa” mostram a preocupação
com os arranjos tomando uma forma mais séria. Na outra ponta, o hit “As
Curvas da Estrada de Santos” (que
ganharia versão de Elis Regina) e as animadas “Nada
Vai Me Convencer” e “Do
Outro Lado Da Cidade” mostram que
podia dar sol na vida do rei. Há ainda espaço para o amigo Tim Maia – até então
desconhecido -, de quem Roberto toma emprestado o funk “Não
Vou Ficar”. Obrigatório.
Roberto
Carlos (1971) – Se você acaba
de sofrer uma desilusão amorosa, mantenha distância de uma das maiores obras da
história da música brasileira. Em votação popular organizada pelo jornal O
Estado de S. Paulo no ano passado,
o “Álbum
Branco”de Roberto conseguiu a terceira colocação. Talvez merecesse a
medalha de ouro. Nos pouco mais de 43 minutos de disco não há um único eco do
roqueiro do início de carreira. Mesmo assim, mais da metade das canções foram
executadas ao limite do suportável na época do lançamento. O petardo carrega
nada menos que “Debaixo
dos Caracóis Dos Seus Cabelos”, “Amada,
Amante”, “Todos
Estão Surdos”, “Como
Dois e Dois” – presente do amigo
Caetano Veloso direto do exílio londrino – e “Detalhes”,
uma das canções mais regravadas da história do Hemisfério Sul.
Roberto
Carlos (1972) – Sequência de
alta qualidade do trabalho do ano anterior, tanto na capa quanto nos temas
apresentados. “Coisas
da vida”, diz ele em “À
Janela”. E deveria ser uma vida não muito colorida, convenhamos. Conflitos
conjugais, dor de cotovelo, rupturas familiares, devaneios religiosos… Problemas
de gente grande, afinal. Tudo só poderia acabar num divã, nome dado ao ponto
mais alto do disco e, quiçá, de toda a trajetória como compositor.
http://revistaalfa.abril.com.br
15/03/2013
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Alguém que não nasceu na nobreza e é chamado de rei merece atenção. Roberto Carlos deixou a modestíssima Cachoeiro de Itapemirim (ES) para trás e atravessou cinco majestosas décadas entre shows, filmes, especiais para a televisão e fez valer o tal poderoso apelido. Às portas de completar 72 anos – ele nasceu no dia 19 de abril – e com impressionantes 41 álbuns de estúdio, Roberto, como retrata a matéria de capa do mês de ALFA, parece ter voltado a sorrir. Passa por uma fase mais tranquila, contente com seu reinado e se dá o legítimo direito de ocupar o trono da nossa música popular. Ninguém foi capaz de sintetizar os sentimentos mais comuns a todos – súditos ou não, domésticas ou megaempresários – que ele: saudade, tristeza, alegria, ciúme, amor e traição. Da tentativa frustrada do início de carreira em seguir os passos de João Gilberto e se tornar cantor de bossa nova ao patamar de grande crooner nacional, o nosso Tony Bennett. Os melhores momentos da carreira discográfica do maior cantor de nossa história você confere nas próximas linhas.
Roberto Carlos (1969) – A Jovem Guarda é coisa do passado, bicho. Lá estava o cantor mais popular do país cabisbaixo, quase desolado, numa praia deserta. “As Flores do Jardim de Nossa Casa”, “Sua Estupidez” e“Diamante Cor-De-Rosa” mostram a preocupação com os arranjos tomando uma forma mais séria. Na outra ponta, o hit “As Curvas da Estrada de Santos” (que ganharia versão de Elis Regina) e as animadas “Nada Vai Me Convencer” e “Do Outro Lado Da Cidade” mostram que podia dar sol na vida do rei. Há ainda espaço para o amigo Tim Maia – até então desconhecido -, de quem Roberto toma emprestado o funk “Não Vou Ficar”. Obrigatório.
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