Família americana que se distinguiu no Faial (Açores)
Publicado no site MAIS DE 50 ANOS (Blog do CAA)
Com prefácio de Maria Filomena Mónica e seleção de textos e
notas de Paulo Silveira e Sousa, foi apresentado nas nossas três cidades
«históricas» o livro «Os Dabney – uma Família Americana nos Açores». É uma
iniciativa da FLAD, visando a divulgação dos «Anais da Família Dabney no Faial»
que, nos 3 volumes – 1797 páginas… – da versão portuguesa lançada pelo IAC
entre 2004 e 2006, assustavam muita gente... É agora um conjunto de textos
escolhidos (ainda assim, de 513 páginas) da história açoriana desta família de
Boston brahmins, proeminente durante três gerações na sociedade da Horta, em
funções consulares, no comércio exportador e na atividade de ship-chandler. O
Faial e a Horta, cenário quase permanente dos «Anais», aparecem-nos ali como
centro de um mundo – o amplo mundo do Dabney que, sem telégrafo e com navegação
à vela, ia dos Estados Unidos da América a Valparaíso, no Chile, ao norte da
Europa e às Canárias. Nessa medida, perpassam ali as lutas liberais
portuguesas, a guerra da secessão norte-americana, muito da história mundial
dos três primeiros quartéis do século XIX, numa visão doméstica mas nunca
provinciana, a demonstrar que a centralidade destas ilhas, mais do que a sua
localização geográfica, decorre sobretudo da cultura, do empreendedorismo e da
capacidade de relacionamento externo de quem nelas vive. De acordo com os seus
valores, os Dabney cultivavam a disciplina, a compostura, o interesse pela
literatura e as aquisições da ciência, a par de uma viva atenção aos negócios
de que confortavelmente viveram e, nesta perspectiva, ao meio que os rodeava.
Um meio simpático e pobre (para eles, de bens materiais e de espírito) que
naturalmente os determinaria a mandar para Harvard os filhos na idade da
educação superior – e a abandonar o Faial quando a sua atividade econômica
passou a menos lucrativa, mormente por concorrência que lhe foi feita. Muita
coisa nos «Anais» dos Dabney não é propriamente exaltante para os nossos brios
nacionais. Porém não faz mal sabê-lo, que mais não seja senão para entender
como o progresso tem de partir de um impulso endógeno articulado com o
relacionamento externo: o que de algum modo viria a acontecer nos Açores – só que
muito tempo depois… E isso, que está longe de ser tudo, só redobra o interesse
em conhecer esta obra, para lá do que ela nos testemunha em termos de
relacionamento humano e faz reviver em panorâmica local e do mundo atlântico de
então. NOTA FINAL - Tenho pela ilha do Faial um carinho muito grande. Visitei a
ilha diversas vezes em reportagem. Depois, em 1987, quiçá por ironia do
destino, fui o primeiro treinador de futebol profissional a passar pela ilha,
tendo sido campeão da AF da Horta pelo Sporting, o clube que acreditou nas
minhas potencialidades. Mais tarde, em 2003, registrei mais uma passagem pelo
Faial, ou seja, um ano antes de vir para o Brasil. Aliás, foi na cidade da
Horta que comecei a cogitar na hipótese de vir ao Brasil de férias. Lá na ilha,
muitos brasileiros que trabalhavam (ainda trabalham, por certo, alguns) na
reconstrução me passaram algumas importantes dicas sobre este seu país. Do
Faial conheço muita estória, para além dos Dabney, foi no Café Internacional,
na cidade da Horta (capital da ilha), que o Dr. Vicente de Melo (então
professor na cidade), aproveitando a presença da deslocação do Casa Pia
Atlético Clube, que foi acompanhado por esse extraordinário homem chamado
Cândido de Oliveira, preparou uma reunião para o lançamento do Jornal “A Bola”,
jornal esse que eu, muito tempo depois, com toda a felicidade, servi durante
vinte anos. Acresce que “A Bola”, o jornal de maior tiragem e expansão em
Portugal, tem como seus fundadores Cândido de Oliveira, Dr. Vicente de Melo e
Tenente-Coronel Ribeiro dos Reis, todos falecidos. No jornal, hoje, estão as
filhas de Vicente de Melo e de Ribeiro dos Reis, respectivamente, a Drª. Maria
Hermínia Agra Lima e Maria Margarida Ribeiro dos Reis, pessoas por quem eu
nutro enorme consideração. Finalmente, agradecer a um velho amigo da cidade da
Horta pelo fato de me ter enviado os dados que solicitei sobre “Os Dabney”.
Por: Carlos Alberto Alves
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