Cesaria Evora, diva de Cabo Verde, mantinha os pés descalços na tradição

DO TEXTO:
Cesária Évora


Cesaria Evora foi a maior estrela musical de Cabo Verde. Sem sua voz emotiva e seu discreto carisma, a música popular desse arquipélago africano, ex-colônia de Portugal, não seria hoje tão conhecida mundialmente.

Pelo que representou para a cena musical do último século, é justo equipará-la a outras grandes divas do canto, como Amália Rodrigues (1920-1999), principal intérprete do fado português, Bessie Smith (1894-1937), maior cantora do blues clássico norte-americano, ou Celia Cruz (1925-2003), "rainha" da salsa cubana.

Sobrinha do compositor B. Leza, que ajudou a dar forma à moderna canção cabo-verdiana, Cesaria nasceu em 1941, no porto de Mindelo. Sua carreira musical levou décadas para engrenar. Chegou a fazer gravações em Portugal, na década de 1970, mas só alcançou o sucesso quando já era cinquentona.
Lançado em 1992, "Miss Perfumado" foi o álbum que a projetou mundialmente.
Nenhum gênero musical identificou-se tão bem com sua imagem artística como a "morna".

Hoje um símbolo cultural de seu país, essa modalidade de canção caracteriza-se por versos carregados de melancolia, que falam de amores frustrados, saudade e exílio -como "Sodade", o maior sucesso de Cesaria.
O hábito de entrar nos palcos sem sapatos, que a tornou conhecida como "a diva dos pés descalços", não era apenas uma idiossincrasia. Soava também como um gesto que expressava seu apego às raízes da música que cultivou.

"Quem quiser se afastar da tradição que se afaste. Sempre cantei e vou continuar cantando música típica de Cabo Verde", afirmava, quando lhe perguntavam se não pensava em "modernizar" seu repertório ou tocar com instrumentos eletrônicos.

Essa determinação não a impediu de se aproximar da música brasileira, pela qual tinha grande admiração.

Fã de Angela Maria, Cesaria gravou dois de seus sucessos: "Negue" e "Beijo Roubado" (ambos de Adelino Moreira). Também fez parcerias com Caetano Veloso, Gal Costa e Marisa Monte.

À Folha, em 2005, ao revelar que gostava das folias do Carnaval, Cesaria disse que não era tão melancólica quanto faziam supor as mornas. "Posso não ser muito alegre, mas triste também não sou. A alegria e a tristeza são vizinhas", filosofou com sabedoria a diva descalça.

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

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1 Comentários

Comentários

  1. Olà querida Guta! fiquei muuito trista ao saber desta noticia.Cesaria tinha muito talento e até aqui éra muito querida e apreciada pelos Franceses.Beijinhos

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