O Baú do Carlos Alves (10)

DO TEXTO:


As duas paixões do Jaiminho engraxador


Por: Carlos Alberto Alves

Engraxador também significa bajulador, mas, neste caso, chamo à estampa o Jaiminho engraxador de sapatos, figura muito conhecido Na ilha do Faial (Açores) e que, no exercício da sua profissão, sempre (...) assentou arraiais no Largo do Infante, alternando, também, com os cafés Volga e Internacional. Era

por ali que sempre encontrávamos o Jaiminho, essa figura carismática que os faialenses veneram (está mais velhinho, mas ainda vivo e ao que dizem ainda matreiro), pela sua simpatia e, fundamentalmente, pelo seu amor clubista, concretamente ao Fayal Sport Club, decano clube açoriano, e Sport Lisboa e Benfica. E vamos começar por aqui: quando o Benfica foi ao Fayal defrontar a seleção da ilha (11-1, Tino Lima marcou o golos dos faialenses), o Jaiminho quase que enlouqueceu de alegria.

Era o seu sonho ver o Benfica jogar. Do sonho à realidade e... logo na ilha do Faial. Mais: o Jaiminho até teve honras de reportagem no Jornal "A Bola", da autoria do meu querido amigo e companheiro Cruz dos Santos que, curiosamente, sendo benfiquista, era bem aceite no Sporting. Também um dos amigos de Mário Lino. O Jaiminho jamais esquece esse dia em que, em pleno Largo do Infante, foi entrevistado para o maior jornal desportivo de Portugal. E quando o jornal chegou à Horta, inserindo a referida entrevista, lá andava o Jaiminho com um exemplar debaixo do braço, exibindo para os amigos que passavam.

Da outra paixão clubística, o Fayal Sport, Jaiminho também se transcendia em termos de emotividade. Quando fui treinar o Sporting da Horta, na época de 86/87 (campeão de ilha e campeão da AFH), o Jaiminho sempre gostava de uma amena cavaqueira, mas, atrevidinho como era (ainda deve ser, apesar da idade avançada), colocava esta alfinetada: você vai perder com o Fayal Sport e o campeão vai ser o Salão (que era treinado pelo meu amigo Manuel Lino). Com o meu sorriso sarcástico, lá desapontava o Jaiminho: vai ser trigo limpo. O Jaiminho ria de sacanagem.

Quando derrotei o Fayal Sport (3-1) na Alagoa, no dia seguinte procurei o Jaiminho para me engraxar os sapatos e fui-lhe adiantando: têm que ficar nem um espelho porque, no próximo domingo, à noite, depois de vencer o Salão e consequentemente ser campeão, vou a uma jantarada. O Jaiminho fitou-me e aprontou esta: desta vez, não terás a mesma sorte. E lá vencemos o Salão por 3-1. No dia seguinte, procurei de novo o Jaiminho. Então, amigo, mais uma "chapa três". O Jaiminho estava sério, sem argumento plausível e eu entrando forte: Jaiminho, esta noite foi de celebrar até não poder mais, sobretudo em casa do Carlos Batelão em que o stock de champanhe espanhol acabou. Uma grande comemoração. Desta feita, o Jaiminho falou. Como foram campeões, isso foi normal. Mas, de seguida, é que foi bonito. Atalhei: Jaiminho foi pelo nosso êxito e pelo "funeral" do Fayal Sport. Aí mexi mesmo com o sentimento do Jaiminho que levantou a caixa de engraxar e foi embora todo zangado. Só não sei os nomes feios que me chamou.

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