Documentário sobre Waldick Soriano coloca sertão baiano no mapa

DO TEXTO:
Já era a quinta ou sexta pergunta que começava exatamente do mesmo jeito. "Oi, Patrícia. Eu também gostaria de dizer, como cidadão caetiteense, que é um orgulho para a nossa cidade poder contar aqui com a presença ilustre da maior atriz brasileira dos tempos de agora. Uma das maiores. O que eu queria saber era se..."
A dúvida era o de menos. O que importava de fato para aqueles jornalistas, e isso eles deixavam escapar em cada tremida nervosa de voz, era fazer o tal agradecimento.

Diretora do filme "Waldick Soriano - Sempre no Meu Coração", ela, "a maior atriz brasileira dos tempos de agora", estava incluindo a desconhecida Caetité no mapa do Brasil. Era mais ou menos isso o que eles queriam dizer. Ver documentada em filme a história do filho mais famoso daquela terra fazia com que cada um ali se sentisse também lembrado, representado, importante, vivo. E isso fazia um bem danado para a autoestima da cidade toda.
O documentário de Patrícia Pillar sobre o cantor Waldick Soriano é projetado na tela redonda da Praça da Catedral, em Caetité
Era uma noite gelada de quinta-feira, 13 de agosto último. Estavam, os jornalistas e Patrícia Pillar, em uma coletiva de imprensa no anfiteatro da Casa Anísio Teixeira, no Centro de Caetité. Para chegar ali, a atriz/diretora teve que viajar por quase 12 horas.
Primeiro, um voo do Rio, onde mora, a Salvador. Depois, outro, em avião de 30 lugares, até Vitória da Conquista, interior da Bahia. Por fim, enfrentou mais de quatro horas em uma van numa estrada tão esburacada que o velocímetro não ultrapassava os 30 km/h.
A viagem sofrida tinha um sentido emocional. Depois de algumas exibições em festivais e em canais de TV a cabo, seu filme sobre Waldick Soriano (1933-2008) finalmente ganharia os cinemas --mas só os de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza. Nada mais justo que a cidade do documentado fosse a escolhida para a pré-estreia, em sessão ao ar livre na Praça da Catedral.
"Não sei quantas pessoas vieram, não. A gente estava cuidando aqui, mas não conseguiu contar", (não) informava um policial, pouco antes da projeção. Seu colega dava o palpite: "Pelo que eu vejo tem aqui umas 6.000 pessoas, porque a praça está bem lotadona".


Se o chute dele estava mesmo certo, mais de 10% da cidade --Caetité tem aproximadamente 50 mil habitantes-- haviam baixado ali para ver o filme. O filme? "Patrícia, cadê você, eu vim aqui só pra te ver!"Quem puxava o coro, que repercutia em toda a praça, era o grupo de meninas que chegou bem cedo para ficar mais perto do palco. "A gente queria tirar uma foto com a Flora, me leva lá?", pedia uma delas, mostrando a câmera digital e cartazes com a foto da atriz, a quem quer que tivesse alguma pinta de estar envolvido com o evento. Flora, no caso, é o nome da vilã interpretada por Pillar na última novela das oito.
Depois de um pequeno discurso da diretora, que, tímida, resumiu sua relação com Waldick e "os mistérios que rondaram nossos silêncios e eu nunca quis quebrar", o vozeirão do cantor toma a praça, enquanto sua imagem surge na tela --redonda-- lá no alto.
O coro foi murchando, as câmeras entraram nas bolsas, as fotos de Flora foram para o chão. Caetité fez silêncio. Era hora de se assistir no cinema.

Dirigido pela atriz Patricia Pillar, o documentário "Waldick Soriano - Sempre no Meu Coração" estreia no canal pago GNT na próxima quinta-feira (16), às 21h.
Vestido sempre com roupas pretas e óculos escuros, Soriano ganhou fama com a música "Quem És Tu?" e se tornou ídolo nas décadas de 1960 e 1970 como autor de clássicos como "Eu Não Sou Cachorro, Não" e "Tortura de Amor".
No documentário, depoimentos e imagens de arquivo refazem a trajetória do artista baiano. "As músicas do Waldick me encantam há anos e, com o tempo, fui me apaixonando também pelo personagem que ele é. O público precisa conhecer mais sobre ele", explica Patrícia Pillar sobre a decisão de fazer o documentário.


Waldick Soriano morreu em setembro de 2008, aos 75 anos, de um câncer que já tratava há dois anos. Na época, Patrícia fez uma declaração pública de pesar: "Me aproximei de Waldick como fã e, hoje, posso dizer que me sinto parte da família. Percorrendo o Brasil, vi o quanto ele era querido e derretia o coração das fãs. Waldick, além de ser um grande artista popular, era um homem amoroso e sempre tinha um olhar inteligente sobre as coisas. Com seu jeito divertido, conseguia falar direto ao coração. Waldick fará falta porque era um invasor de corações e a cara do Brasil".








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