Jovem Guarda teve origem no rock nacional juvenil dos anos 50

DO TEXTO:


Na maioria das histórias sobre o programa Jovem guarda é como se, de repente, o pessoal na agência de publicitária Magaldi, Maia & Prosperi tivesse criado a jovem guarda do nada, numa sessão de brain storming oferecido à emissora, que precisava ocupar o horário deixado vago pela proibição das transmissões nas tardes de domingo. O programa por pouco não foi batizado de Festa de arromba, canção que fazia muito sucesso com Erasmo Carlos, cuja letra era um quem é quem do rock brasileiro da época. É que, cinco anos antes, na TV Tupi de São Paulo, um jovem chamado Ricardo Amaral estreou uma atração chamada Jovem guarda, dedicada à juventude do high society paulistano. Amaral assinava uma coluna com o mesmo nome no jornal Última Hora, a partir do final da década, seria conhecido como um dos maiores empresários da noite no País. O impacto do segundo programa Jovem guarda da TV brasileira foi tão forte que ninguém lembrou do homônimo. Foi no Teatro da Record, na Rua da Consolação, região Central da capital paulista, onde desaguou devidamente nacionalizado, o rock n roll que aportou no Brasil dez anos antes, como uma mera curiosidade entre as muitas importadas, como o charleston ou o shimmy, no início do século 1920. Muita gente ajudou a fazer com que ele corresse para São Paulo, como o empresário paulista Geraldo Alves, que começou a trabalhar com Roberto Carlos, em 1964. "Na época, ninguém acreditava em cantores da juventude. Vários estúdios me bateram a porta na cara quando tentei empresariá­los. Mas quando Roberto estourou, eu trouxe a jovem guarda definitivamente para São Paulo", jactou-­se Alves, numa entrevista à revista Intervalo, em 1967. A própria publicação referendava a importância numa matéria em que também destacava a secretária Edy Silva, intitulada: "Os anjos da jovem guarda". A ida para São Paulo de Roberto Carlos e seu séquito carioca não aconteceu por obra e graça do empresário. A cena roqueira da cidade era tão forte quanto a do Rio. Se o primeiro Rei do Rock nacional, Sérgio Murilo (1941 ­ 1992), foi carioca, e a Rainha, Celly Campello (1942 ­ 2003), era nascida em Taubaté, interior de São Paulo. Em setembro de 1955, Nora Ney pegou uma carona na cauda de um cometa e gravou o hit mundial Rock around the clock, com um grupo de insuspeitadas ligações com o "selvagem ritmo da juventude", o Sexteto Continental, do maestro Radamés Gnattali, cujo guitarrista é o virtuoso cearense Zé Menezes (falecido no ano passado) e o acordeonista é Chiquinho, lendas da música instrumental brasileira. Em 1959, o rock n roll já se tornara uma febre no País, como lembra Juca Chaves, em uma de suas sátiras: "O rock and roll nesta terra é uma doença/e o futebol é o ganha pão da imprensa". Contaminado por esta febre foram os irmãos Carlos Alberto e Meire Pavão, filhos de professor de música e violonista Theotônio Pavão que, assim como os irmãos Tony e Celly Campello, caíram no rock and roll. "Eu comecei no rock por brincadeira e depois acabei gravando discos. Meu objetivo era gravar e fazer shows até terminar a faculdade, depois seguiria outros caminhos. Meire parou até os estudos para se dedicar à carreira (muitas viagens, etc.) e mais tarde teve que voltar a estudar para entrar na Faculdade de Ciências Sociais da USP, onde foi colega de Bete Mendes" conta Albert Pavão (o Albert para não ser confundido com o cantor de boleros Carlos Alberto). Meire por pouco não se torna a "maninha" de Roberto e Erasmo na jovem guarda, posto ocupado pela mineira Wanderléa. Apostou­se nela como sucessora de Celly Campello, que largou tudo para casar com o namoradinho, um funcionário da Petrobras. Seu LP de estreia foi intitulado A rainha da juventude. Sua música, como a de tantos ídolos pré­jovem guarda, foi esquecida, mas seu nome foi eternizado nos versos de Festa de arromba: "Enquanto Prini Lorez bancava o anfitrião/apresentando a todo mundo Meire Pavão




in-jconline.ne10.uol.com.br
POSTS RELACIONADOS:
Enviar um comentário

Comentários