Os riscos de pular o 'leg-day' na academia: por que não treinar pernas pode ser uma péssima ideia

O ortopedista destaca que a massa muscular da coxa deve ser sempre estimulada, já que ela tem músculos muito importantes para os joelhos.

Homem treinando musculação.

 

Prática é comum entre homens


Com o hipertrofia dos músculos superiores, sem o estímulo nos músculos da perna, a sobrecarga de peso corporal pode causar inflamações e processos degenerativos no joelho. Além de prejudicar o ‘shape’, pular o treino de pernas pode acelerar o desenvolvimento de artrose


São Paulo — 15/09/2023 - Na academia de musculação, uma cena é muito comum entre os homens: peitorais, bíceps e dorsais definidos, grandes e com muitos músculos; pernas finas e fracas. Pular o “leg-day” (dia do treino de perna) é uma prática que o TikTok e o Reels levam com humor, mas é um dos principais erros cometidos pelos homens na musculação, justamente por ser o treino mais odiado e exaustivo. “As pernas são a base para a maioria das atividades. Elas abrigam alguns dos maiores músculos do corpo, e construir pernas saudáveis pode melhorar o desempenho, reduzir lesões e aumentar a resistência. Pular o treino de pernas é extremamente maléfico para uma das articulações mais importantes e sobrecarregadas do corpo: a dos joelhos. Quando temos um aumento do peso corporal, pela hipertrofia dos músculos superiores, sem que os músculos da pele acompanhem esse aumento, criamos uma sobrecarga articular nos joelhos. Isso causa um trauma repetitivo e excessivo da cartilagem, que culmina em sua degeneração. É fundamental que o estímulo muscular também seja dado aos músculos da perna”, explica o Dr. Marcos Cortelazo*, ortopedista especialista em joelho e traumatologia esportiva, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT). Em outras palavras, pular o leg-day pode prejudicar não só a estética corporal, o famoso ‘shape’, como também a saúde articular.

O ortopedista destaca que a massa muscular da coxa deve ser sempre estimulada, já que ela tem músculos muito importantes para os joelhos. “Como o joelho depende da ação de 10 músculos para funcionar – quadríceps femoral (vasto medial, vasto intermédio, vasto lateral e reto femoral), isquiotibiais (semitendíneo, semimembranáceo e bíceps femoral), tensor da fáscia lata e gastrocnêmios (gastrocnêmio medial e gastrocnêmio lateral) – o alongamento e fortalecimento desses músculos protege e melhora a função articular dos joelhos”, diz o médico. Além da artrose, uma condição degenerativa que causa desgaste das articulações e causa dor, há risco de condromalácia, quando a sobrecarga gera inflamação na cartilagem, que fica mole com o tempo. “Se o diagnóstico demorar a ser feito, o joelho pode ficar inoperável, piorando suas condições gradativamente”, diz o médico. Outras lesões geradas por excesso de carga são: lesão da cartilagem e lesão meniscal degenerativa.

Agachamento, leg, stiff, flexora e extensora, enfim, todos os exercícios de perna são importantes, segundo o médico. “Eles trazem diretamente três benefícios básicos: 1) ajudam a manutenção do peso corporal; 2) fortalecem a musculatura exercendo assim um efeito de proteção das articulações através da melhora do desempenho biomecânico e sustentação do esqueleto; e 3) ativam a circulação do líquido sinovial que nutre a cartilagem através do processo de embebição”, explica o médico. “O ideal é dar a mesma atenção e intensidade que treinamos os músculos superiores. A progressão de carga deve ser feita com o tempo, tomando cuidados também com excessos para não lesionar os músculos e inflamar as articulações”, completa o Dr. Marcos. “Em caso de dores na região, é fundamental procurar um ortopedista.”

Outros benefícios de treinar as pernas

Segundo a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita*, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), pelo tamanho dos músculos, toda forma de exercício físico que fortaleça essa região é extremamente benéfica para a circulação do corpo inteiro. Isso pode, até mesmo, ajudar na hipertrofia dos músculos superiores. “Além disso, é importante que tenhamos noção que, enquanto o coração é o grande protagonista do sistema arterial, a musculatura da panturrilha é o principal responsável pelo retorno efetivo do sangue para o pulmão. Por isso dizemos que a panturrilha é o coração das pernas. Dessa forma, é fácil imaginar que qualquer situação onde a panturrilha não funcione adequadamente vai piorar a circulação, diminuindo a velocidade do sangue dentro das veias”, explica a cirurgiã vascular. “Segundo estudo feito pelo King’s College, de Londres, exercitar os músculos das pernas têm papel essencial na manutenção das funções cognitivas, prevenindo perdas de memória e sinais de perda cognitiva associada à idade”, acrescenta a Dra. Aline. “Os pesquisadores relataram uma notável relação protetora entre a aptidão muscular (a força das pernas) e a proteção cognitiva. Intervenções direcionadas para melhorar a força das pernas a longo prazo podem, segundo os pesquisadores, ajudar a alcançar uma meta universal de envelhecimento cognitivo saudável”, finaliza a médica, que também é membro do American College of Lifestyle Medicine.

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*DR. MARCOS CORTELAZO: Ortopedista especialista em joelho e traumatologia esportiva. Graduado em Medicina e pós-graduado em Ortopedia e Traumatologia pela Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), o Dr. Marcos Cortelazo é membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), da Sociedade Latino-americana de Artroscopia, Joelho e Esporte (SLARD) e da Sociedade Internacional de Artroscopia, Cirurgia do Joelho e Medicina do Esporte (ISAKOS). Sócio efetivo da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho e da Sociedade Brasileira de Artroscopia, o especialista integra o corpo clínico dos hospitais Albert Einstein, São Luiz e Oswaldo Cruz. CRM 76316 Instagram: @dr.marcos_cortelazo

*DRA. ALINE LAMAITA: Cirurgiã vascular, Dra. Aline Lamaita é membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Membro da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine, a médica é formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (2000) e hoje dedica a maior parte do seu tempo à Flebologia (estudo das veias). Curso de Lifestyle Medicine pela Universidade de Harvard (2018). A médica possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. RQE 26557. Instagram: @alinelamaita.vascular
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