Por que algumas pessoas com acne sofrem mais com inflamação do que outras? Descubra o que fazer

DO TEXTO: A acne pode ser inflamada ou não. Mas quando há inflamação envolvida, ela é mais grave, pode causar vermelhidão, inchaço e desconforto...
A acne pode ser inflamada ou não. Mas quando há inflamação envolvida, ela é mais grave, pode causar vermelhidão, inchaço e desconforto

A acne pode ser inflamada ou não. Mas quando há inflamação envolvida, ela é mais grave, pode causar vermelhidão, inchaço e desconforto

São Paulo — Agosto 2020 - É realmente muito difícil encontrar alguém que não tenha sofrido em algum momento com uma pequena espinha. Mas existem pessoas que sofrem muito mais com a acne, enfrentando uma inflamação persistente. “A acne pode estar inflamada ou não inflamada. Quando ocorre essa inflamação, ela é mais grave e pode causar pústulas com vermelhidão, inchaço e desconforto. Quando não inflama, ela é geralmente responsável por cravos e pápulas”, afirma a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Mas por que algumas pessoas sofrem mais com a inflamação? “Existe uma pré-disposição genética para acne. Alguns indivíduos apresentam mais acne e inflamação. É comum observar, por exemplo, uma concordância maior de acne em gêmeos, então existe sim uma influência genética bem relevante. E essa influência genética está associada com um processo inflamatório, geralmente por conta do gene TNF-alfa, que está associado com o maior ou menor risco de acne dependendo do genótipo (conjunto de genes que não são modificados naturalmente)”, afirma o geneticista Dr. Marcelo Sady, Pós-Doutor em Genética e diretor geral Multigene. Esse risco maior de inflamação da acne também pode explicar porque algumas pessoas sofrem com cicatrizes permanentes.

Explicando o processo – Primeiramente, vamos ao que ocorre no processo inflamatório da acne. “Em uma pele saudável, é normal que ela se renove naturalmente e as células mortas atinjam a superfície e desapareçam (sofrem descamação e são substituídas por novas células). Quando uma pessoa é propensa a acne, parte desse processo é acelerado, fazendo com que células antigas se acumulem nos poros e bloqueiem suas aberturas. Essas células coletadas se misturam com os óleos naturais da pele. Em uma pessoa com acne não inflamada, isso forma o comedão ou cravo. Em uma pessoa com acne inflamada, o óleo e as células da pele continuam se acumulando, criando um lar para bactérias da acne. As bactérias, o óleo e as células da pele rompem a parede do poro abaixo da superfície da pele e o sistema imunológico do corpo responde, combatendo as bactérias, e causando inflamação. E isso, quando é mais acentuado, pode causar vermelhidão, inchaço, irritação, dor e coceira, além de manchas”, afirma a Dra Paola. Nesse caso, temos espinhas vermelhas ou inchadas, com nódulos ou cistos.

O que sentimos na pele – A acne inflamada pode aparecer de várias maneiras. Uma pessoa pode ter um ou mais dos seguintes tipos de espinhas: pápulas, pústulas, nódulos e cistos. “As pápulas são inchaços vermelhos, que não têm centros brancos e podem variar em tamanho. As pústulas são semelhantes às pápulas, mas têm centros de pus brancos ou amarelos, e a pele ao redor pode ser vermelha. No caso dos nódulos, há um inchaço doloroso profundo na pele, mas não têm pus visível em seus centros. E os cistos são como os nódulos, se formam profundamente na pele e não têm centros brancos, mas são mais vermelhos. Além disso, os cistos são macios e geralmente dolorosos ao toque. Eles podem parecer furúnculos ou feridas”, afirma a dermatologista.

Às vezes, pode ser difícil distinguir a acne inflamada da ‘não inflamada’, especialmente em casos mais leves. Uma pessoa com acne inflamada pode ter: espinhas vermelhas, inchadas ou doloridas; espinhas com um centro de pus branco ou amarelo cercado por vermelhidão; espinhas duras e dolorosas sob a pele que nunca atingem a superfície; cicatrizes "sem caroço" na pele de espinhas inflamadas anteriores.

Tratamento – Segundo a Dra. Paola, pessoas com acne inflamada leve podem se beneficiar do uso de tratamentos que contêm peróxido de benzoíla, adapaleno ou ácido salicílico. “O objetivo do tratamento da acne é minimizar futuras crises e ajudar a prevenir cicatrizes e sofrimento emocional. Isso pode ser especialmente comum entre pessoas com acne grave. Os médicos podem tratar a acne inflamada com terapias via oral ou tópicas de antibióticos, que podem ajudar a matar as bactérias da acne e acalmar a inflamação, além do uso oral de pílulas anticoncepcionais em pacientes mulheres para ajudar a equilibrar hormônios que causam crises de acne, ou isotretinoína, além de terapias de laser ou luz”, afirma a médica.

Prevenção – Tomar medidas para manter os poros limpos pode ajudar a prevenir a acne inflamada, assim como apostar na hidratação da pele também é importante para evitar o efeito rebote (quando a pele fica ressecada demais por conta de algum produto e entende que sofreu um ataque, produzindo mais oleosidade como compensação). “Invista também em uma rotina de cuidados, lavando o rosto duas vezes ao dia com um sabonete ou gel de limpeza suave que remove o óleo e qualquer maquiagem. Em seguida, aplique hidratantes seborreguladores ou produtos de acne. Use produtos rotulados como não comedogênico ou não acnegênico. E use sempre filtro solar, porque alguns tratamentos para acne tornam a pele mais sensível ao sol”, afirma a médica, que também orienta evitar levar a mão ao rosto, controlar o estresse e investir em uma alimentação mais equilibrada e sem a presença exagerada de alimentos pró-inflamatórios, como os carboidratos de alto índice glicêmico, as frituras e os derivados de leite. “E nunca esprema uma espinha, pois isso pode deixar marcas e manchas”, completa.

Quando o exame genético pode ajudar – Segundo o Dr. Marcelo Sady, quando você sabe qual o genótipo do gene TNF-alfa, você consegue modular a expressão desse gene. “Então se é um processo inflamatório exagerado que está piorando a acne, o que você pode fazer: você genotipa alguns genes, o TNF-alfa é um deles que está associado com o processo inflamatório, e se o indivíduo tem um alelo (forma alternativa de um determinado gene) que leva a um processo inflamatório mais intenso, você vai usar alguns ativos orais em uma determinada concentração para frear e adequar a expressão desse gene”, diz o geneticista. Mas é importante ter em mente que adequar a expressão não é o mesmo que impedir o gene. “Precisamos do TNF-alfa, porque ele está associado a uma resposta inflamatória que nos protege contra várias infecções, inclusive de vírus. Então o exame ajuda justamente para que não se exagere na dose durante o tratamento, porque isso pode diminuir tanto a produção de TNF-alfa, que vai comprometer a resposta imunológica. Então você tem que adequar a expressão do gene, sem exagero”, afirma o Dr. Marcelo. Além disso, há casos em que existem dois alelos de risco que levam a um processo inflamatório mais intenso, devido à maior produção de TNF-alfa. “Isso significa que para haver essa adequação, você vai precisar de mais ativos orais ou tópicos em uma concentração maior, para frear essa maior produção, já que está sendo produzido em maior intensidade por esses dois alelos”, explica ele. E o exame pode ajudar até mesmo no controle da dieta, já que alguns alimentos estimulam a inflamação no corpo. “Então, se você tiver uma dieta adequada, você vai minimizar a inflamação sistêmica. E inclusive vai minimizar a inflamação na pele que está levando à acne”, finaliza o geneticista.

FONTES:
*DRA. PAOLA POMERANTZEFF - Dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), tem mais de 10 anos de atuação em Dermatologia Clínica. Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina Santo Amaro, a médica é especialista em Dermatologia pela Associação Médica Brasileira e pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, e participa periodicamente de Congressos, Jornadas e Simpósios nacionais e internacionais.http://www.drapaola.me/
*DR. MARCELO SADY: Pós-doutor em genética com foco em genética toxicológica e humana pela UNESP- Botucatu, o Dr. Marcelo Sady possui mais de 20 anos de experiência na área. Speaker, diretor Geral e Consultor Científico da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem, o especialista é professor, orientador e palestrante. Autor de diversos artigos e trabalhos científicos publicados em periódicos especializados, o Dr. Marcelo Sady fez parte do Grupo de Pesquisa Toxigenômica e Nutrigenômica da FMB – Botucatu, além de coordenar e ministrar 19 cursos da Multigene nas áreas de genética toxicológica, genômica, biologia molecular, farmacogenômica e nutrigenômica.

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