MSF pede que solicitantes de asilo aos EUA tenham acesso à saúde na epidemia da Covid-19

DO TEXTO: Cerca de 2 mil pessoas vivem em campos improvisados na fronteira norte do México com EUA. Situação de vulnerabilidade agrava riscos de infecção pelo coronavírus.
Cerca de 2 mil pessoas vivem em campos improvisados na fronteira norte do México com EUA. Situação de vulnerabilidade agrava riscos de infecção pelo coronavírus.MSF

Para Médicos sem Fronteiras, acesso aos serviços de saúde é medida mais eficaz do que fechar as fronteiras, de onde migrantes e refugiados são enviados para Matamoros, no México

A organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) defendeu nesta quinta-feira (26/03) que a decisão do governo dos Estados Unidos (EUA) de bloquear os processos de pedido de asilo e fechar a fronteira com o México, com a justificativa para impedir a propagação da pandemia do coronavírus, representa uma ameaça à saúde e à segurança das pessoas que buscam proteção internacional nos EUA e são forçadas a voltar ao México.

Desde sábado (21/03), equipes de MSF presenciam transferências de pessoas oriundas do México e da América Central, obrigadas a retornar dos Estados Unidos para a cidade mexicana de Matamoros na fronteira norte e, na sequência, encaminhadas de ônibus para o sul do país. Para MSF, é alarmante o envio sistemático e obrigatório de pessoas repatriadas dos EUA para a região sul mexicana, sem planos de contenção ou estratégias de mitigação de impactos humanitários da medida.

"Usar a Covid-19 como argumento para evitar suas obrigações internacionais em relação a refugiados e migrantes é não apenas inaceitável, mas também contraproducente em termos de controle de surtos", diz Isabel Beltrán, coordenadora médica de MSF no México e na América Central. "Esses tipos de medidas são desnecessárias e desproporcionais porque discriminam e estigmatizam um segmento da população e impedem que as pessoas que sofrem violência tenham acesso a um sistema de proteção e segurança".

A organização, que tem experiência na resposta a surtos, esclarece que as medidas de saúde pública funcionam quando protegem todas as pessoas e fracassam quando populações vulneráveis como migrantes não são incluídas.

Como MSF destacou em outras ocasiões, as políticas de imigração dos EUA e implementadas pelo México, como o chamado Protocolo de Proteção aos Migrantes (MPP), põem em risco a vida das pessoas que são forçadas a esperar no México pela decisão do pedido de asilo nos Estados Unidos. A organização ressalta que essa população está presa em um limbo jurídico e social perigoso e a situação de vulnerabilidade agrava riscos de infecção em relação à Covid-19.

Enquanto a pandemia continua a se espalhar, MSF vem monitorando as necessidades de saúde do México, enquanto organiza sua resposta para manter e expandir os abrangentes serviços médicos prestados no país. No entanto, as equipes de MSF estão preocupadas com o impacto da Covid-19 em um contexto em que as pessoas não têm acesso regular a serviços médicos e vivem em condições precárias que facilitam a propagação do coronavírus.

“Aumentamos nossas atividades médicas em Matamoros devido à falta de atendimento abrangente dentro do campo, onde vivem cerca de 2 mil solicitantes de asilo. Prestamos serviços de saúde física e mental e atividades de promoção da saúde. Apesar desses esforços, é claro que é impossível implementar adequadamente medidas de prevenção de infecções, como desinfetar espaços públicos, lavar as mãos com frequência e distanciar-se dos outros, em um local onde famílias inteiras dormem juntas em uma única barraca", diz Beltran.

Embora MSF amplie e reforce o combate à Covid-19 para alcançar pessoas em situação de maior vulnerabilidade, a organização também se solidariza com a população local. Assim, MSF pede aos governos dos EUA e México que assumam a responsabilidade de garantir o fornecimento de medidas mais inclusivas na resposta à pandemia e ampliação do atendimento médico, principalmente para pessoas que correm maior risco de contrair a doença, como migrantes e requerentes de asilo.

"A maior preocupação das pessoas agora é a incerteza sobre o seu futuro. Eles não têm escolha a não ser dormir em espaços superlotados que não permitem as medidas preventivas necessárias. Estamos cientes dos desafios monumentais que a pandemia acarreta e, por esse motivo, é necessário que os atores médicos coordenem ações que incluam essas populações em seus planos de prevenção e, se necessário, em suas medidas de contenção", afirma o médico Marcelo Fernández, coordenador-geral de MSF no México.

Sobre Médicos Sem Fronteiras
Médicos Sem Fronteiras é uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias, desnutrição ou sem nenhum acesso à assistência médica. Oferece ajuda exclusivamente com base na necessidade das populações atendidas, sem discriminação de raça, religião ou convicção política e de forma independente de poderes políticos e econômicos. Também é missão da MSF chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelas pessoas atendidas em seus projetos.

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