Morre Natália Nunes, escritora portuguesa que foi ponte pra brasileiro ler literatura russa

DO TEXTO:

Natália Nunes traduziu obras de Dostoiévski e Tolstói e escreveu romances, contos, peças e ensaios

 Euler de França Belém 

Os brasileiros que apreciam literatura russa devem muito à escritora portuguesa Natália Nunes, que morreu na terça-feira, 13, na Ericeira, em Portugal. Ela traduziu livros de Fiódor Dostoiévski e Liev Tolstói para a Editora Aguilar. São versões feitas a partir do francês. Mas, quando não havia traduções diretas — como as das editoras 34 e da Cosac Naify (os romances “Anna Kariênina” e “Guerra e Paz” foram relançados pela Companhia das Letras) —, seu trabalho era fundamental para os que não leem russo.

Natália Nunes, de 96 anos, deixa uma obra vasta — romances, contos, peças e ensaios. Ela foi casada com o poeta António Gedeão (pseudônimo de Rómulo de Carvalho) e é mãe da escritora Cristina Carvalho, autora de “O Olhar e a Alma”. Escreveu crítica literária sobre Carlos Oliveira, Dostoiévski, Raul Brandão, Augusto Abelaira, José Cardoso Pires. Traduziu Dostoiévski, Tolstói, Simonov, Elsa Triolet, Violette Leduc, Balzac e Roger Portal.

Em Coimbra, Natália Nunes fez o curso de Bibliotecária-Arquivista e, na Universidade de Lisboa, estuou Ciências Histórico-Filosóficas. Trabalhou na Bibliotecas da Ajuda e Nacional, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo e na Escola Superior de Belas-Artes, como bibliotecária e conservadora, diz texto da Agência Lusa.

O “Dicionário de Literatura Portuguesa” assinala que há na prosa de Natália Nunes o “sentido do intimismo e do confessional, do mistério e da solidão, herdado em grande parte da geração presencista”. Nos seus livros são fortes a temática feminina e social. Ela editou as “Memórias” do marido. No final do texto, escreveu: “Não te digo adeus, a minha alma estará sempre contigo”. Numa entrevista, a escritora disse: “Nós temos projetos que nunca se realizam, porque vêm outros que nos exigem mais ou porque a vida não deixa”.

Na longeva ditadura de Salazar, atuou como resistente antifascista.

Romances
Regresso ao Caos
Assembleia de Mulheres
Autobiografia de uma Mulher Romântica
Vénus Turbulenta (último romance)

Contos
Ao Menos um Hipopótamo
As Velhas Senhoras e Outros Contos
A Mosca Verde e Outros Contos
Loucas por Sapato

Teatro
Cabeça de Abóbora

Memórias
Horas Vivas: Memórias da Minha Infância
Uma Portuguesa em Paris
Memórias da Escola Antiga

Ensaio/crítica
A Ressurreição das Floresta, Estudos Sobre a Obra de Ficção de Carlos Oliveira


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