Coletivo Manguinhos em Cena promove intercâmbio cultural sobre a obra do teatrólogo francês Antonin Artaud

DO TEXTO:

O projeto faz parte do Programa Territórios Culturais RJ / Favela Criativa, da Secretaria de Estado de Cultura em parceria com a Light e a Agência Nacional de Energia Elétrica

 
Alba Bittencourt
Portal Splish Splash

O coletivo Manguinhos em Cena – grupo que nasceu de um projeto de teatro com moradores da região – invade outros territórios e promove discussão e debate sobre a vida do autor francês Antonin Artaud. O poeta, ator, diretor e dramaturgo faleceu em 1948, deixando várias obras teatrais de grande importância para a sociedade. Artaud era conhecido como “louco”, pois conseguia expressar, por meio de sua arte, as angústias sociais e humanas. A fim de promover um intercâmbio cultural, o Manguinhos em Cena convida o coletivo artístico de mulheres Amo Crew – Afro Mulheres de Opinião, de Duque de Caxias, que realiza performances com grafite em espaços públicos da cidade. A união dos coletivos e o resultado do trabalho de pesquisa podem ser vistos nos dias 12 de agosto – sábado, às 16h, na Lira de Ouro-Ponto de Cultura Sociedade Musical e Artística, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense – e no dia 19, às 16h, no CRJ, em Manguinhos. As apresentações são gratuitas com retiradas de senhas uma hora antes do evento.

 O processo de criação do espetáculo aconteceu em quatro encontros. Os grupos reuniram-se para estudar a obra de Antonin Artaud e trocar  experiências artísticas com base no livro “Eis Antonin Artaud”, de Florence de Meredieu, lançado pela editora Perspectiva em 2007.   A preparação e a orientação para conclusão do trabalho foram de Jefter Paulo, diretor do Instituto Nossa Senhora do Teatro.  Ele é referência nos estudos sobre Antonin Artaud, já que assinou a  direção geral do espetáculo “Fragmentos ou Manifesto da Crueldade”, no qual é relatada a militância social com cenas sobre o genocídio de jovens negros, a violência contra mulheres e outros conflitos.

No início dos encontros com os grupos para a criação do projeto, Jefter Paulo provocou os integrantes de forma lúdica e lançou um desafio: “dediquem-se a perceber suas jaulas, potencializem a entrega e deixem o inconsciente jorrar, auxiliado pela razão. Sem sombra de dúvidas, as jaulas serão explodidas através da arte, e, assim, outras pessoas poderão, também, romper com suas amarras”.

O espetáculo – com 30 minutos de duração e 17 pessoas em cena – propõe a interatividade de atores com o público no mesmo lugar, ideia defendida pelo autor Antonin Artaud.  No espaço com formato de arena, haverá uma tela para projeção do vídeo com  making of  dos encontros dos coletivos Manguinhos em Cena e Amo Crew,  durante o processo de criação da montagem teatral, ao som da música  “Maluco Beleza” de Raul Seixas.   Simultaneamente, grafiteiras do Amo Crew começam a desenvolver a sua arte numa tela.  E numa jaula, atores vão expressar suas angústias e suas loucuras, convidando o público a fazer o mesmo. O material usado em cena é reciclável, de baixo custo e muito criativo como uma tenda, uma lata de jet vazia, espelhos e argila.

Tornar a obra de  Antonin Artaud acessível a todos só foi possível graças ao edital Territórios Culturais Lab – Intercâmbio pesquisa e experimentação, do Programa Territórios Culturais RJ / Favela Criativa, da Secretaria de Estado de Cultura em parceria com a Light e a Agência Nacional de Energia Elétrica. A meta do programa é promover o encontro entre projetos e iniciativas culturais, no qual jovens de territórios populares do Estado são os protagonistas. Após um processo de seleção públicam que recebeu mais de 370 inscrições e 102 iniciativas foram contempladas, a partir disso houve a integração e articulação em diversas áreas culturais como moda, música, mídia comunitária, literatura, artes cênicas, audiovisual, gastronomia, memória e gestão cultural.  O encontro é resultado da parceria entre o poder público e a iniciativa privada, é realizado pela Secretaria de Estado de Cultura (SEC), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, com o patrocínio da Light, do Programa de Eficiência Energética da ANEEL, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), por meio do programa Caminho Melhor Jovem, desenvolvido pela Secretaria de Estado de Esporte, Lazer e Juventude (SEELJE) e do programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura (MinC).

COLETIVO MANGUINHOS EM CENA
O projeto Manguinhos em Cena foi criado em 2012, com um grupo de teatro de moradores do Complexo de Manguinhos (RJ). por meio de um programa de oficinas teatrais da Companhia do Gesto, sob o comando do diretor Luis Igreja, da produtora executiva Ana Carina, da premiada dramaturga Renata Mizrahi e de outros profissionais da área cultural.  Grupo residente da biblioteca Parque de Manguinhos, que no início de formação contava com 27 atores, hoje possui 15 gestores culturais. Realizam atividades regulares de intervenções artísticas e performances na Biblioteca Parque de Manguinhos (equipamento de referência cultural no Rio de Janeiro, vinculado à Secretaria de Estado de Cultura) e eventos na comunidade e por todo território.
O grupo foi contemplado pelo programa Favela Criativa do Governo do Estado, Festival Encontrarte, Festival de Teatro Cidade do Rio de Janeiro, ganhou o edital de fomento da Prefeitura do Rio de Janeiro e, em 2015,
circulou por todas as arenas e lonas da cidade. Com Edital - II Programa de Fomento à Cultura Carioca, realizou o projeto audiolivros das Bibliotecas Parque para pessoas com deficiência visual.

AMO CREW
AMO (Afro Mulheres de Opinião) é um coletivo artístico de mulheres negras periféricas. Sua criação foi após um curso de grafite promovido por uma ONG.  As  integrantes Carla Felizardo "Nega", Lu Brasil, Mariana Maia "Ato" e Tainã Xavier "Baker" decidiram continuar a realizar trabalhos artísticos juntas. Desde então, a AMO Crew tem participado e promovido eventos culturais, realizando performances artísticas, espalhando estêncil por camisas e muros da cidade, grafitando murais em espaços públicos e privados. O coletivo tem temática voltada para as questões sociais, de gênero e arte afro-brasileira

ANTONIN ARTAUD
Nasceu em Marselha, no dia 4 de setembro de 1896, e faleceu em Paris, no dia 4 de março de 1948. Foi um poeta, ator, roteirista e diretor de teatro francês. Em 1935, Artaud conclui o "Teatro e seu Duplo" (Le Théâtre et son Double), um dos livros mais influentes do século XX. Na sua obra, ele expõe o grito, a respiração e o corpo do homem como lugar primordial do ato teatral, denuncia o teatro digestivo e rejeita a supremacia da palavra. Esse era o Teatro da Crueldade de Artaud, em que não havia nenhuma distância entre ator e plateia, todos seriam atores e todos fariam parte do processo, ao mesmo tempo.

Em 1937, Antonin Artaud, devido a um incidente, foi tido como louco. Internado em vários manicômios franceses, cujos tratamentos são hoje duvidosos. Após seis anos, foi transferido para o hospital psiquiátrico de Rodez, onde permaneceu ainda três anos. Naquele local, conheceu o médico Ferdière, que reconheceu  o potencial artístico do paciente  e estimulou-o à vida literária, mas por outro percebia seus devaneios e o submeteu a tratamento de choque, prática muito utilizada na época. Tal procedimento afetou a memória e o corpo do artista. Para manter-se lúcido, passou a se corresponder com o médico. Em uma das suas cartas, Artaud clamou: “Não quero que ninguém ignore meus gritos de dor; quero que eles sejam ouvidos”.

Para Artaud, o teatro é o lugar privilegiado de uma germinação de formas que refazem o ato criador, formas capazes de dirigir ou derivar forças.

A criatividade do artista deixou uma herança que compreende ensaios e roteiros de cinema, pintura e literatura, diversas peças de teatro e inclusive uma ópera. O trabalho do teatrólogo foi referência para o espetáculo brasileiro “Roda Viva”, de Chico Buarque, de 1968, e mais tarde tornou-se um grande sucesso musical da MPB. .


SERVIÇO – Intercâmbio cultural sobre a obra do teatrólogo francês Antonin Artaud – Com os Coletivos Manguinhos em Cena e Amo Crew
·         Dia 12 de agosto – sábado, às 16h


Local - Lira de Ouro-Ponto de Cultura Sociedade Musical e Artística -   Rua José Veríssimo, 72 -  Vila Meriti em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense -  Tel da produção executiva do espetáculo – 99067-0015
·         Dia 19, sábado, sábado, às 16h

Local -  Centro de Referência da Juventude (CRJ) - Av. Dom Hélder Câmara, 1.184 - Manguinhos
Tel -  2334-8910
As apresentações são gratuitas com retiradas de senhas uma hora antes do evento.


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