O escritor e humorista português Ricardo Araújo, em Paraty (RJ
MAURÍCIO MEIRELES
DE SÃO PAULO
As coisas boas da vida não têm graça. Para fazer rir, é preciso um bocado de tristeza. Não à toa, o novo livro do humorista português Ricardo Araújo Pereira, colunista da Folha, se chama "A Doença, o Sofrimento e a Morte Entram num Bar". "Rir é uma anestesia contra o mal. Ninguém precisa ser anestesiado contra o bem. O vilão tem graça, o mocinho não", diz o autor. O novo livro é um ensaio sobre o riso e "uma espécie" de manual da escrita humorística. Pereira diz "uma espécie" porque acha difícil haver um verdadeiro manual. "Ou se tem ou não se tem [humor], dizem. Eu não acredito nisso. Acho que o humor é, na verdade, uma maneira especial de raciocinar, como a filosofia", diz. Para o autor, a comédia seria a tragédia mais a distância. Há a distância do outro, que faz rir de algo que não é nosso; a distância no tempo, que nos permite rir do passado; e, principalmente, a distância entre si e si mesmo, que nos faz rir de coisas terríveis que nos acontecem. Quem consegue fazer humor do terceiro tipo, diz Pereira, deve ter mais dificuldade em lidar com a "aspereza" do mundo. Por isso, tais pessoas assistem às próprias desgraças como se acontecessem a uma representação delas próprias. O novo livro, no fundo, é sobre as leituras e referências culturais de Pereira. Ele começou a escrevê-lo depois do convite para dar aulas de humor numa pós-graduação em Lisboa. Assim, os autores citados são uma mistura de referências eruditas e pop: Shakespeare, Chico Buarque, Machado de Assis, Seinfeld, Buñuel e Monty Python, entre outros. Cada capítulo é uma reflexão sobre algo que faz rir: imitar alguém (má oeee!), virar as coisas de cabeça para baixo, aproximar opostos (tipo um personagem certinho com um louco), mudá-las de lugar e o exagero. Prova de que o sofrimento é engraçado? A história de São Lourenço, que morreu por uma piada e é padroeiro dos humoristas. Em 258 d.C., ele foi condenado a morrer numa grelha. Em dado momento, teria dito aos algozes: "Este lado já está bem assado. Podem virar". Piada mesmo é Lourenço também proteger os cozinheiros. Sério. A DOENÇA, O SOFRIMENTO E A MORTE ENTRAM NUM BAR AUTOR Ricardo Araújo Pereira EDITORA Tinta da China QUANTO R$ 49 (112 págs.) LANÇAMENTO nesta quarta (17), às 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional - av. Paulista, 2073, tel. (11) 3170-4033 In:http://www1.folha.uol.com.br
As coisas boas da vida não têm graça. Para fazer rir, é preciso um bocado de tristeza. Não à toa, o novo livro do humorista português Ricardo Araújo Pereira, colunista da Folha, se chama "A Doença, o Sofrimento e a Morte Entram num Bar".
"Rir é uma anestesia contra o mal. Ninguém precisa ser anestesiado contra o bem. O vilão tem graça, o mocinho não", diz o autor.
O novo livro é um ensaio sobre o riso e "uma espécie" de manual da escrita humorística. Pereira diz "uma espécie" porque acha difícil haver um verdadeiro manual.
"Ou se tem ou não se tem [humor], dizem. Eu não acredito nisso. Acho que o humor é, na verdade, uma maneira especial de raciocinar, como a filosofia", diz.
Para o autor, a comédia seria a tragédia mais a distância.
Há a distância do outro, que faz rir de algo que não é nosso; a distância no tempo, que nos permite rir do passado; e, principalmente, a distância entre si e si mesmo, que nos faz rir de coisas terríveis que nos acontecem.
Quem consegue fazer humor do terceiro tipo, diz Pereira, deve ter mais dificuldade em lidar com a "aspereza" do mundo. Por isso, tais pessoas assistem às próprias desgraças como se acontecessem a uma representação delas próprias.
O novo livro, no fundo, é sobre as leituras e referências culturais de Pereira. Ele começou a escrevê-lo depois do convite para dar aulas de humor numa pós-graduação em Lisboa. Assim, os autores citados são uma mistura de referências eruditas e pop: Shakespeare, Chico Buarque, Machado de Assis, Seinfeld, Buñuel e Monty Python, entre outros.
Cada capítulo é uma reflexão sobre algo que faz rir: imitar alguém (má oeee!), virar as coisas de cabeça para baixo, aproximar opostos (tipo um personagem certinho com um louco), mudá-las de lugar e o exagero.
Prova de que o sofrimento é engraçado? A história de São Lourenço, que morreu por uma piada e é padroeiro dos humoristas. Em 258 d.C., ele foi condenado a morrer numa grelha. Em dado momento, teria dito aos algozes: "Este lado já está bem assado. Podem virar".
Piada mesmo é Lourenço também proteger os cozinheiros. Sério.
A DOENÇA, O SOFRIMENTO E A MORTE ENTRAM NUM BAR
AUTOR Ricardo Araújo Pereira
EDITORA Tinta da China
QUANTO R$ 49 (112 págs.)
LANÇAMENTO nesta quarta (17), às 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional - av. Paulista, 2073, tel. (11) 3170-4033
In:http://www1.folha.uol.com.br
📑 ÍNDICE DE ARTIGOS DOS AUTORES DO PORTAL
📑 ÍNDICE DAS PUBLICAÇÕES POR TEMAS
Comentários
Enviar um comentário