Bonito e danoso, coral-sol avança pelo litoral e vira motivo de preocupação

DO TEXTO:
Mergulhador fotografa costão totalmente tomado pelo coral-sol em Ilhabela, litoral norte de SP

RICARDO HIAR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SÃO SEBASTIÃO

Bonito para contemplação em mergulhos, mas um vilão para o ambiente marinho. Assim pode ser definido o coral-sol, espécie nociva que vem ganhando cada vez mais espaço na costa brasileira e preocupa especialistas por sua rápida proliferação.

Apelidado de "sol" pelo formato e cores amarela e laranja, esse coral pode ser comparado a uma "erva daninha" do mar, por suprimir outros corais e proporcionar perda em funções do ecossistema.

"É o típico exemplo de que as aparências enganam. É muito bonito, mas também muito malvado para o habitat marinho", diz Kelen Luciana Leite, chefe em Alcatrazes, no litoral norte de São Paulo, do núcleo de gestão integrada do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

Por não ser nativo, explica, o coral-sol não faz integração com outros animais marinhos e causa uma das mais graves consequências, que é a quebra da cadeia alimentar.

Segundo Kelen, os corais estão na base dessa cadeia. Quando algo se altera, todo o ciclo é prejudicado. "O coral-sol se prolifera absurdamente mais rápido que os demais tipos e domina o sistema que serve de alimentação para várias espécies, incluindo peixes e tartarugas."

Algumas áreas do litoral norte paulista já estão infestadas pelo animal, que se reproduz liberando larvas. Essas larvas buscam costões rochosos para se estabelecer e, como se multiplicam numa velocidade maior do que as demais, em pouco tempo dominam o espaço.

Coral-Sol
NAVIOS

De acordo com Augusto Alberto Valero Flores, pesquisador do Cebimar (Centro de Biologia Marinha), da USP, as duas espécies de coral-sol que foram registradas no Brasil estavam inicialmente restritas ao Arquipélago das Galápagos, no Indo-Pacífico.

Não se sabe como os corais chegaram à costa brasileira. "O mais provável é que tenha sido através da incrustação de cascos de embarcações comerciais ou grandes estruturas rebocadas, como plataformas de petróleo."

O pesquisador diz que dentre as áreas mais afetadas está a Ilha Grande (RJ). Também há registros no litoral da Bahia, do Espírito Santo e de Santa Catarina. No litoral norte paulista, os locais com maior incidência são as ilhas de Búzios e Vitória, em Ilhabela.

Ambientalistas tentam evitar que o mesmo aconteça com outras áreas, como o Arquipélago de Alcatrazes, em São Sebastião, conhecido por ser uma área preservada e onde já estão instaladas muitas colônias do coral invasor.

Para evitar avanço maior, expedições são realizadas para retirar as colônias. Segundo Kelen, as ações são difíceis e caras, mas importantes. Cada colônia forma outras cinco a cada três meses. 

 Fotos: Leo Francini/Folhapress


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