À luz do petróleo – Tempos que já lá vão

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Por: Carlos Alberto Alves
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Quantas vezes minha mãe me mandou à mercearia comprar petróleo? Foram muitas e muitas. Petróleo que, em tempos idos, era muito utilizado em candeeiros, sobretudo nas casas de pessoas com menos possibilidades para recorrerem à rede elétrica. Na minha casa, quando eu era ainda criança, usava-se muito esse combustível, utilizado também nos chamados “fogões primos”, quiçá o melhor que havia naquele tempo. E de petróleo, sempre gostava de ouvir uma canção da Amália Rodrigues que falava "à luz do petróleo”. Mas creio que a nossa Diva do Fado não passou por essa situação na sua casa na velha Lisboa ou na de Brejeiras. E já agora, à luz do petróleo na Casa da Mariquinhas? Também não. E jamais se usava petróleo para dar de beber à dor.

De petróleo, sempre que a minha mãe me mandava à mercearia eu, normalmente, na venda do Manuel Basílio ou na do “Joaquim Maricas”, fazia um "gareto" (termo popular e rotineiro), ou seja, em vez de dois escudos pedia um escudo e meio. Sempre dava para juntar e, aos sábados, ir jogar ao king. Minha mãe desconfiava sempre do pouco líquido que eu levava e, numa manhã de chuva (tinha que ser de chuva), foi à mercearia perguntar quanto eu tinha comprado de petróleo, claro que o comerciante não mentiu e eu, para não fugir à regra, apanhei uma surra com colher de pau. Numa outra ocasião, fiquei com o dinheiro e disse à minha mãe que a garrafa tinha caído no chão e partiu-se. Óbvio que ela não acreditou, revistou-me os bolsos e lá estavam os tais dois escudos. Mais uma surra, mas esta de doer mesmo.

Hoje, claro, muito pouca gente usa o candeeiro de petróleo, mas eu gostava, por exemplo, de ver o meu amigo Armindo Guimarães fazer ilusionismo à luz do petróleo. Num pequeno teatro, cheio de candeeiros. E as pessoas conseguiriam suportar o cheiro de combustível queimado? Era questão de cada usar uma máscara, inclusive o artista em questão. E se ele levasse a sua gatinha de estimação, também ela teria de usar uma máscara. 

Amália Rodrigues - Na Casa da Mariquinhas

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