Aos 73 e em plena atividade, Paulinho da Viola traz sucessos e filhos a SP

DO TEXTO:
Paulinho da Viola
THALES DE MENEZES
DE SÃO PAULO

Aos 73 anos, Paulinho da Viola gosta de ficar em casa, mas isso não deve ser confundido com acomodação. Acaba de voltar da Holanda, onde pela primeira vez a Orquestra Filarmônica de Roterdã fez um programa com um compositor popular. "Foi um sucesso. Agora a intenção deles é fazer um disco, estamos vendo isso", conta.

O músico faz três apresentações neste fim de semana em São Paulo. Sem um disco de inéditas há 13 anos, deve resgatar perolas de seu samba refinado, acompanhado por uma banda que tem seus filhos João Rabello (violão) e Beatriz Rabello (vocal). Repete assim o pai, o violonista César Faria (1919-2007), que o levou ao choro.

Mas Paulinho promete alguma coisa nova. "Talvez uns dois sambas que ainda não estão gravados. Um com certeza, que se chama 'Ela Sabe Onde Vou'. Há coisas que você não pode deixar de fora. As pessoas pedem músicas, o público tem esse direito."

 Folha - Tocar com os filhos traz uma sensação especial?

Paulinho da Viola - É uma coisa familiar mesmo. Em 1970, tive um samba que estourou, "Foi um Rio que Passou em Minha Vida". Passei a ser muito solicitado e não tinha grupo para me acompanhar. Tive que formar um e meu pai fez parte. Meu filho chegou a tocar com ele. O João foi comigo à Holanda e fez um solo para uma música minha, que me deixou emocionado. Minha filha acaba de gravar um disco, já estamos preparando a capa. Fiz uma música, ela gravou e foi um negócio legal pra caramba.

Este ano é o centenário do samba. O gênero vai bem?

Tenho convicção que o samba não desapareceu porque nosso povo não deixou. São muitos artistas trazendo ideias novas, mesmo quem não tem formação de sambista. É o meu caso. Minha primeira formação, na infância, foi de choro. O samba que era cantado nas escolas de samba, só travei contato já adolescente. O choro está entranhado no meu samba.

Você sai para ver gente nova?

No começo dessa onda de samba na Lapa eu fui algumas vezes, mas eu, por natureza, sou muito de ficar em casa. Sou de uma geração diferente. Eu gosto muito de ler, não sou muito de ficar no celular o dia inteiro, como meus filhos. Às vezes leio um e-mail, mas se ficar atracado naquilo, como as pessoas fazem, não vou fazer mais nada. Ainda na última década do século passado, quando começou essa coisa de celular e internet, eu chamei o meu pessoal e falei: "Olha, eu não tenho condições de assimilar essa quantidade de informação que está sendo processada. Não adianta pensar que eu vou correr atrás disso porque eu não tenho mais idade".

Gosta de ficar em casa? 

Moro em Itanhangá, distrito da Tijuca, perto de uma floresta, há mais de 30 anos. Quando a gente veio para cá, minha mulher reclamava que não tinha lugar para comprar pão. Bom, o pão chegava de manhã, um cara trazia num Fusquinha. Enfim, foi uma fuga da muvuca. Hoje, para sair daqui, é preciso consultar o trânsito num aplicativo. Você olha e está tudo vermelho! A muvuca chegou até aqui, então eu vou ficar em casa, não vou enfrentar esse troço.

E seu hobby, a marcenaria?

Minha oficina está meio parada. Já tem uns dois ou três meses que eu até vou lá, arrumo e tal, mas não faço nada. Olha, já fiz armário, coisa pesada, mas chega um ponto em que você não pode mais. Tudo tem seu tempo certo. Vou fazendo coisas menores.

Como se sente aos 73 anos?

Antigamente, tinha uma ideia, tocava no violão e não esquecia. Mas a vida muda a gente. Agora, se eu não deixar gravado no celular, no dia seguinte eu não me lembro.

Você compõe bastante?

Às vezes eu fico um tempo sem pegar o instrumento. Tem um período que eu me volto para isso e aí não faço outra coisa, fico obsessivo, paro só para comer alguma coisa e olhe lá. Nesse período, as coisas afloram.

Você é sempre associado a adjetivos como "bem-educado", "elegante". O que acha disso?

Não sei a razão. Acho que sou tão bem-educado como muitas pessoas que conheço. Tive uma educação dos meus pais por meio de histórias, de exemplos. Era muito tímido, só isso. Mas estou falando muito com você, né? Acho que sou um ex-tímido.

PAULINHO DA VIOLA
QUANDO sex. (24) e sáb. (25), às 21h30; dom. (26), às 21h
ONDE Theatro Net, r. das Olimpíadas, 360, tel. (11) 3439-9312
QUANTO de R$ 120 a R$ 240
CLASSIFICAÇÃO 12 anos 

In:http://www1.folha.uol.com.br


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