Estava eu em Angola na guerra colonial em 1966 e sempre passava, num pequeno receptor que havia comprado, pelas rádios locais para ouvir músicas de Roberto Carlos. De referir que as emissoras angolanas também tinham um carinho muito especial pelo rei Roberto Carlos, sobretudo as rádios da capital luandense onde conheci alguns radialistas que, após a independência, rumaram para Portugal. Muitos ainda lá se encontram em atividade. Sempre gostava de ouvir o calhambeque e os militares que comigo lidavam passaram mesmo a chamar-me de calhambeque em tom de brincadeira. Alguns, inclusive, nas refeições, e quando as circunstâncias o permitiam, usavam o tal “bip, bip, bip”. Bons tempos, ao cabo.
Uma pequena história sobre o calhambeque:
Bonecas ternurinhas, bonecos do Roberto e Erasmo, o Calhambeque disparou nas vendas. Mais que ídolos, eles ditaram moda, criaram uma linguagem própria e seguiram comportamentos parecidos. Eles se tornaram exemplo para os jovens do Brasil inteiro.
O ano era 1966 e a Igreja Católica, assustada com os rumos que o iê-iê-iê estava tomando na vida dos jovens, resolveu agir para resgatar as ovelhinhas de volta para o rebanho. No mês de julho, o padre Carlos Alberto Navarro, em comum acordo com o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, decidiu realizar um ato litúrgico na Igreja Nossa Senhora da Paz, no bairro de Ipanema. A ideia era usar a parte musical da missa, que seria no ritmo dos Beatles, acompanhada de citações do Papa para passar mensagens evangélicas aos presentes. O conjunto escolhido Brazilian Beatles, que executou as músicas como combinado.
Como era esperado, a Igreja estava lotada, mas os padres não imaginavam que a juventude presente à missa fosse se empolgar tanto com a apresentação do conjunto, que agisse como se estivesse num show qualquer. Embalados pelo ritmo, eles subiram dos bancos, dançaram, gritaram, e fizeram uma verdadeira algazarra diante do altar. A cerimónia foi suspensa imediatamente e os planos do sacerdote foram por água abaixo. A música perturbava os jovens a tal ponto que eles não conseguiam se concentrar no sermão. O esperado não aconteceu e o iê-iê-iê venceu a batalha.
Por: Carlos Alberto Alves
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