Roberto Carlos, 74: É preciso saber viver

DO TEXTO:
Por Danilo Bezerra
Na Peugada da Obra do Rei

Neste dia 19, o cantor e compositor Roberto Carlos completará 74 anos. Para quem nasceu nos anos 90, Roberto representa um grande artista da Rede Globo que todo o fim de ano tem um especial na emissora carioca e canta um repertório quase idêntico. No entanto, para quem o acompanha desde a efervescência das “jovens tardes de domingo” da Jovem Guarda entende a grandiosidade de sua musicalidade e sabe por que ele é chamado de Rei.

Conheci Roberto Carlos após show realizado em Natal há dois anos. Depois de duas horas de canções em um espetáculo impecável, vi de perto um homem que não aparentava cansaço, mas uma satisfação ao receber o carinho dos fãs. Entre mulheres apaixonadas e homens contidos, tinha ficado de frente ao meu ídolo. Antes que pensem que eu já esteja perto da casa dos 60 anos, revelo que nasci quando ele estourava nas rádios com “Alô” e “Taxista”, em 1994.

Nascido em 1941, na cidade de Cachoeiro do Itampemirim, Roberto era filho de Seu Robertinho, relojoeiro, e de Laura Braga, costureira. Apelidado de Zunga pelas irmãs, Roberto teve uma infância simples em Cachoeiro. Porém não seria essa calma que deixaria marcas em sua vida. No final dos anos 40, durante o dia de São Pedro, padroeiro da cidade, Roberto Carlos sofreu um trágico acidente: um trem esfacelou uma de suas pernas. Em 1972 Roberto tocou nesse assunto na música O Divã.

Na segunda metade dos anos 50 mudou-se para Nitéroi no Rio de Janeiro. Seu sonho era cantar na Rádio Nacional. Bem, o resto da história vocês já conhecem: o sucesso da Jovem Guarda, o grande prêmio de San Remo, a consagração dos anos 70 e as grandes turnês das décadas seguintes. O Rei virava mito.

Roberto Carlos é aquilo que Edgar Morin criou em seu livro Cultura de Massa do Século XX: uma figura olimpiana. Explico, Morin defende que existem ícones que são intocáveis devido a forma que as pessoas lidam com ele. Roberto passa a ser olimpiano quando recebe o pequeno sobrenome que o torna grande: Rei. 

Por que ele é considerado Rei? Talvez por ser um cantor e compositor de versos simples ele tenha conquistado o apreço de todas classes, idades e tempos que possamos imaginar. Quem nunca fez uma declaração de amor com versos de “Como é grande meu amor por você”? Homenageou a sua mãe com “Lady Laura”? Chora quando escuta “Por amor” em uma fossa? Ou louva a Deus com alguma das diversas canções inspiradas no “Homem”? Taxistas e Caminhoneiros também não ficam de fora da lista de temas que Roberto cantou e conquistou o público. 

Roberto sabe mostrar a alegria e a dor de ser humano. Repare que mesmo tendo faixas e mais faixas que falam de amor, ele sempre aparece com um olhar triste e perdido nas capas de seus discos, sem esboçar nem um sorriso. Essa dualidade em sua obra torna-o ainda mais popular: aproxima sua imagem ao que as pessoas sentem e vivem. 

Ele também comete falhas. Graves falhas. Ao censurar sua biografia escrita por Paulo César de Araújo, Roberto dá um passo para atrás e escreve um capítulo controverso em sua existência. Julgá-lo é mais fácil do que tentar entendê-lo. Sua vida embalou muitos corações, mas sua história ainda não pertence a multidão. Daqui pra frente, tudo vai ser diferente? 

O menino de Cachoeiro chega aos 74 anos sabendo que é necessário se reinventar sem perder a majestade. A faixa seis do seu long-play (LP) de 1974 pode indicar o que é necessário para isso tornar-se uma verdade: É preciso saber viver. Roberto Carlos venceu todas as barreiras que um cantor podia ousar ultrapassar, continua com a voz e o carisma que o tornou Rei, só precisa retomar sua produção e mostrar para a nossa geração a força da sua música. Me orgulho em dizer que sou fã desse cara. Vida longa ao Rei. 

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