O que é isso de instituições privadas?

DO TEXTO:



Por: Carlos Alberto Alves
jornalistaalves@hotmail.com


O Mundo está sujeito a uma globalização unicamente negativa. E esta gera a passagem da vida sólida, assente nas organizações e estruturas de apoio, proteção e segurança social, para a vida líquida, assente em incertezas, medos, e infortúnios pessoais e na destruição da solidariedade. A globalização


trouxe à tona a unidade da espécie humana, traçada por Kundera, deixando claro que o bem-estar de uns nunca é inocente em relação à miséria dos outros. A sedutora idéia de sociedade aberta corresponde hoje a realidade aterrorizante da maioria da população infeliz e vulnerável, submetida a forças que não entendem nem, muito menos controla. A humanidade padece, desde sempre, de temores graves e reverenciais em face de fenômenos da natureza que não domina e para as quais procura amparos da mais diversa índole. O presente clima de desamparo, debilidade, instabilidade, exclusão e desintegração constituem o plano onde se instalam e progridem uma política e indústria de exploração da insegurança e do medo. Em vez de tentarmos controlar e erradicar as causas dos problemas, injustiças e angústias, somos instrumentalizados para dar o aval a soluções que reduzem a probabilidade de sermos vítimas dos incontáveis perigos que ameaçam a nossa segurança e a dos que nos são próximos. Esquecemos que a justiça é condição preliminar da paz e tranqüilidade e que a perversa abertura dos países ao apetite insaciável do mercado, imposto por esta globalização negativa, é por si só a causa principal da injustiça e, por via disso, do terror, violência e conflitos latentes.


Os anos de vida que já levamos dizem-nos que as instituições que cuidam de crianças ou idosos, que não tiveram ou não têm um meio familiar normal, ou são obras de amor, ou não valem apenas existirem. Com erros e defeitos? Pois com certeza, todos os homens e todas as obras as têm. Só o amor os pode redimir, iria a dizer corrigir. Agora, sem amor, sem caridade, obras que exigem sacrifício total, que gastam vidas inteiras sem em troca dar mais do que e satisfação do dever cumprido, pois, nos dias de hoje, não nos parece que possam existir, ou, se existirem, não serão com certeza as que gostaríamos que existissem.

Dantes, ainda havia certa liberdade de ação. Eram instituições privadas. Hoje não, hoje todas estão espartilhadas por decretos que, admitimos as procuram melhorar e tornar mais úteis, não o duvidamos, mas, sem liberdade, mero executor de ordens que vêm de cima, haverá alguém que queira sacrificar toda a sua vida apenas para cumprir ordens com que muitas vezes não concorda? A solidariedade ficará reduzida às pequenas obras que cada um possa tomar sobre si e ainda, mesmo assim, em campos onde não sofra tutela. A sociedade perderá muito e mais perderão os que precisam. Porque não acreditamos que quem quer que seja, com outros motivos, possa fazer melhor do que aqueles que abdicam de toda a sua vida e de todos os seus interesses para se dar aos outros. Pelo menos, a observação atenta de muitos casos nunca nos demonstrou o contrário.
Houve durante algum tempo um Recolhimento em Gaia, mas por falta de Religiosas teve de fechar as portas. Necessária que era não era obra para prioritariamente se tomar em mãos? A pergunta ficou no ar e o resultado conhece-se. Para nós é um bom exemplo. Ficamos sem uma bela Instituição de correção. Porque as instituições que existem, abertas como querem ser, à base de liberdade e de responsabilidade como têm que ser educados os cidadãos do século XXI, essas poderão ser, sem dúvida, magníficas obras para prevenção, de forma nenhuma para correção. É muito diferente. Não queiramos matá-las, porque a sua obra, nos seus frutos, está à vista de toda a gente.

NOTA FINAL – Esta matéria vem na sequência, em certa medida, daquela que escrevi sobre a obra do Padre Américo, nascido em Penafiel. Uma obra que os portugueses jamais esquecerão. Nesse sentido, o país bem necessitava de muitos Padres Américos.

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