Um meu conterrâneo serviu Saddam Hussein

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Por: Carlos Alberto Alves
jornalistaalves@hotmail.com
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Um cozinheiro dos Açores conseguiu expandir a gastronomia açoriana no Iraque, onde esteve durante cinco anos a servir os iraquianos e onde cativou Saddam Hussein com alguns dos pratos típicos da Região.

Natural de São Jorge, Armando Sequeira, 69 anos, contou que a “experiência mais marcante” da sua vida, quando esteve a trabalhar no Iraque como chefe de cozinha.


DIXIT O AÇORIANO DE SÃO JORGE

“Quando surgiu a oportunidade de trabalhar no Iraque foi uma decisão fácil, pois sendo solteiro e sem filhos, não tive de dar contas a ninguém”, disse, relembrando a angústia dos seus pais ao vê-lo partir nos anos 80.

“Foi difícil para os meus pais, sobretudo quando começou a guerra entre o Iraque e o Irão, mas nós não nos apercebíamos muito do perigo”, contou.

A língua foi o único factor que dificultou a integração no Iraque deste cozinheiro que, aos 42 anos de idade, conheceu de perto a cultura árabe que considera “fascinante” num país onde era visto como “um menino bonito” e onde foi “sempre muito bem tratado e respeitado”.

SERVIU VÁRIAS REFEIÇÕES NO PALÁCIO DE SADDAM

Os hábitos que Armando tinha em Portugal na cozinha não eram admitidos no Iraque e quando lá chegou e se pôs a limpar o fogão e a lavar a loiça, deixou “os árabes de braços caídos, pois um chefe de cozinha não faz essas tarefas”.

As sopas de galinha, carne e fígado de carneiro e o cozido dos Açores eram alguns dos pratos típicos açorianos muito apreciados pelos iraquianos e pelo ex-presidente Saddam Hussein.

Armando serviu várias refeições no palácio de Saddam, mas residia numa casa situada a 500 metros do povoamento destinada à recepção de visitas, como ministros e jornalistas estrangeiros, que muitas vezes pediam para conhecer o chefe de cozinha depois de provarem as suas especialidades.

CONSTANTEMENTE VIGIADO...

“Era constantemente vigiado, mas nunca me fez confusão, pois nunca tive qualquer problema com o povo iraquiano”, afirmou.

Segundo o chefe de cozinha, o ex-presidente iraquiano comia de tudo menos carne de porco, mas, de resto, “tudo o que lhe metia à frente ele comia”.

Questionado acerca daquele que era considerado por muitos um “tirano”, Armando refere Saddam Hussein como “o homem do povo que impunha respeito e autoridade”.

Mas preferiu não falar muito sobre Saddam: “As pessoas tinham muita confiança em mim e eu prometi que não contaria nada do que se passava lá. Continuo remetido ao meu silêncio, pois não sei se ainda sou vigiado ou não, apesar de o homem ter morrido”.

GUARDA UMA FOTO DE SADDAM

Armando Sequeira ainda guarda uma pequena foto de Saddam Hussein que usava constantemente pregada na gola do casaco ou ao peito.

“Os árabes ficavam todos contentes por usar aquilo e por não ter vergonha de usar o seu presidente ao peito, mas aquela imagem era como uma defesa” confessou o cozinheiro, exemplificando com o facto de no aeroporto passar com mais facilidade.

MORTE “DOLOROSA”

A morte de Saddam foi “a coisa mais dolorosa” que Armando diz já ter visto, pois “uma pessoa que dormia em lençóis de seda e tinha o quarto de banho todo em ouro não merecia ter acabado num buraco daquela maneira”.

“Impressionante”, diz, era o facto de as mulheres iraquianas quererem libertar-se de todos os véus que as envolviam.

Apesar de Armando Sequeira nunca se ter arrependido da decisão que tomou de ir para o Iraque, onde viveu “emoções fortes”, nunca mais regressou mesmo depois de ter sido convidado através de uma carta a voltar a trabalhar naquele país como chefe de cozinha.

Reformado da profissão de cozinheiro, o açoriano continua a cozinhar para a família e para os amigos.

NOTA FINAL – A cozinha da ilha de São Jorge é maravilhosa. Eu que o diga quando, por quatro anos consecutivos, estive presente na Semana Cultural das Velas, convidado pela Câmara Municipal, na pessoa do ainda presidente, o meu amigo António Silveira, que sempre dizia: “este é o jornalista que eu mais aprecio, pelo facto de não vender gato por lebre e demonstrar, acima de tudo, que é um profissional de enorme quilate”. Na verdade, honrei, nas quatro vezes em que fiz reportagem sobre o referido evento (a Semana Cultural das Velas), a minha pessoa, a minha profissão, e, sobretudo, correspondi, em termos de divulgação, aos anseios dos seus promotores.

De facto, São Jorge, a “ilha charuto” por ser muito comprida, tem tradições na gastronomia açoriana. O queijo de São Jorge, por exemplo, é muito apreciado no continente português e, também, junto das comunidades dos Estados Unidos e Canadá, onde pululam milhares portugueses, muitos deles oriundos das ilhas açorianas e que emigraram para o país do dólar em busca de melhores condições de vida. Em New Bedford (Estado de Massachusets), considerada a capital dos portugueses na América do Norte, o queijo de São Jorge circula pelas grandes superfícies da especialidade.

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