DO TEXTO: "Traumas" - Face aos anjos que acompanhavam Roberto Carlos a mentira é posta em causa e ao mesmo tempo compreendida.
É impressionante o quanto “Traumas” de Roberto Carlos encerra de mensagem e o quanto a todos nos toca

Por: Armindo Guimarães
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Roberto Carlos, sessenta e oito anos de vida e cinquenta deles de carreira artística, é obra! E aqueles que não se limitam a apreciar tal obra, ouvindo-a, mas também pretendam saber do quotidiano passado e presente do Rei da Música Popular Brasileira, nem sequer precisam do recurso a qualquer publicação bibliográfica pois que a sua vida privada está bem patente naquilo que ele compõe e canta.

E não são poucas as composições em que isso acontece. Algumas por demais evidentes e outras nem tanto, porém imediatamente apreendidas por quem acompanha minimamente a trajectória de uma estrela que teima em brilhar mesmo quando ofuscada por esta ou aquela contrariedade terrena que a todos, mais cedo ou mais tarde, nos pode atingir.

Uma dessas contrariedades teve Roberto Carlos na sua infância. Era dia de São Pedro, padroeiro da sua terra natal Cachoeiro de Itapemirim e Roberto assistia às comemorações quando foi atingido por um trem que o fez perder parte da perna direita.

E em 1971, quando tinha 30 anos de idade, Roberto decide contar as dores psicológicas que sentiu na sua meninice por tão grave acidente, bem como as tentativas desesperadas de seu pai para as minimizar.

Trata-se de “Traumas”, com letra de Roberto Carlos e música de Erasmo Carlos, em que face aos anjos que acompanhavam Roberto a mentira é posta em causa e ao mesmo tempo compreendida.

É impressionante o quanto “Traumas” encerra de mensagem e o quanto a todos nos toca, sendo certo que se nem todos tivemos um pai ou uma mãe que nos falasse, pelo menos tivemos alguém que deles fez as vezes.

Então, desde cedo, ao sermos confrontados com a realidade, alguém nos “empresta” a mentira, sinónimo de ilusão e de fantasia que enfeita a realidade que não entendemos.

Ilusão e fantasia que, pese embora já sermos crescidos, consciente ou inconscientemente fazemos questão em manter porque concluímos que às vezes as mentiras também ajudam a viver, sob pena de, diante de algum problema adormecido, tentarmos disfarçar alguma coisa que na alma conseguimos abafar.
Depois, sentimos que também temos que nos esquecer de dizer a verdade da realidade do mundo e de mentir para enfeitar os caminhos que outros seguem ou vão seguir.

É que os anjos de Roberto Carlos são os nossos anjos.

TRAUMAS
Roberto Carlos/Erasmo Carlos

Meu pai um dia me falou
Pra que eu nunca mentisse
Mas ele também se esqueceu
De me dizer a verdade

Da realidade do mundo
Que eu ia saber
Dos traumas que a gente só sente
Depois de crescer

Falou dos anjos que eu conheci
No delírio da febre que ardia
No meu pequeno corpo que sofria
Sem nada entender

Minha mulher, em certa noite,
Ao ver meu sono estremecido
Falou que os pesadelos são
Algum problema adormecido

Durante o dia a gente tenta
Com sorrisos disfarçar
Alguma coisa que na alma
Conseguimos sufocar

Meu pai tentou encher de fantasia
E enfeitar as coisas que eu via
Mas aqueles anjos agora já se foram
Depois que eu cresci

A minha infância agora tão distante
Aqueles anjos no tempo eu perdi
Meu pai sentia o que eu sinto agora
Depois que cresci

Agora eu sei o que meu pai
Queria me esconder
Ás vezes as mentiras
Também ajudam a viver

Talvez um dia pro meu filho
Eu também tenha que mentir
Pra enfeitar os caminhos
Que ele um dia vai seguir




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2 Comentários

Comentários

  1. Olá Armindo Guimarães!

    Desconhecido,heim?

    Parabéns amigo pelo belo artigo que escreveu.
    Um artigo que mexe com a gente, e mexe tanto que eu como não tenho o dom fácil da palavra, estou aqui sem saber o que dizer...

    O vídeo está lindo, e Traumas é uma música que também mexe comigo.
    Aliás qual música do Roberto não nos toca lá no fundo?

    Beijos mil,
    Carmen Augusta

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  2. Meu querido amigo!

    Gostei bastante do seu texto, onde conta dos Anjos de Roberto, que só mesmo els pra proteger o Rei de tantos perigos e sufocos enfrntados no decorrer de sua vida e de sua carreira artística.

    É como falaste no artigo, Roberto escreve e canta o que se passa em sua vida em todas as dimensões, seja de alegria, de tristeza, de amor, de sabores de espernça e de desinlusão. Sabemos que o Amor, a luz, a paz, a natureza, a preocupação com o ser humano e com o mundo em que vivemos ele coloca acima de todas as suas vontades, por isso o Rei durante esses 50 anos de carreira, tem seguidores de todas as idades, pois o que ele fala, e canta mexe com nossos corações, nos emocionando sempre em cada canção que ouvimos e pedimos por mais.

    O vídeo está um espetáculo, perfeito e a combinar com seu magnífico texto Armindo.

    Adorei e você merece sempre nota máxima meu lindo escritor.

    Beijos e abraços meu querido amigo!

    Mazé Silva

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