O inverno demográfico

DO TEXTO:


Por: Rosário Gamboa*

Até 2070, Portugal deverá perder 2,3 milhões de pessoas, o equivalente a mais de um quinto da população atual (Ageing Report 2018). A baixa natalidade é um fenómeno estrutural de décadas que perigosamente se vem agravando, como o expõe um estudo publicado, em 1 de setembro, no "Expresso": dos 308 concelhos portugueses "só em 32 ainda se nasce mais do que se morre" sendo que, em 2017, o número de conselhos com saldo positivo era o dobro.

Portugal é hoje um dos países mais envelhecidos do mundo, o que sinaliza o progresso alcançado na esperança de vida, mas faz tremer a sustentabilidade do Estado social e a afirmação do país pela sua renovação criadora.

O país precisa de gente e só há duas formas de o conseguir: incrementar os nascimentos e atrair pessoas, emigrantes ou imigrantes.

Vários estudos demonstram que os portugueses não têm mais filhos não porque não querem, mas porque não podem, i.e., por debilidade nas condições laborais (emprego, horários, salário) ou sociais (creches, infantários, habitação, transportes). Mais do que voluntarismos sinceros, são necessárias medidas integradas, a nível nacional e local, que configurem uma rede de suporte às famílias, bem como a coordenação de um conjunto amplo de atores que confiram sentido de comunidade à rede.

Mas o défice demográfico não se combate só pelo apoio à natalidade. Importa atrair gente. Investigações recentes apontam para a necessidade de cerca de 70 000 novos imigrantes/ano para a recuperação do tecido demográfico nacional.

Temos experiência de como os retornados, na década de 70, foram relevantes na revitalização económica e cultural do país. O seu regresso fez a diferença. Como o fez sempre o suporte dado às famílias e ao país com as suas economias. Os emigrantes venezuelanos são, seguramente, essa história no presente.

E há, ainda, a "geração mais bem preparada", o talento e o sangue novo que partiu e importa recuperar através de políticas bem dirigidas, em articulação com o tecido empresarial e societário.

*PROFESSORA COORDENADORA DO P. PORTO

In JN


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