CCB | Belém Cinema: EASY RIDER de Denis Hopper | 16/09 - 16h no Grande Auditório

DO TEXTO:

Easy Rider 1969 / 95 MINUTOS
Realizado por Dennis Hopper
Com Peter Fonda, Dennis Hopper, Jack Nicholson
O FILME SERÁ EXIBIDO NUMA VERSÃO DIGITAL RESTAURADA. 
UMA PARCERIA COM A MIDAS FILMES
CCB . 16 SET . 16H . GRANDE AUDITÓRIO

Mais do que um filme sobre jovens rebeldes, é sobre uma sensação que cada vez mais e mais de nós, jovens e velhos, estamos a ter. A sensação avassaladora de perda, a angústia de que alguma coisa correu mal. Demos cabo disto [‘We blew it’], mas como?
THE NEW YORK REVIEW OF BOOKS

Nos últimos anos de uma década que ficou marcada pelos grandes épicos de Hollywood, Easy Rider – um pequeno filme independente escrito, produzido e rodado de forma errante, com pouco mais de 350 mil dólares – veio abalar a indústria cinematográfica americana e a maneira como a América se olhava a si própria. É um dos filmes que marca o arranque da New Hollywood, a nova vaga americana que tomou de assalto a indústria cinematográfica nos anos 1970, quando uma nova geração de cineastas pareceu tomar o poder dentro da produção dos estúdios americanos, subalternizando a figura do produtor e impondo as suas novas regras.

Este memorável road-movie é a crónica do périplo de dois motards que atravessam o sul dos Estados Unidos de costa a costa, para concluírem um negócio de droga. A viagem pela paisagem física e social, pelos preconceitos e contraculturas efervescentes da América dos anos 60, é uma viagem de afirmação da liberdade, do direito à diferença e da busca infrutífera pelo sonho americano.

Por muitos considerado o filme certo na altura certa, Easy Rider é uma nostálgica despedida de uma geração que viveu a efervescência cultural e política dos anos 60, posicionando-se contra o establishment e que agora, no encerrar da década, via a sua força e os seus heróis a dissipar-se e os seus sonhos e esperanças defraudados. Até então, os filmes de Hollywood insistiam em retratar uma juventude conformista (e conformada) e estavam longe de refletir o pulsar e a irreverência da geração que passou uma década a afirmar os seus ideais de liberdade à margem do sistema. Por isso, as audiências jovens estavam a abandonar as salas de cinema. Por isso também, Easy Rider rapidamente se tornou num filme de culto, onde a juventude finalmente se revia.

A ideia original de Peter Fonda era a de produzir uma espécie de western moderno, em que dois jovens atravessavam a América à procura do afamado «sonho americano», numa experiência de liberdade total, e em que os cavalos eram substituídos por Harley-Davidsons (note-se o nome dos protagonistas – Billy e Wyatt – referência às duas maiores lendas do oeste americano: Billy the Kid e Wyatt Earp). Para concretizar a sua ideia, Fonda rodeou-se de dois bons amigos que, tal como ele, davam os primeiros passos na indústria cinematográfica e ambicionavam escrever, produzir e realizar filmes: Dennis Hopper, que assumiu a realização, e Jack Nicholson que, através dos seus contactos em Hollywood, conseguiu financiamento para o arranque do projeto.

Em fevereiro de 1968, a rodagem começava tendo como ponto de partida apenas uma ideia geral do argumento e o nome dos protagonistas. O espírito da rodagem era o espírito livre e psicadélico do filme: os trabalhos iam sendo improvisados, o argumento ia-se escrevendo, a equipa ia sendo composta por amigos ou hippies com quem se cruzavam no caminho, tudo com muito consumo de álcool e drogas à mistura. Em poucas semanas, esta rodagem guerrilla teve de ser substituída por uma forma de trabalho mais metódica, depois de várias crises e confrontos físicos entre a equipa técnica, tendo Fonda e Hopper decidido, por fim, contratar uma equipa profissional. Já depois da festa de fim de rodagem (e das motas usadas terem desaparecido), Fonda e Hopper aperceberam-se que a cena crucial – quando os protagonistas estão sentados à volta de uma fogueira e têm a conversa-chave do filme – tinha ficado por filmar. Foi necessário voltar a juntar a equipa e improvisar um local que se assemelhasse vagamente à Florida para filmar esta derradeira cena.

Outro aspeto marcante de Easy Rider é a banda sonora. Pela primeira vez na história do cinema, a banda sonora de um filme é inteiramente composta por músicas já existentes. Hopper queria que o filme fosse uma espécie de cápsula do tempo e isso só seria possível se as músicas do filme fossem exatamente as mesmas que se ouviam à época nas rádios. É assim que canções como The Pusher, Born to Be Wild e That’s all right, Ma, e músicos icónicos como os The Byrds, Jimi Hendrix, Joe Cocker e Bob Dylan, surgem na banda sonora.

No final, mais de 80 horas foram filmadas e o estilo da montagem final, que demorou quase um ano, vem completar todo o psicadelismo em torno do filme: jump cuts, saltos no tempo, flashbacks, flashforwards, planos tremidos e atabalhoados, uma narrativa fragmentada, muita improvisação.

O filme estreou em maio de 1969 no Festival de Cannes, onde Dennis Hopper venceu o prémio para Melhor Realização. A estreia nos Estados Unidos teve lugar logo em julho, à beira do festival de Woodstock, com uma surpreendente receção, tendo feito mais de 40 milhões de dólares de box-office só nos EUA.

Recebeu ainda duas nomeações para os Óscares: Melhor Argumento Original e Melhor Ator Secundário – Jack Nicholson –, também nomeado na mesma categoria nos Globos de Ouro e nos BAFTA.

Easy Rider lançou um novo período de prosperidade em Hollywood, em que filmes de autor e avant-garde de baixo orçamento se tornaram grandes sucessos de bilheteira. Este grande blockbuster da contracultura é, sem dúvida, um dos filmes que mudou a história do cinema.

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