'Estou aproveitando esse intercâmbio entre Brasil e Portugal', diz o diretor lusitano Hugo de Sousa, de 'Orgulho e paixão'

DO TEXTO:
"É um privilégio ter a experiência de dirigir novela aqui, principalmente, de época, um sonho meu", diz Hugo de Sousa Foto: Mauricio Fidalgo/rede globo/divulgação

Marcelle Carvalho
 
O intercâmbio entre portugueses e brasileiros, em novelas, não acontece apenas na frente das câmeras. Em "Orgulho e paixão", o sotaque lusitano vem do diretor Hugo de Sousa. Profissional premiado em Portugal, ele, aos 41 anos, atravessou o Atlântico para começar uma nova etapa em sua vida e carreira.

- Mudar de país e hábitos é sempre difícil. Mas me adaptei bem. E era agora ou nunca - afirma Hugo.

Como aconteceu sua vinda para fazer parte da equipe de diretores de "Orgulho e paixão"?
 
A vinda para o Brasil era algo que há muitos anos já se falava. Quando ganhei o primeiro Emmy (em 2010, pela novela "Meu amor"), tive o primeiro contato com a Globo. Mas estava bem trabalhando em Portugal. Por 18 anos, estive na principal emissora do país (TVI). Só que cheguei a um ponto que senti que precisava fazer uma mudança. Quando surgiu o convite da Globo, através do Fred Mayrink (diretor artístico), vi que tinha que ser agora. Para mim, é um privilégio ter a experiência de dirigir novela aqui, principalmente, de época, um sonho meu. Em Portugal, não se faz novelas de época por uma questão de dinheiro. Não há verba para produzir. Estou aproveitando a oportunidade de participar desse intercâmbio que está acontecendo em todos os níveis entre Portugal e Brasil, felizmente, finalmente.

Hugo dirige Anaju Dorigon e Christine Fernandes: bem a vontade 
 Foto: João Cotta/rede globo/divulgação

Como foi a tua chegada aos Estúdios Globo?
 
Fui recebido com naturalidade. Claro que havia quem estivesse um pouco mais curioso para saber como seria trabalhar com um diretor português. O que é normal. No mais, me receberam como a um outro colega.

Ao vir para o Brasil, você deixou de ser diretor geral, cargo que ocupava na emissora portuguesa. Difícil deixar de ser o comandante total?
 
Não ter a responsabilidade do todo, que fica a cargo do Fred Mayrink, me dá uma grande possibilidade de descansar (risos). É ótimo voltar as raízes e só dirigir os atores, pensar na construção da cena... Essa é a verdadeira essência do diretor, né? Em Portugal, fazia direção geral, de núcleo, não estava todo o dia no set. Outras coisas ocupavam o tempo. Por isso que é bom, após 10 anos nessa função, poder me dedicar só a direção pura e simples.

Hugo de Sousa se diverte com os atores em cena de 'Orgulho e paixão' 
 Foto: João Cotta/rede globo/divulgação

Existem diferenças entre dirigir novela portuguesa e brasileira?

A forma de fazer novela é exatamente a mesma. A grande diferença é a quantidade de dinheiro. A verba para se produzir uma novela no Brasil é muito superior a destinada para fazer uma trama em Portugal. Isso faz diferença. É possível fazer com mais qualidade aqui do que em Portugal. Mas a base é a mesma. Qualquer diretor português consegue dirigir no Brasil e vice-versa.

E o que acha da qualidade dos nossos autores?

Esse é um setor em que o Brasil está muito a frente, principalmente a Globo. As novelas são muito bem escritas. "Orgulho e paixão" é um belo exemplo. Claro que também há bons autores em Portugal, mas ainda falta qualquer coisinha para serem brilhante, o que acho que os autores brasileiros são.

Em oito meses de experiência no set brasileiro, o que você vem aprendendo?
 
O otimismo e o saber elogiar. É uma coisa que o português tem muita dificuldade. Dizer: "como você foi bem!", "como está bonito!" é muito importante, principalmente, nas áreas artísticas. O português tem muita dificuldade nos elogios.Essa aprendizagem, aos 41 anos, é uma perspectiva nova que me agrada muito. Não é uma coisa técnica, especifica da profissão, mas é extremamente importante para fazermos bem. O ator precisa se sentir confiante e, muitas vezes, somos nós diretores que passamos isso.

O time de diretores: Fred Mayrink (a esquerda) Alexandre Klemperer, Bia Coelho, Hugo de Souza e João Paulo Jabur Foto: João Cotta/rede globo/divulgação

Quem surpreendeu você no elenco?

Tem dois atores que se tornaram especiais por diferentes motivos. Um é Ary Fontoura (Barão Afrânio), que desde criança, via nas novelas. É um privilégio trabalhar com alguém assim, com talento e generosidade. Um excelente ser humano. A surpresa fica por conta de Vera Holtz (Ofélia). O rosto era familiar, mas não a conhecia. Sou apaixonado por ela, é uma mulher e uma atriz dificil de encontrar. Há outros, claro, mas esses dois vão ficar para sempre guardados na minha memória.

Por conta de seu trabalho aqui, há atores que já manifestaram vontade de trabalhar na dramaturgia portuguesa?

Não é só os atores, mas todo mundo quer saber mais sobre meu país. Isso vem dessa recente descoberta de Portugal pelo Brasil. Há muito brasileiro indo para Portugal. Não tem um único dia em que alguém elenco, equipe, amigos que vou fazendo não me pergunte sobre meu país, me falem sobre a possibilidade de fazer algo lá, mudar para lá, ir de férias, o que quer que seja. Existe uma curiosidade absurda pela minha terra, o que é divertido.

Há alguma possibilidade de você, agora, se estabelecer no Brasil?

Não consigo viver definitivamente no Brasil ou em qualaquer outro país. Sou apaixonado por Portugal, sou patriota de coração, e amo Lisboa. Minha vida vai ser sempre lá. Mas estou sempre aberto aos intercâmbios, não quero ficar fechado para o mundo. Muito cedo fui estudar na Inglaterra, vivi quase dois anos fora, mas sei que minha casa será sempre em Lisboa. O melhor dos mundos é podermos ter nossa base sólida na cidade onde nascemos e gostamos de viver, e depois ir andando por onde for interessante, for bom aprender e fazer algo de novo. O Brasil, Rio de Janeiro e a Globo, em particular, são sem dúvida um caminho que estou percorrendo e gostando muito. Não sei se vai continuar em seguida, mas quero sem dúvida que continue pontualmente durante minha vida.

E o que ainda há para você realizar?

A minha grande ambição profissional não passa pela TV. Sou um apaixonado pelo teatro musical. Meus primeiros passos na profissão foram no teatro, portanto, tenho uma fixação pelos palcos e musicais. Já dirigi em Portugal, mas é um mercado pequeno, dificil de subsistir. Já no Brasil, São Paulo é a quarta maior cidade do mundo com mais musicais. O potencial nessa area é muito interessante para mim. Não é uma coisa que quero fazer já, não tem que ser hoje ou ano que vem. Mas meu maior sonho profissional é dirigir musicais.

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