Inauguração do restaurante da família do craque português Cristiano Ronaldo em Gramado/RS/Brasil

DO TEXTO:
Painel de azulejos numa das paredes do Casa Aveiro by Dolores (Fotos: Fernanda Pugliero)

Fomos à inauguração do primeiro restaurante de CR7 no Brasil

Casa Aveiro by Dolores não fica no Rio, São Paulo ou no Nordeste brasileiro. O restaurante abriu portas na pequena (mas muito famosa) Gramado, no sul do país. Fomos conhecê-lo.


Fernanda Pugliero

Aquilo que pareciam ser toalhas de mesa brancas improvisadas como cortinas cobriram durante dois meses as portas de vidro que dão acesso à sede do primeiro negócio da família Aveiro no Brasil. O obstáculo não impediu milhares de fotos e selfies feitas por fãs e curiosos em frente ao local enquanto esteve em obras o prédio que agora abriga a recém-inaugurada Casa Aveiro by Dolores, o primeiro restaurante especializado em comida portuguesa na região da Serra Gaúcha, no Sul do Brasil.

Apesar de Katia Aveiro frisar que o negócio é da família e não do seu irmão mais novo, o empreendimento já é conhecido localmente como “o restaurante do Cristiano Ronaldo”. A atração principal do cardápio é o Bacalhau à Brás, prato preferido do futebolista desde criança. No restaurante da família, foi batizado de “Bacalhau CR7” e a porção para uma pessoa custa 209 reais – o equivalente a 45 euros ou 20% do salário mínimo brasileiro, que atualmente é de 954 reais (ou 207 euros).

Outras das especialidades portuguesas servidas são o Arroz de Polvo (43 euros), o Bacalhau com Natas (41 euros) e o Pica-Pau à Moda da Madeira (34 euros). O restaurante também oferece entradas e sobremesas típicas de Portugal, como bolinhos de bacalhau (2 euros a unidade), caldo verde (7 euros) e pastéis de nata com gelado (3 euros). A carta ainda apresenta uma seleção de massas, com destaque para a Carbonara à Moda da Katia, assinalada como o prato preferido de Cristiano Ronaldo preparado pela irmã e que custa o equivalente a 30 euros.



Casa tem carta de vinho focada em rótulos de Portugal

Também possui uma extensa carta de vinhos, com destaque para os portugueses, apesar de oferecer rótulos internacionais e brasileiros, uma vez que a região Sul do Brasil é grande produtora de vinhos. “Os ingredientes utilizados nas receitas são todos portugueses e na sua grande maioria vêm diretamente de Portugal”, aponta Ludgero Sousa, empresário representante dos negócios da família.
 

O restaurante da família de Cristiano Ronaldo em Gramado, no Brasil


O cardápio foi desenvolvido por Dolores, que trabalhou como cozinheira durante a infância de Ronaldo, e Katia Aveiro – que, além de cantora, arrisca-se na cozinha – com a consultoria do chef Eduardo Natalício, que nasceu em Recife mas mudou-se para o Sul do Brasil em 2006, onde abriu uma dezena de estabelecimentos gastronómicos. “Desde criança eu mexia com peixe, isso é muito comum no Nordeste. Meu pai foi quem me ensinou a cozinhar e desfiar o bacalhau”, afirma.

Natalício é dono de uma rede que vai de botecos a champanharias e também assina o menu de outros estabelecimentos em Gramado, como o Rasen Platz, de culinária alemã, e o gastropub Boreal.

"O processo de concepção do cardápio foi todo feito pela Katia e pela Dolores. Teve uns quatro ou cinco pratos que foram criações minhas, mas 90% do cardápio é receita da família Aveiro, são pratos que eles comem no dia-a-dia deles lá em Portugal”, aponta Natalício.

Entre as criações abrasileiradas da gastronomia portuguesa estão o escondidinho de bacalhau, típico do nordeste brasileiro, feito com puré de aipim, bacalhau desfiado coberto com queijo, e o croquete de carne com chouriço. “Aí temos um pouco de Portugal misturado com o Brasil”, aponta. Ao todo, 18 pessoas trabalham na cozinha do estabelecimento que pretendem atender a um giro diário de cerca de 600 clientes.

Segundo Dolores Aveiro, que esteve na inauguração do restaurante acompanhada das filhas Kátia e Elma, o principal segredo da cozinha é fazer com amor. “Nunca tive empregada em casa, a empregada era eu. Trabalhei com hotelaria, era cozinheira”, relatou aos jornalistas brasileiros. Quando questionada sobre a possibilidade de CR7 visitar o empreendimento, foi categórica: “Ele gosta muito de praia e aqui é frio, mas é inevitável que ele venha em algum momento”.
Enquanto Katia já está em vias de fixar residência em Gramado (há boatos de que ela já tem, inclusive, um namorado brasileiro) para prosseguir com a expansão dos empreendimentos da família no Brasil, essa foi a segunda vez de Dolores na cidade. “Gosto muito de estar aqui, mas é uma viagem muito cansativa. São 11 horas de viagem, mas vale muito a pena. Sinto-me como se estivesse em casa”, destaca.

Na noite de inauguração, a casa recebeu mais de 200 pessoas, entre jornalistas e convidados. Até o governador do Estado do Rio Grande do Sul enviou uma carta justificando a ausência no evento, mas parabenizando pelo empreendimento. O prefeito da cidade e os investidores discursaram na abertura, reforçando a importância do restaurante para a cidade. O grupo musical brasileiro Alma Lusitana, que canta hits de fado, apresentou-se no evento.

Correria para abrir durante a alta temporada

 
A intenção era inaugurar o restaurante durante o jogo de Portugal contra o Irão, pois essa teoricamente seria a partida do Mundial na qual a seleção portuguesa tinha mais hipótese de vencer (o jogo acabou empatado em 1 a 1). O evento, entretanto, acabou adiado porque o restaurante não ficou pronto a tempo. “Foi pura coincidência inaugurar na época da Copa, mas a obra atrasou e tivemos problemas com as licenças”, justifica Ludgero. O assessor de imprensa do estabelecimento, Miron Neto, aponta que foi preciso acelerar a obra para garantir a estreia em dois meses. “É época de alta temporada (do turismo) por aqui e temos que aproveitar”, destaca.

Foi formalmente apresentado à imprensa e convidados na noite de 5 de julho, véspera da partida do Brasil contra a Bélgica, e com Portugal já eliminado do Mundial. A família, entretanto, preferiu não comentar o assunto, tampouco declarar qualquer coisa sobre a saída de Cristiano Ronaldo do Real Madrid (apesar disso, quando a mãe de CR7 foi abordada por um menino brasileiro trajando a camisola da equipa espanhola, não tardou em perguntar se ele trocaria por uma do Juventus caso Ronaldo também o fizesse). A abertura para o público ocorre no dia 9 de julho, ou seja, ainda a tempo de transmitir em um dos televisores instalados na casa as partidas finais do Mundial.

Alguns dos pratos servidos no Peixinhos da horta

Bacalhau de natas

Bolinho de bacalhau

Salada de bacalhau

O restaurante tem capacidade para receber 200 pessoas sentadas em um ambiente de três andares com 650 metros quadrados que se localiza na avenida principal da cidade, em prédio cedido por um dos parceiros do negócio, a Gramado Parks. A empresa é construtora de resorts na região e também dona do Snowland, um parque temático que reproduz pistas de esqui e neve artificial. A parceira do empreendimento é a Lugano, que fabrica chocolates. Foram eles que investiram no negócio. A família de CR7 é dona de apenas de 25% do empreendimento e empresta a imagem do futebolista ao restaurante.

A escolha por Gramado, de acordo com Ludgero, foi lógica: “É uma cidade que encantou a Kátia pela história, já que foi descoberta por portugueses. A Katia é cantora e já veio algumas vezes em digressão pelo Brasil. Foi assim que conheceu empresário e surgiu a possibilidade da parceria”. A primeira vez que a irmã de CR7 esteve em Gramado foi em novembro do ano passado. Desde então, adotou a cidade como segunda residência.

A pretensão da família é inaugurar outros 30 restaurantes semelhantes em outros locais do Brasil nos próximos 5 ou 6 anos. “Temos (outros negócios já) em perspetiva, apesar de ainda não ser nada concreto, e analisamos em propostas e possibilidades de outros negócios no Brasil”, confirma Ludgero. A expectativa é confirmada por Katia: “O objetivo também é expandir a marca da minha família, não só na área profissional, mas também na pessoal. Apesar de sermos uma família conhecida, somos normais”, alegou.

Gramado, uma cidade europeia

 
Gramado construiu fama no país inteiro por dois motivos principais: o chocolate e a neve. Há fábricas espalhadas pela cidade toda – e isso movimenta grande parte da economia local. Já a neve quase nunca aparece – mas nem por isso os turistas deixam de visitar a cidade o ano inteiro trajando botas, luvas e gorro, mesmo quando não faz tanto frio assim. Os termómetros podem até alcançar temperaturas negativas durante o inverno, mas isso não é comum. A fama, no entanto, construiu-se em cima disso.

A região era habitada por índios até quase o final do século XIX. Foram os descendentes de açorianos os primeiros brancos que se estabeleceram no local, mesmo que de forma passageira. Trabalhavam com transporte de gado e utilizavam os verdes gramados da região para o descanso dos animais no caminho até São Paulo – e dizem que é daí que veio a inspiração para o nome da cidade.

Os portugueses provavelmente sentiram-se em casa. Gramado tem clima frio e extremamente húmido, o que faz com que a temperatura não varie tanto entre o verão e o inverno. A média é de 16º. O excesso de verde e as hortênsias logo remetem aos Açores. Os acidentes geomorfológicos também. Gramado fica a 855 metros de altitude e é entrecortada por cascatas e lagos. No início do século XX, os primeiros descendentes de imigrantes alemães e italianos fixaram residência, iniciando o povoamento daquilo que se tornaria oficialmente uma cidade emancipada apenas no ano de 1954.

O turismo e lado B da cidade

 
A cidade vive basicamente do turismo. Apesar das duas dezenas de fábricas de chocolates, inúmeras malharias e mais de uma centena de indústrias no setor de móveis, 90% da receita provém da atividade turística. Anualmente, mais de 6 milhões de pessoas viajam para conhecer a “cidade da neve e do chocolate”, que tem uma população residente de apenas 35 mil habitantes e fica a pouco mais de 100 quilómetros (ou duas horas de autocarro) da capital do estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

A Gramado que os turistas conhecem, no entanto, não se parece muito com a cidade de verdade. Os prédios em estilo Enxaimel são uma constante nas avenidas e ruas centrais. Há atrações turísticas para todos os lados – desde edifícios que se parecem com palácios a teleféricos ou pedalinhos que colocam os visitantes em contacto com o verde da região. Mas basta andar alguns quilómetros em sentido oposto ao Centro para conferir que a população local vive de forma humilde e muitos habitam casas de madeira com pouco isolamento para enfrentar os dias mais frios.

Em contraste a isso, enfileiram-se centenas de casas de luxo e condomínios fechados, habitados sazonalmente por investidores locais e famílias ricas. É num desses condomínios que a família de Cristiano Ronaldo procura casa para viver quando desembarca no Brasil. Por enquanto, quando vêm à cidade, Kátia e Dolores hospedam-se em hotéis de luxo.  O craque, entretanto, ainda não conhece Gramado, apesar de já ter vindo ao Brasil.

Entre as principais atrações turísticas está ainda o Festival de Cinema, que ocorre sempre no inverno, é considerado um dos maiores da América Latina e poderia ser comparado a evento semelhante em Cannes. O festival existe desde 1992 e foi por causa dele que a cidade se tornou tão famosa.

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Mural de azulejos da família de Cristiano Ronaldo no restaurante (Foto: Divulgação)


Dolores (centro) e Kátia Aveiro (à direita), mãe e irmã de Cristiano Ronaldo, inauguram restaurante em Gramado (Foto: Rafael Cavalli/divulgação)

Decoração do restaurante de Cristiano Ronaldo. Foto: Anderson Hartmann/Gazeta do Povo.


Casa Aveiro by Dolores, restaurante da família de CR7 inaugura em Gramado


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