Pesquisa mostra que aprender segunda língua pode ajudar crianças com autismo

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São Paulo, 2 de maio de 2018 – O impacto do bilinguismo na cognição é um tema que está sempre em debate. Algumas pesquisas apontam que crianças bilingues neurotípicas, ou seja, que não apresentam nenhum transtorno ou atraso no seu desenvolvimento, apresentam um desempenho melhor nas tarefas que precisam das funções executivas quando comparadas às crianças que falam apenas uma língua. As funções executivas são habilidades que permitem controlar os pensamentos, emoções e ações diante de conflitos ou distrações.

Agora, pela primeira vez, um estudo feito no Canadá e publicado no jornal Child Development mostrou que o bilinguismo é capaz de aumentar a flexibilidade cognitiva em crianças dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Além disso, os pesquisadores quebraram a crença de que aprender uma segunda língua podia ser prejudicial para a criança dentro do TEA. Segundo Dra. Karina Weinmann, cofundadora da NeuroKinder e neuropediatra do Progene-USP, serviço voltado ao diagnóstico clínico e genético do autismo, o estudo avaliou o impacto do bilinguismo na flexibilidade cognitiva e na memória de trabalho.

“A flexibilidade cognitiva diz respeito à capacidade do cérebro de se adaptar, mudar de conduta, opinião e modo de agir de acordo com acontecimentos variáveis e inesperados. Já a segunda diz respeito ao armazenamento de informações para serem usadas posteriormente. Sabemos que ambas funções são comprometidas no autismo. O estudo mostrou que houve melhora na flexibilidade cognitiva e isso é muito positivo”, comenta Dra. Karina.

Na prática
Quanto a uma segunda língua, a neuropediatra afirma que há evidências crescentes de que o bilinguismo é um fator de proteção contra a demência e pode também agir em certas funções executivas em crianças com outros transtornos do desenvolvimento. Mas, a recomendação é ir com calma.

“Foi um estudo com um grupo pequeno, de 40 crianças e foi o primeiro. Além disso, os resultados estão ligados às atividades em laboratório e não às atividades do dia a dia. Inclusive, a equipe de pesquisadores anunciou que irá fazer um novo estudo de longo prazo, para acompanhar as crianças dentro do TEA bilíngues para medir os benefícios da segunda língua no dia a dia”, explica Dra. Karina.

Portanto, embora o resultado seja animador, não deve ser interpretado como definitivo, ou seja, os pais não precisam matricular a criança em uma escola bilingue amanhã. “Essa decisão precisa ser tomada em parceria com o médico e os terapeutas que acompanham a criança, avaliando se aprender uma segunda língua pode ser bom ou não para aquele caso, de forma individual”, afirma a especialista.

Diagnóstico e intervenção precoce ainda são o que mais importa De acordo com Dra. Karina, com base nos conhecimentos do TEA, hoje o que mais importa é diagnosticar e iniciar as terapias já bem consolidadas de forma precoce. “A estimulação precoce do cérebro é fundamental, pois leva a novas conexões entre os neurônios (neuroplasticidade) e isso é muito importante para as crianças dentro do espectro autista”.

As terapias são voltadas especialmente para melhorar a comunicação e a interação social e precisam ser feitas com regularidade para um bom resultado.

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