Odair José se entrega ao rock

DO TEXTO:
Odair José (Foto: Rama de Oliveira)
Por Alex Bessas

Aos 69 anos, Odair José se permite arriscar como quem começa seu caminhar na cena musical. Não fosse a trajetória de sucesso, hits conhecidos de norte a sul e quase 50 anos de carreira, a escolha por não se repetir e explorar novas sonoridades, talvez, não espantasse. No caso dele, essa guinada para a cena independente, que o afasta do título de “cantor da pílula”, foi uma questão de sobrevivência. Escolhas que fazem do Odair José um roqueiro, cronista social e crítico ferrenho do conservadorismo (“desde sempre”).

“Estou mais à vontade com o meu trabalho sendo independente”, assegura o cantor. Para ele, afinal, “o artista tem obrigação de não repetir fórmulas. Pois quem não sai da zona de conforto não faz arte e sim negócio, e sempre gostei de rock”, explica o músico, que canta novamente na cidade o seu 36º álbum, o elogiado “Gatos e Ratos”.

Mas a verdade é que a história de amor dele com a música nunca foi fácil: um dos autores mais censurados durante o período da Ditadura Militar, ele foi apresentado aos órgãos censores em 1972, quando gravou o sucesso “Eu Vou Tirar Você desse Lugar”. No mesmo ano, a canção “Um Dia Só (Pare de Tomar a Pílula)” foi proibida. Finalmente, em 1977, com a ópera-rock “O Filho de José e Maria”, o goiano tornou-se “maldito”.

E não parou. Voltou a cantar sobre temas que eram tabus de então, como a diversidade sexual e o divórcio, como em “Forma de Sentir” e “Agora Sou Livre” – ambas de 1978. Apesar dos esforços, ele acredita que sua relação com a música se tornou insossa e, por algum tempo, não criou conteúdo relevante. 

Virada da chave

O tempo serviu para que o goiano fizesse a autocrítica e decidisse voltar à música independente. A virada veio em 2014, com a gravação ao vivo de “O Filho de José e Maria”. Depois disso, Odair não parou mais. Em 2015, lançou “Dia 16” e, no ano seguinte, “Gatos e Ratos”. 

O trabalho, aliás, guarda semelhança narrativa com o disco de 1977: se no primeiro todas as músicas discorrem sobre a vida de um Cristo contemporâneo, neste as músicas trazem críticas que denotam um certo desânimo do artista com os rumos do Brasil. “Não consigo ser otimista a curto prazo... É o presente trazendo o futuro de volta ao passado!”, diz, citando trecho de uma das músicas do novo trabalho.

Juventude

De uns tempos para cá, o público que frequenta os shows de Odair se tornou mais diverso. A juventude descobriu sua música e está sempre presente em suas apresentações. 

“Olha, lá no início as minhas dificuldades com a censura eram justamente por acharem que o meu trabalho atingia os jovens e que eu era uma péssima influência... Então, minha música sempre teve essa coisa meio de gente cabeça”, examina ele, cruzando a saga do passado com a presença constante da juventude em suas mais recentes apresentações Brasil afora.

Com o show “Gatos e Ratos”, Odair não canta apenas suas mais recentes canções. “Estamos variando o repertório, procurando o melhor. O público tem muita gente que se identifica com o que estou fazendo, o que é bom... Mas também temos o pessoal de mais tempo, o que é sempre muito especial”, expõe o goiano. Por isso, pode-se esperar sucessos do artista desde a “época da pílula”.

Enquanto circula o país, Odair se prepara para lançar um projeto. “O meu novo álbum deve sair no final deste ano”, diz ele, mencionando que o CD vai se chamar “Hibernar Na Casa das Moças Ouvindo Rádio”. A ideia, é fechar uma trilogia iniciada com “Dia 16”.


Nota da Redação do Portal Splish Splash: Odair José realizou um show em fevereiro de 2006 na cidade de Tianguá, Ceará. Na oportunidade, recebeu o jornalista e blogueiro Derbson Frota em seu hotel:
Derbson Frota e Odair José, na cidade de Tianguá (CE) em 2006
Nota da Redação do Portal Splish Splash 2: Em 1998, Odair José regravou a canção "Eu não presto, mas te amo", de composição de Roberto Carlos. 
Clique e ouça:

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