A arte abstrata não existe

DO TEXTO:

Por: Oscar D'Ambrosio*

Um dos grandes desafios da arte contemporânea é se libertar dos rótulos. Antes de se preocupar em pesquisar novas visualidades e técnicas, muitos jovens desejam se enquadrar dentro de alguma tendência, estilo ou nomenclatura como se fosse um bote salva-vidas para a construção de uma carreira plástica.

O termo arte abstrata, muitas vezes dividida em lírica e geométrica, é aplicado, na maior parte dos casos, para aquelas representações visuais que não apresentam, em diversos suportes, objetos visualmente reconhecíveis. Relações entre cores, linhas e superfícies bastar-se-iam em si mesmas na criação de objetos plásticos.

A questão a ser discutida é como mesmo a arte chamada abstrata comporta, de um modo ou de outro, uma figuração, já que parte, de um modo ou de outro, do mundo reconhecível e, em relação ao observador, sempre existem comentários que buscam relacionar aquilo que se vê em termos de resultado plástico com algo encontrável no mundo real, como um horizonte, um objeto, uma figura humana ou um animal.

Cabe ainda discutir como, sob a máscara do “não representacional”, alguns artistas escondem a falta de recurso técnico ou camuflam momentos de vazio criativo. O fato é que a arte, em seu sentido maiúsculo, não precisa estar numa prateleira de supermercado com uma etiqueta que facilite sua catalogação em museus, exposição em galerias de arte ou consumo por parte do público.

Ela se faz na prática cotidiana e no desenvolvimento de uma educação e um conhecimento visual que supera denominações simplistas e se concretiza no aprimoramento técnico constante. Nesse sentido, a arte abstrata não existe. É um conceito talvez tão abstrato e vago como o tipo de arte que ele deseja delimitar.

*Oscar D'Ambrosio, mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, é doutor em Educação, Arte e História da Cultura

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