Publicação mostra como os jovens das periferias estão buscando oportunidades de educação e trabalho

DO TEXTO:

Coletivos culturais têm grande potencial na economia criativa, mas os jovens demonstram preocupação com a rentabilidade da carreira a ser escolhida

O objetivo do estudo, publicado pela Fundação Itaú Social, é organizar recomendações para gestores e educadores sociais que estão à frente de ações para esse público

Quais são os caminhos que os jovens de periferias percorrem para ultrapassar obstáculos e construir pontes capazes de conectá-los àquilo que desejam? A publicação “Novos fluxos na busca por oportunidades: Trajetórias de jovens nas periferias da cidade”, de autoria da gestora de projetos socioculturais para juventudes da Fundação Itaú Social, Fernanda Zanelli, destaca que as soluções cotidianas desenvolvidas pelos jovens podem servir como inspiração ao poder público e às organizações da sociedade civil.

Da ocupação escolar ao fluxo do funk, importantes movimentos têm sido promovidos por jovens moradores de periferias, o que demonstra duas necessidades: ter espaços de socialização e lazer e produzir e divulgar produções culturais. Dessa forma, tratar de políticas públicas para a juventude passa por um olhar atento às suas necessidades, iniciativas e anseios, em meio à desigualdade social que enfrentam.

Segundo o estudo, a escola e as redes online são exemplos de espaços em que o jovem é convocado a fazer a travessia, construindo uma ponte entre o seu território e novos lugares a serem explorados na busca pela ampliação de oportunidades no campo da educação, mercado de trabalho e de sua própria identidade. Tem também a expectativa de participar politicamente das ações e decisões que o interessam e contar com a sua rede de amigos para identificar convites que valem a pena.

Alternativas

A pesquisa destaca que o fortalecimento de coletivos culturais nas periferias tem demonstrado um grande potencial na economia criativa, pois constrói oportunidades de negócio em áreas como cultura, design, moda e fotografia. A maior parte dos que trabalham em coletivos são jovens que apostam em uma nova forma de se relacionar com o trabalho e buscam alternativas em obter renda e desenvolver seus talentos artísticos.

Mesmo com a economia criativa crescendo em algumas periferias e com variedade de cursos oferecidos no ensino superior, a maior parte dos jovens pesquisados demonstra cuidado ao apostar em determinadas carreiras, consideradas pouco rentáveis. No levantamento, uma jovem interessada em ser fotógrafa disse que faria um curso de técnico em nutrição para se garantir financeiramente, já que sobreviver com fotografia seria muito difícil, segundo ela.

A procura por cursos de curta duração também foi um ponto de destaque na pesquisa. Aprender violão, teatro, artes, desenvolver projetos, ao mesmo tempo em que fazem bicos e frequentam o ensino médio é comum para muitos jovens. Isso não quer dizer que a participação deles é integral em cada uma dessas oportunidades, porém, acreditam que é melhor estar envolvido em tudo, a seu jeito, do que ter de escolher uma ou outra coisa.

Desafios

Aprender a utilizar a malha do transporte coletivo, para muitos jovens moradores da periferia, significa quebrar uma condição de confinamento. Porém, atravessar essa porta não é tão simples quanto parece.

Nos depoimentos de jovens, a cidade foi mencionada como um espaço a ser superado e não a ser vivido. Rompida a barreira do confinamento, paga-se um preço alto e diário: cerca de duas horas por deslocamento para qualquer destino da sua rotina – trabalho ou universidade. Isso pode representar quatro horas ou mais por dia.

A precariedade do transporte rouba o tempo precioso de quem já está em desvantagem quanto aos anos de estudo e formação complementar. Há ainda barreiras simbólicas, como preconceitos de diversas ordens.

Pesquisa

O roteiro da pesquisa enfatiza a diversidade das periferias de São Paulo e a influência do território para a juventude. Em seguida, traz exemplos de redes que levam os jovens para novas experiências, principalmente aquelas que se referem à educação. O estudo também enfoca os motivos que levam à não participação em oportunidades de desenvolvimento.

Além disso, a publicação destaca o papel dos mentores (professores, médicos, gestores) e a relação controversa com a família no período de difíceis decisões que a juventude traz. Por fim, a análise retrata momentos de travessia, como o encerramento do ensino médio, para o ingresso ao mercado de trabalho e à universidade.

De acordo com a pesquisa, os jovens podem encontrar respostas criativas para superar os desafios que aparecem em suas vidas, desde que possam contar com uma rede de apoio de pessoas e organizações (públicas e privadas) que estejam abertas para aprimorar práticas a partir do diálogo.

A análise utilizou entrevistas realizadas com grupos de jovens de 15 a 29 anos, moradores de bairros periféricos da capital paulista e de São Bernardo do Campo, região metropolitana. Ao material coletado no campo (escolas, bairros e intervenções culturais) foi acrescentado aprendizados de pesquisas de maior abrangência estatística e geográfica, além de registros compartilhados pelos jovens em redes sociais e canais digitais.

Leia a íntegra da pesquisa: http://bit.ly/2y0lmHn

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